Um ano após eleição, Mauro Campos analisa crise fiscal de VR e projeta futuro político

Exato um ano após estrear nas urnas como candidato a prefeito de Volta Redonda, o empresário Mauro Campos, 65 anos, parece disposto a seguir apostando suas fichas na carreira política. Na eleição passada, ele conquistou 13,54% dos votos válidos (20.386 votos), ficando em segundo lugar. Sobre o futuro político, Campos deixa claro que não descarta novas disputas: “Estou avaliando as disponibilidades de apoio do partido para as eleições de deputado estadual ou federal. Estamos abertos ao diálogo, agora e em 2028”, afirmou, em entrevista exclusiva à Folha do Aço.

Quanto à situação econômica atual do município, ele afirma que o rombo recente de R$ 38 milhões nas contas públicas tem seus culpados. “Existem alguns responsáveis por essa tragédia total em Volta Redonda. Primeiro, o povo, que elege seus representantes sem analisar cuidadosamente suas carreiras, passado e objetivos. Segundo, os formadores de opinião, que cuidam prioritariamente de seus interesses”, disse.               

Sem meias palavras, o empresário não poupa críticas à administração do prefeito Neto (PP): “Ele nunca foi de diálogo, sempre imperativo, e não aceita discordância. Assim, a administração fica sem novos conceitos e sem dinamismo”. Confira, a seguir, a entrevista na íntegra.

Folha do Aço: VR fechou o mês de setembro com um rombo de R$ 38 milhões nas contas públicas, segundo dados oficiais. A cidade enfrenta atrasos em obras e um visível descontrole nas finanças. Na sua avaliação, de quem é a responsabilidade por esse colapso fiscal e o que está por trás dessa crise?

Mauro Campos – Existem alguns responsáveis por essa tragédia total em Volta Redonda. Primeiro, o povo, que elege seus representantes e governantes sem analisar cuidadosamente suas carreiras, passado e objetivos. Elegeram uma pessoa totalmente desmotivada, sem entusiasmo algum e que somente busca o poder a qualquer custo. Segundo, os formadores de opinião, que em sua maioria não têm comprometimento com o “melhor” na administração da cidade. Cuidam prioritariamente de seus “legítimos” interesses e medos. Terceiro, a Câmara dos Vereadores, que aprova as contas do prefeito mesmo quando reprovadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), dando ao prefeito a sensação de que nada o atinge em termos de responsabilidade fiscal. Não há fiscalização por parte dos parceiros; gasta-se como, onde e quanto quiser, sem o menor pudor. Quarto, o aumento indiscriminado das despesas com RPAs e a criação de cargos às centenas, deixando injustiçados aqueles que realmente “carregam o piano”. E, por último, a total falta de competência e responsabilidade com o erário público faz com que obras nunca acabem, com aditivos múltiplos de preço e prazo, valores discutíveis e sem os projetos e planejamentos necessários.

O prefeito Neto tem citado, em entrevistas, o nome do senhor, em tom de críticas. O senhor se considera realmente um inimigo político do prefeito ou isso é uma tentativa de transferir responsabilidades?

Primeiramente, eu não sou inimigo político do prefeito. Sou amigo da cidade e pude provar isso durante nossa campanha, no ano passado. Tenho dito há vários anos que o atual prefeito é o motivo do atraso econômico e social de Volta Redonda. Ele não conhece nada do mundo, nem do Brasil. Suas referências são as pequenas cidades vizinhas e o resultado de muita mídia. Se ele tivesse humildade para aprender com quem realmente tem feito administrações eficazes para suas cidades, não transferiria a responsabilidade por seus fracassos administrativos. Assim, de mandato a mandato, Volta Redonda vai só afundando.

Recentemente, o governo municipal tentou reduzir os salários dos médicos da Atenção Básica, o que provocou protestos e desgaste com a categoria. Depois de forte pressão, o prefeito voltou atrás. Como o senhor avalia essa decisão e o modo como Neto vem conduzindo a política salarial e o diálogo com os servidores públicos?

É lastimável que Volta Redonda tenha chegado a esse ponto de descontrole, falta de administração, planejamento e visão de futuro. Nada funciona de maneira adequada se não houver capacidade de olhar para frente e estimar possíveis percalços. Os problemas normalmente começam pequenos e vão crescendo, e o verdadeiro e sério administrador vai corrigindo os rumos lentamente, cortando gastos supérfluos conforme o problema cresce. Agora, deixar a bomba explodir para pedir esmola à Câmara dos Vereadores ou cortar abruptamente salários é, no mínimo, irresponsável e desumano com mães e pais de família que assumiram compromissos baseados em seus rendimentos.

Além da crise financeira, a gestão tem acumulado conflitos políticos, como a recente bate-boca entre o prefeito e uma vereadora de oposição durante uma reunião no Palácio 17 de Julho. Para o senhor, Neto perdeu a capacidade de diálogo? O governo está isolado politicamente?

