“Se você tem coração, melhor não olhar”: crime com cavalo mutilado em Bananal provoca revolta nacional

Um episódio de extrema crueldade contra um animal ocorrido no último sábado (16), em Bananal (SP), município que faz divisa com Barra Mansa e Rio Claro, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, chocou o Brasil e ganhou ampla repercussão nas redes sociais e em veículos de comunicação. Um cavalo teve as patas decepadas pelo próprio tutor após participar de uma cavalgada de 14 km. Exausto, o animal parou e caiu.

Nesse momento, o dono reagiu de forma brutal, dizendo a um colega que o acompanhava em outro cavalo: “Se você tem coração, melhor não olhar”. Em seguida, o rapaz tirou um facão da cintura e cortou as patas do animal, que não resistiu e morreu no local.

Imagens do crime rapidamente circularam nas redes sociais, provocando indignação e pedidos de justiça. A repercussão ganhou ainda mais força com publicações de celebridades como a cantora Ana Castela, a ativista Luísa Mell e a atriz Paolla Oliveira, todas cobrando punição ao responsável.

Liberado, mesmo após confessar

Andrey Guilherme Nogueira de Queiroz, de 21 anos, confessou em depoimento à Polícia Civil a mutilação, mas alegou que o cavalo já estava morto quando as patas foram decepadas. Em entrevista à TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, afirmou estar arrependido, temer pela própria vida e insistiu: “Não sou um monstro”.

Ele admitiu ter ingerido álcool antes do ato e disse que a ação teria sido motivada pela dificuldade de remover o corpo do animal de uma ribanceira próxima, por ser área de difícil acesso. Após o depoimento, Andrey foi liberado.

De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), atos de abuso, ferimento e mutilação de animais têm pena prevista de até um ano de prisão.

Repercussão política e social

O prefeito de Bananal, William Landim (Republicanos), repudiou o crime e afirmou que a Prefeitura tomou medidas imediatas ao receber a denúncia, como encaminhar as imagens às autoridades competentes. Landim também criticou a atuação do Legislativo estadual.

“Muitos deputados só discursam e não ajudam a aprovar leis mais rígidas. A legislação é de 1998 e nunca foi atualizada de verdade”, afirmou Landim.

Em nota, a secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a Polícia Civil de Bananal segue investigando o caso. “Um homem e uma testemunha compareceram à delegacia na segunda-feira (dia 18) para prestar esclarecimentos. A autoridade policial e uma equipe de peritos do Instituto de Criminalística se dirigiram ao local para perícia. As diligências prosseguem visando o esclarecimento dos fatos e as devidas responsabilizações”, disse a SSP.

Impunidade e críticas de entidades de proteção animal

Para Igor Reis, vice-presidente da Sociedade Protetora dos Animais de Volta Redonda (SPA), casos de violência contra animais ainda são frequentes no Brasil devido à impunidade. “As autoridades políticas gostam muito de aparecer com bichos em época de eleição, mas no dia a dia não há ação concreta. Isso faz com que as pessoas acreditem que nada vai acontecer e cometam crimes com maior facilidade”, afirmou.

Reis criticou também a legislação: a lei ambiental prevê punições mais severas apenas para cães e gatos, enquanto outros animais recebem pena branda, de três meses a um ano de prisão. Segundo ele, é necessário que todas as espécies recebam tratamento igualitário na lei e que haja vontade política para fiscalização efetiva.

O vice-presidente da SPA citou ainda casos semelhantes já registrados na região, ressaltando que a violência contra animais é recorrente e muitas vezes permanece impune. Ele mencionou, por exemplo, um caso em que uma pitbull foi queimada viva, felizmente sem morte; outro em que um cachorro sofreu golpes de facão na cabeça; e um episódio no bairro Laranjal em que um cavalo foi encontrado em condições similares ao caso de Bananal, com as patas decepadas.

Igor Reis também criticou a falta de estrutura em órgãos públicos, como a Secretaria de Proteção e Defesa Animal de Volta Redonda, que não possui fiscais suficientes para aplicar medidas efetivas. Segundo ele, embora a secretaria tenha atribuições de fiscalização e autuação, a escassez de pessoal limita drasticamente a capacidade de agir, criando um ciclo de impunidade e descaso que favorece a repetição desses crimes.

Como denunciar

A população pode denunciar casos de maus-tratos a animais pelos seguintes canais:

– Polícia Militar: Central 190 (em casos de emergência)

– Disque Denúncia: 181 (alguns estados) – permite denúncias anônimas, inclusive de crimes ambientais

– Ibama – Linha Verde: 0800 61 8080 (crimes ambientais e maus-tratos a animais silvestres)

– Delegacias de Polícia Civil: registro de ocorrência de maus-tratos, previsto na Lei Federal nº 9.605/98

– Ministério Público Estadual ou Federal: encaminhamento de denúncias

– Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos: Disque 100 – recebe denúncias de maus-tratos e repassa aos órgãos competentes

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