Nas últimas duas semanas, o Brasil conviveu com um clima de tensão e expectativa a respeito do dia 7 de setembro. Esta data, que antes significava a luta de um povo pelo ideal republicano, ganhou contornos autoritários por conta de bravatas por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que cada vez mais acuado e com a popularidade em queda, tenta aquecer sua base de apoiadores fiéis.

O presidente convocou seus eleitores a irem às ruas no Dia da Independência. Na pauta, estavam causas pouco produtivas para o cotidiano da nação, como, por exemplo, a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), tendo Alexandre de Moraes como principal alvo, e a adoção do voto impresso, sistema já derrotado em votação na Câmara Federal. Tudo isso, disfarçado sob o véu da defesa da democracia.

Em grandes capitais, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, milhares de apoiadores se reuniram para demonstrar sua satisfação com o comando de Bolsonaro. Na região Sul Fluminense, moradores de Volta Redonda, Barra Mansa e Resende organizam atos a favor do presidente. Em Resende, cidade em que Bolsonaro morou e conserva certa popularidade, um grupo de pouco mais de 500 pessoas se concentrou nas proximidades do Parque das Águas, no bairro Jardim Jalisco. 

O grupo caminhou até a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde o presidente formou-se oficial em 1977. Para manter a ordem da manifestação, policiais militares do 37º Batalhão de Polícia Militar e agentes da Guarda Municipal de Resende, acompanharam os manifestantes durante todo o percurso.

Em Barra Mansa, aproximadamente 200 pessoas, concentradas na Praça da Matriz, no Centro, mostraram seu apoio às pautas do Poder Executivo Federal. Vestidos com as já tradicionais camisas verdes e amarelas, os manifestantes cantaram o hino nacional e gritaram palavras de ordem. Nas mãos, cartazes com frases como “liberdade não se ganha, se toma” e “em defesa da democracia”, davam o tom do ato. Segundo uma das organizadoras, o protesto foi organizado em cima da hora, já que o movimento “Vem para Direita” de Barra Mansa havia decidido fazer uma caravana para a Avenida Paulista, em São Paulo.

Volta Redonda, que durante décadas foi área de Segurança Nacional, por sua vez, teve o maior ato da região. Organizada pelo “Vem para Direita”, a manifestação reuniu cerca de 550 pessoas na Praça Brasil, na Vila Santa Cecília, segundo estimativas da Guarda Municipal. Entre cartazes contra o STF e gritos de “nossa bandeira jamais será vermelha”, o ato ignorou as cicatrizes deixadas pela ditadura militar na Cidade do Aço.

Para quem não lembra, Volta Redonda foi berço da indústria siderúrgica brasileira, que nasceu na década de 1940, com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Devido a sua importância para o país, diariamente a cidade foi vigiada durante a ditadura militar, com o intuito de restringir greves e sufocar qualquer tipo de reivindicação dos metalúrgicos.

Na maior destas greves, em novembro de 1988, Carlos Augusto Barroso, de 19 anos, Walmir Freitas Monteiro, de 27, e William Fernandes Leite, 22, foram mortos por militares que tentavam entrar na Usina Presidente Vargas para dispersar o movimento. Barroso morreu de traumatismo craniano como resultado de uma coronhada que levou enquanto estava caído no chão. Já Walmir e William foram baleados.

Além dos mortos, cerca de 100 feridos completaram o saldo da ação militar contra os grevistas. Em homenagem aos mortos e feridos, foi inaugurado em 1º de maio de 1989, o Memorial 9 de Novembro, projetado por Oscar Niemeyer e instalado na Praça Juarez Antunes, em frente a passagem superior da Usina Presidente Vargas. O monumento foi implodido no dia seguinte por criminosos de extrema-direita ligados ao Exército, conforme documentos da Comissão da Verdade. A pedido de Niemeyer, o monumento não foi restaurado e permanece até hoje com as marcas da explosão.

Repercussão

Para congressistas, os atos convocados por Bolsonaro expuseram mais uma vez a fragilidade do presidente que, atualmente, conta com uma popularidade em queda, em meio a uma escalada da inflação, do preço dos combustíveis, da energia elétrica e com riscos de racionamento por conta da pior crise hídrica nos últimos 90 anos. Segundo analistas políticos, os discursos inflamados, dados tanto em Brasília como em São Paulo, mostram o presidente contra a parede.

Os partidos de centro-esquerda, de acordo suas lideranças, sinalizam engrossar o coro da oposição na busca pelo impeachment, por conta das falas e da possibilidade de crime de responsabilidade.

Ameaças

Em Brasília e São Paulo, onde participou de atos a favor de seu governo, Jair Bolsonaro fez duras ameaças ao STF, escalando a crise institucional a patamares ainda maiores. Ainda na parte da manhã, na capital federal, o presidente afirmou que participaria na quarta-feira (dia 8), de uma reunião do Conselho da República, órgão que tem a função de se pronunciar sobre estado de sítio, estado de defesa, intervenção federal e questões relativas à estabilidade das instituições.

Os presidentes do STF, Luiz Fux, da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, desmentiram Bolsonaro e disseram não haver previsão para tal encontro acontecer. Pacheco foi além e cancelou as sessões de quinta e sexta-feira (dias 9 e 10) no Senado, onde projetos importantes para o governo federal aguardam análise. Interlocutores do presidente do Senado afirmam que a medida visa dar uma resposta ao presidente da República.

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