Há três anos o Brasil começava a assistir – e vivenciar – o mais grave colapso no atendimento em hospitais das redes pública e privada de saúde por conta da pandemia da Covid-19. O primeiro caso confirmado de pessoa com o novo coronavírus no país ocorreu em 26 de fevereiro de 2020. Logo depois, em 11 de março daquele ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia. Três anos se passaram e hoje o Brasil contabiliza mais de 37 milhões de pessoas infectadas por Covid e quase 700 mil vidas perdidas pela doença.

Quase 1.500 desses óbitos ocorreram na cidade de Volta Redonda. A funcionária pública Juliana de Assis, de 46 anos, sentiu na pele o medo e a angústia diante da doença, que devastou milhares de famílias no mundo todo.

“Em abril de 2021 eu, minha mãe, irmão, cunhada e dois sobrinhos pegamos Covid. Meus sintomas foram muita tosse, desmaio por causa da pressão baixa e muita falta de ar. Precisei ser internada”, relembra Juliana que passou 23 dias no hospital sendo 15 no CTI (Centro de Terapia Intensiva).

“Passar por tudo isso não foi fácil, mas tentava manter sempre o pensamento positivo e não desistir de viver, lutar e ser forte até não ter mais forças”, cita a funcionária pública que ficou com uma fibrose pulmonar leve como sequela da doença.

“Nunca passou pela minha cabeça que essa seria nossa despedida

Apesar de difícil, a situação enfrentada por Juliana não chegou nem perto da dor que foi ver a mãe partir devido a complicações da Covid.

Juliana e a mãe

“Ainda lido com essa perda até hoje. É uma dor que não passa, não alivia, nós só nos acostumamos a viver com ela. Nós estávamos no mesmo CTI, só que ela infelizmente precisou ser entubada. Quando tive alta para o quarto, passei pelo seu leito para vê-la e conversei como se ela estivesse me ouvindo, fiquei um tempo segurando suas mãos, fazendo carinho no seu rosto e pedindo para ela ficar bem, que eu já estava indo para o quarto e que logo ela também iria”, lembra Juliana. “Nunca passou pela minha cabeça que essa seria nossa despedida, que seria a última vez que estaria com ela”, lamenta Juliana, contando que teve alta somente dois dias após a morte de sua mãe, o que a impossibilitou de comparecer ao enterro”.

A lição que ficou da experiência, segundo Juliana, é a de ‘nunca baixar a guarda para a saúde’. “Eu era uma pessoa completamente saudável, boa alimentação, atividade física, sem comorbidades, e, ainda assim, a Covid quase me matou. Meu comportamento depois de tudo isso foi me cuidar ainda mais, exercícios, vitaminas, acompanhamento médico, alimentação e vacinas em dia”.

Aniversário no hospital

Morador de Pinheiral, o auxiliar administrativo Leandro Novaes, de 42 anos, foi infectado pela primeira vez com Covid-19 em dezembro de 2020, tendo como primeiros sintomas a falta de paladar e olfato, arrepios e falta de ar. “Tomar banho era uma atividade quase impossível de se realizar. Fiquei internado por sete dias, inclusive passei meu aniversário de 40 anos em um hospital particular de Volta Redonda. Foi cogitado pelos médicos a intubação pois eu estava com muita falta de ar e um nível muito elevado de infecção. Graças a Deus e aos médicos, um medicamento foi usado e de grande eficácia no combate à essa terrível doença”, explica Leandro que, assim como Juliana, também carrega sequelas até hoje.

“Sinto muitas dores nas solas dos pés por conta da alteração da glicose durante minha internação. A maior lição que ficou para mim foi a valorização das pessoas que estão do seu lado para o der e vier e o reconhecimento dos profissionais de saúde que lutaram bravamente contra esse vírus”, relata o auxiliar administrativo que ainda faz uso de Carbamazepina para aliviar as dores nos nervos dos pés.

“Certamente, se não fosse a Covid viveríamos ainda muitos anos juntas”

Bacharel em Direito, Priscila Fontes, de 28 anos, também precisou lidar com a perda durante um dos anos mais difíceis enfrentados pela humanidade. “Difícil falar pois a minha mãe se foi em um momento da minha vida em que eu precisava muito dela. Em julho de 2021 ela contraiu a Covid-19 e eu, que estava morando em outra cidade e no oitavo mês de gestação, fiquei bastante preocupada e com muito medo de que o pior acontecesse, já que ela era imunossuprimida, o que significava que o risco de óbito era muito maior. Os 15 dias de internação – sete na enfermaria e oito entubada – foram muito difíceis, principalmente os últimos, pois a partir da intubação, não tivemos mais contato algum”.

A jovem ainda lembra da última conversa com a mãe, através de uma chamada de vídeo e feita com a ajuda de uma assistente social do hospital.

“Depois do seu falecimento, no dia 24 de julho de 2021, o momento mais difícil que enfrentei foi quando meu filho nasceu. Ela quem iria cuidar de mim e dele nos seus primeiros dias de vida. Arrumar as roupinhas dele sem a ajuda dela, aprender a amamentar e prover todos os cuidados de que um recém-nascido necessita sem a orientação e conselhos de minha mãe foi algo muito difícil para mim. Hoje, há quase dois anos da sua partida, ainda sinto muito! Não há um dia que eu não pense nela. Acredito que, certamente, se não fosse a Covid viveríamos ainda muitos anos juntas. Fica a saudade, a gratidão pelos anos vividos e as lembranças”.

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