A recomendação para que os governos municipais antecipem a segunda dose da vacina AstraZeneca, passando de 12 para 8 semanas, dividiu a população. Alguns comemoram a possibilidade de completar o ciclo de imunização e outros desconfiam de uma possível diferença no percentual de eficácia. A discussão é técnica e tem sido esclarecida por especialistas. Para o pneumologista e professor do UniFoa Gilmar Zonzin, o ponto principal a ser discutido é a disponibilidade de vacinas no país para que as cidades possam dar esse passo.

“Essa é clássica situação que podemos usar a metáfora do cobertor curto. Se você puxa para cima, o pé fica descoberto. Se puxa para baixo, descobre a parte de cima. O ponto é que a gente tem uma disponibilidade limitada de vacinas, não temos uma situação privilegiada, de oferta de vacinas suficiente para as necessidades populacionais do país”, explicou.

Outro ponto levantado pelo pneumologista é que com a antecipação da segunda dose, aqueles que ainda não receberam a primeira podem ser prejudicados. “Quando você antecipa a segunda dose para várias pessoas, você está deixando de aplicar a primeira dose em um outro grupo, que teria a oportunidade de receber naquele intervalo de tempo. A gente tem bastante clareza de que uma dose é melhor do que nada, pois oferece um grau de proteção consistente. No momento atual, não temos disponibilidade para manter a primeira dose junto com a antecipação. Por isso, vejo que é uma situação de cobertor curto mesmo”, disse Zonzin.

Em nota, as sociedades Brasileira de Imunizações (SBIm) e de Pediatria (SBP) se posicionaram contra a medida em função do cenário de estoque limitado de doses, como é o caso do Brasil. “Nos colocamos contra a antecipação da segunda dose tanto para a vacina da Pfizer quanto para a da AstraZeneca. O nosso primeiro dever de casa deve ser ainda aquele de vacinar mais pessoas, aumentar a cobertura vacinal para pelo menos uma dose”, diz Isabella Ballalei, vice-presidente da SBIm.

Para Gilmar Zonzin, caso o cenário fosse de grande oferta de imunizantes para o país, a antecipação poderia surtir efeito positivo. “O que acontece é que a antecipação da segunda dose tem um racional positivo. Porque incrementa a proteção vacinal, vai aumentar a resistência, reduzir a possibilidade das pessoas adoecerem de forma mais significativa e aumentar a resistência contra desenvolver a doença e poder transmitir o vírus. Também iria ajudar a estimular uma imunidade mais robusta nas pessoas e com os receios que nós temos com as novas variantes, isso poderia repercutir positivamente nesses indivíduos, que vão estar devidamente imunizados com a segunda dose em tempo mais curto”, comentou.

Fiocruz defende a manutenção

A Fiocruz, fabricante no Brasil da Oxford AstraZeneca, defende a manutenção do intervalo de 12 semanas, apesar do surgimento das variantes. Estudos recentes mostram que AstraZeneca e Pfizer oferecem uma boa resposta imunológica contra a variante delta.Os pesquisadores dizem não haver motivos para antecipar a segunda dose ou qualquer outra mudança. É o que recomenda o Plano Nacional de Imunizações.

Uma pesquisa da Universidade Oxford divulgada no mês passado mostra que a vacina da AstraZeneca atingiu níveis ainda maiores de eficácia com um prazo entre as duas injeções não de oito nem de 12 semanas, mas de 45. De acordo com a bula do imunizante, o nível médio de eficácia da vacina é de 80% com um intervalo igual ou superior a 12 semanas, 72,3% num intervalo entre 9 e 11 semanas e 59,7% numa janela de 6 a 8 semanas.

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