Por Adelson Vidal Alves

Um Brasil dividido e raivosamente polarizado, com as instituições em descrédito, os partidos políticos desmoralizados e a população desconfiada da política. Foi nesse cenário que um populista do baixo clero parlamentar apareceu como alternativa messiânica nas eleições presidenciais de 2018, prometendo colocar o país em ordem usando de linha dura. O capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito presidente da República com 55% dos votos.

O êxito de Bolsonaro não se deu apenas por ignorância ou apoio plenamente consciente do povo às asneiras ditas diariamente pelo então candidato, não há no Brasil 57 milhões de imbecis, e nem todos que apertaram o 17 comungam com o fascismo professado pelo presidente eleito.

Desesperançados e com sentimentos de hostilidade a parte da esquerda e com suas impressões preconceituosas ampliadas pelo uso criminoso de fake news, setores da sociedade brasileira resolveram comprar o produto extremista formado nos guetos da estupidez política. É possível, e provável, que muitos destes brasileiros estejam arrependidos, é a estes que me dirijo nesta carta.

Corte nos recursos da Educação, deboche com a dor de pessoas que perderam entes queridos na ditadura; falsificação da história; ataques mentirosos a jornalistas perseguidos pela repressão; o uso ideológico e patético do MEC; a tentativa de emplacar seu filho como diplomata; o boicote às políticas ambientais, a intenção de agir religiosamente sobre o STF; a economia beirando à recessão; a minimização do problema da fome; tudo isso junto representa os desastrosos meses do novo governo.

Muita gente percebeu o erro que cometeu, e o Datafolha confirma isso em pesquisas recentes. Aos arrependidos, de todas as classes sociais, cabe a tarefa de refazer o caminho, integrando-se a alguma frente de resistência ao governo direitista. Nas redes sociais, partidos políticos, associações de bairro, diretórios estudantis, nas universidades, seja onde for, o importante é construir um amplo leque de alianças anti-Bolsonaro, com a intenção clara e pública de derrubar o governo.

Não vivemos tempos de normalidade democrática, o presidente age à luz do dia contra a democracia, alinhado com os novos governos autoritários que surgem na Europa e nos EUA. Se Bolsonaro atua para destruir a democracia brasileira e governar com recursos ditatoriais é legítimo que a população se levante para defender suas conquistas e liberdades.

Para isso, há a necessidade de que uma coalizão oposicionista plural e popular se erga com o objetivo de isolar e asfixiar o governo, a fim de que novas eleições restabeleçam a normalidade da democracia. Do contrário, é possível que conheçamos o mesmo destino de Hungria, Filipinas ou Venezuela.

* Adelson Vidal Alves é historiador

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