Na verdade, ele nunca foi de diálogo, sempre imperativo, e não aceita discordância. Por isso, seus governos têm sido cada um pior que o anterior: seus parceiros têm medo ou pavor dele. Assim, a administração fica sem novos conceitos e sem dinamismo. Alguém com pouquíssima cultura geral, vivendo em um ambiente blindado pelo medo, não muda, não evolui; pelo contrário, só regride. Isso é da natureza.

E a respeito da agressão à vereadora Gisele Klingler?

Quanto à agressão à vereadora, sinto-me envergonhado como cidadão de Volta Redonda e espero que a justiça cuide do caso com independência e imparcialidade, garantindo que a legislação municipal seja eficaz e aplicada. O funcionário público está sujeito a um regime disciplinar previsto em estatutos, como a Lei nº 8.112/90 para servidores federais, e legislações municipais equivalentes. A agressão é falta grave e pode levar a penalidades após um Processo Administrativo Disciplinar (PAD); suspensão: por ofensa moral ou física contra qualquer pessoa no recinto da repartição; demissão: se a agressão for grave ou motivada por razões relacionadas ao cargo/função, podendo comprometer a dignidade da função pública; responsabilidade Civil: O município pode ser responsabilizado a pagar indenização por danos morais ou materiais à vítima da agressão, já que o funcionário agiu no exercício da função ou em razão dela. Posteriormente, o município pode entrar com ação regressiva contra o funcionário agressor para reaver os valores pagos. Em resumo, o funcionário público que agride alguém dentro da Prefeitura pode ser preso (ou responder criminalmente), sofrer demissão ou suspensão e ser obrigado a indenizar o erário público caso este seja condenado.      

Há quem diga que o senhor vem se consolidando como uma das principais vozes de oposição em Volta Redonda. O senhor pretende disputar algum cargo eletivo em 2026 ou planeja tentar novamente a Prefeitura em 2028?

Ao contrário dos políticos profissionais, que vivem da política, eu ainda não me decidi quanto às eleições de 2026. Tenho uma forma diferente de fazer política. Recebi diversas propostas de apoio e filiações partidárias, mas estamos analisando internamente e pessoalmente qual será nosso destino no próximo ano. Continuo no partido NOVO, que me proporcionou disputar as eleições passadas, e estou avaliando as disponibilidades de apoio do partido para as eleições de deputado estadual ou federal. Estamos abertos ao diálogo, agora e em 2028.

Nos bastidores, comenta-se que parte do empresariado e até ex-aliados do prefeito têm buscado uma alternativa política ao atual governo. Existe um movimento organizado nesse sentido? O senhor faz parte dele?

Falar do empresariado é muito difícil, pois existem muitos empreendedores que, na grande maioria, não estão ligados às instituições representativas. Alguns jogam conforme seus próprios interesses. Tenho recebido inúmeros apoios para continuar buscando a salvação de Volta Redonda, seja por meio de deputados ou aguardando as eleições de 2028. Recebi mais de 20 mil votos na eleição para prefeito, sem ser conhecido na cidade como um todo, disputando contra candidatos ligados ao presidente da república (PT), ao vice-presidente da república, ao deputado Jari, ao vereador Raone (PSB), ao governador do Estado, Cláudio Castro, e vários deputados estaduais e federais. Obtive praticamente um em cada cinco votos do prefeito, além de ter mais votos que todos os candidatos que ficaram abaixo de mim, somados. Portanto, como ainda não me decidi, estou me preservando até a hora certa para me pronunciar.                                                                                                     

Diante do atual cenário, rombo orçamentário, insatisfação de servidores e desgaste político, o senhor acredita que o governo Neto tem condições de se reerguer até o fim do mandato?

Aprendi uma coisa na vida, com muita experiência: sem entusiasmo, não se vai a lugar algum. Assim, espero estar errado, mas não se chega a lugar algum quando se está no caminho errado; quanto mais se anda, mais longe se fica do destino. E quem não sabe para onde e como ir, não encontra caminho.                                                                                                               

E por fim, que tipo de gestão Volta Redonda precisa para retomar o equilíbrio financeiro, restaurar a confiança da população e voltar a crescer?

Antes das eleições do ano passado, visitei algumas cidades no Brasil, que já citei acima, e pude conhecer administrações fantásticas e eficazes, exemplos maravilhosos a serem seguidos. Mas, para isso, é preciso humildade e inteligência para caminhar rumo certo. Volta Redonda precisa de competência de verdade, transparência, diálogo franco e aberto. Também precisa de uma Câmara de Vereadores fiscalizadora e participativa na administração: não para fazer obras, mas para dar ideias, ajudar o prefeito a fiscalizar os serviços públicos, os desmandos, as omissões, a qualidade dos serviços e dos resultados para a população. É necessário um quadro de secretários e assessores comprometidos com o planejamento do governo e com o futuro da cidade, e não apenas interessados em ganhar a próxima eleição. Deve-se utilizar a qualificação dos servidores para ocupar cargos de decisão e aproximar a administração da população e da sociedade organizada. E, finalmente, gerar desenvolvimento econômico, ouvindo e incentivando os empreendedores e empresários, criando estruturas externas de busca de novas oportunidades para a cidade. Uma cidade como a nossa tem obrigação de ser economicamente autossuficiente.

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