Enquanto a prefeitura de Volta Redonda direciona milhões de reais para obras como a construção do Clube Hípico na Ilha São João, estimada em R$ 14,5 milhões, outras áreas da cidade enfrentam abandono e negligência. Um exemplo alarmante é o Cemitério Municipal Bom Jardim Isidório Ribeiro, mais conhecido como Cemitério do Retiro, que apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
Durante vistoria realizada na última semana, a perita judicial Gisele Penido, especializada em áreas contaminadas e com vasta experiência em projetos ambientais, avaliou o local e destacou uma série de problemas graves.
“A situação mostra claramente os riscos a que estamos expostos por causa desse problema ambiental. É preocupante, é inaceitável! Não podemos fechar os olhos para isso. Nosso meio ambiente e nossa saúde merecem atenção e cuidado imediato”, afirmou Gisele em vídeo divulgado nas redes sociais pela empresa Eckoslife Soluções Ambientais.
Entre os principais problemas apontados estão sepulturas abertas e a presença de vegetação contaminante, consequência do crescimento de plantas em solo fertilizado por necrochorume – líquido altamente tóxico resultante da decomposição dos corpos. Esse material apresenta riscos invisíveis à saúde, como hepatite, cólera, leptospirose, infecções gastrointestinais e dermatites.
“Em outra ala periciada, há um abandono total, com risco grave de queda e até vegetação nascendo dentro das gavetas”, descreveu a perita. O impacto ambiental do cemitério é ainda mais preocupante quando se considera a proliferação de patógenos e substâncias tóxicas do necrochorume, que pode infiltrar-se no solo e atingir os lençóis freáticos. O líquido, composto por cadaverina e putrescina, é extremamente perigoso, podendo causar doenças graves e até câncer em caso de ingestão ou contato com água contaminada.
“Se alguém estiver usando poço clandestino para abastecimento de água, essas famílias correm sérios riscos à saúde”, alertou Gisele. Ela também destacou o risco de proliferação de vetores de doenças, como o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, devido ao acúmulo de água nos vasos de flores e túmulos mal conservados.
Descaso da gestão pública
A situação do Cemitério do Retiro não é nova. Gisele já havia visitado o local no ano passado e constatado que os problemas permanecem sem solução, reforçando o descaso da administração municipal.
“Um ano e nada mudou. Na verdade, piorou. Isso mostra que a gestão pública não se importa muito”, criticou. A especialista também pediu intervenção urgente do Ministério Público para obrigar a Prefeitura a adotar medidas necessárias, como a remediação da área contaminada e o tratamento adequado do necrochorume. “Quando a família não tem condição financeira de manter as sepulturas, a Prefeitura ou o estado precisa intervir”, enfatizou.
Pressão social
A população de Volta Redonda tem demonstrado indignação com o abandono do Cemitério do Retiro. Nas redes sociais, moradores criticam a situação e os riscos que o local representa. Além de comprometer a saúde pública, o descaso desrespeita a memória dos entes queridos ali sepultados.
Comentários como “Precisamos ter dignidade na morte também. Absurdo esse abandono” e “Há dinheiro para obras que interessam aos governantes, mas para o cemitério, é só descaso e perigo de doenças” mostram o descontentamento geral.
A contaminação da água é outra preocupação recorrente. “Caramba, o necrochorume pode penetrar no solo e atingir alguma fonte de água. Isso é muito perigoso para a população”, desabafou um internauta.
Com mais de 17,6 mil jazigos, entre túmulos e gavetas, incluindo concessões para famílias e sepulturas rotativas, o Cemitério do Retiro foi inaugurado no final de 1955 pelo então prefeito Sávio de Almeida Gama. O espaço, com cerca de nove hectares, abriga os restos mortais de três ex-chefes do Poder Executivo de Volta Redonda: Francisco Torres, Nelson Gonçalves e Juarez Antunes.
Sem resposta
A reportagem da Folha do Aço entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Volta Redonda para questionar as providências em relação aos problemas no Cemitério Municipal Bom Jardim Isidório Ribeiro. Até o fechamento desta edição, porém, não houve resposta.
O cemitério do Retiro está nessa situação degradante a muitos anos, não é de agora e parece que o Prefeito Neto não fará nada para melhorar.