No final da fria manhã de quarta-feira (dia 30), o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão, 66 anos, recebeu a Folha do Aço em sua casa, no município de Piraí. Vestido de conjunto de moletom preto e tênis, traje diferente do período em que comandou o Palácio Guanabara, foi a primeira vez, 567 dias após deixar a prisão, que Pezão concedeu entrevista a uma equipe de reportagem da região.

Em 45 minutos de entrevista, o político, que no mês passado foi condenado a 98 anos de prisão, por corrupção, falou sobre temas delicados. Entre eles, os seus problemas com a Justiça, o período de cárcere no Batalhão Especial Prisional (BEP) e a relação com Sérgio Cabral e o ex-presidente Lula. “Eu acho que cada um vai provar onde houve e se houveram esses excessos”, afirmou.

Na entrevista, Pezão analisou a administração do governador Cláudio Castro (PL), que considera positiva, e também a do governador cassado Wilson Witzel. “O grande erro é que eu acho que ele [Witzel] surfou na onda da antipolítica.

Sobre o Sul do Estado, Pezão aposta que o desenvolvimento passa pela área de logística. Um dos caminhos, segundo ele, é investir na construção do Aeroporto Regional, no bairro Roma, em Volta Redonda. “Se a gente tivesse um Aeroporto Regional, estaria bombando o transporte de cargas aqui”, disse.

Finalizando a entrevista, o ex-prefeito de Piraí expôs seu lado torcedor e comentou sobre a preocupação com o momento enfrentado por seu time, o Botafogo, na Série B do Brasileiro.

Folha do Aço: Como está a nova vida hoje?

Pezão: Minha vida é tentando me defender, fazer minha defesa, olhando sempre o processo, vendo os erros, discutindo com meus advogados. Vendo a melhor maneira de me defender. Eu tenho certeza de que a Justiça vai ser feita alguma hora em uma certa instância, mas que vai ser feito Justiça vai. Não há uma prova contra mim, eu já estou há sete anos sendo investigado, com todos os sigilos quebrados, meu, da minha esposa, dos meus filhos. Então, eu tenho muita tranquilidade de que na hora certa a justiça vai prevalecer.

Olhando hoje, tendo passado por tudo, o que faltou? Foi perseguição, inveja? Como você enxerga esse cenário olhando para trás?

Acho que era um momento de espetacularização dessas operações, o ex-governador Sérgio Cabral tinha sido preso, o ex-presidente Lula, presidente de poderes, presidente do Tribunal de Contas. Todas as pessoas que iam depor, que foram presas, elas vinham, me procuravam e afirmavam que todos eram questionados sobre a minha figura. ‘E o Pezão, e o Pezão e o Pezão?’. Eles achavam muito estranho não encontrarem nada. Todas as empresas, se você pegar a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia, JBS e o próprio marqueteiro do Sérgio [Cabral], eram unânimes em afirmar, têm depoimentos gravados e tudo, que o grande objetivo deles era a minha figura. Então, arranjaram um motivo muito torpe, muito estranho, inacreditável

E o que eles perguntavam?

Respondi 83 perguntas na minha prisão e nenhuma tinha o mínimo de veracidade. Foram pegar uma conta inativa minha de 1997, encerrada do BCN, para justificar que eu só movimentava dinheiro em espécie. Tinham R$ 10 nessa conta. O BCN nem existia em 2018, quando fui preso. Não tiveram o trabalho de procurar minha agência bancária, que era ali dentro do Palácio Guanabara, que é a minha única conta. Todo meu imposto de renda eu sempre publiquei no Diário Oficial do Estado, todos os anos.

Foi questionado sobre a compra de imóveis?

Afirmaram que eu comprei uma fazenda em Bom Jardim [na região Serrana do estado], lugar que fui cinco vezes na minha vida: três na época das enchentes, em 2011, e duas para campanha eleitoral e inauguração de obras. Então, esses foram os grandes motivos. Foram motivos mais fúteis, que não tem nenhuma prova, não tem nada. Provei e comprovei tudo, até a Net [operadora de canal a cabo] do Palácio era descontada da minha conta bancária, os meus saques de dinheiro que eu dava para a Maria Lúcia comprar a comida do Palácio naquela crise que o Estado vivia no momento. Tenho muita tranquilidade e acredito que a verdade vai prevalecer. Tenho muita fé em Deus. Cada vez está caindo por terra essas ilações que fizeram.

Você citou dois nomes que passaram pelos mesmos problemas: o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente Lula. Você acredita que a condenação deles também passa por essa espetacularização do judiciário?

Cada um está fazendo a sua defesa, tem seus problemas, sua história de vida. Eu acho que cada um vai provar onde houve e se houveram esses excessos. Eu estou me dedicando a provar fortemente onde estão os erros e falhas desse processo. Eu desmontei e entreguei, na minha defesa, uma perícia contábil desde quando fui prefeito em Piraí, em 1997, mostrando todas as minhas entradas, meus recursos, do que eu vivi, do que eu tenho, as certidões que eu tenho da Receita Federal, do Coaf. Tudo eu entreguei à Justiça.

Acredita que sofre perseguição do judiciário?

Infelizmente, o doutor [Marcelo] Bretas não leu minha defesa. Eu tenho certeza, ele não leu a minha defesa, ele não viu a minha defesa. Uma grande testemunha do Ministério Público, que foi um operador condenado do ex-governador Sérgio Cabral, fala que me entrega um dinheiro no meu apartamento, no Leblon. Me entrega R$ 150 mil no dia. O doutor. Bretas pede para dar mais detalhes, ele dá um detalhe de que abre o jornal no outro dia, e vê que o meu apartamento havia sido arrombado. O doutor Bretas perguntou a ele se eu tinha relatado se o dinheiro havia sido levado. Ele foge, insinua que pode ter sido levado e afirma que nunca mais tinha conversado comigo. Já é uma mentira, pois como ele pode me entregar dinheiro todo mês e eu não comentei do arrombamento com ele? Eu levo para o doutor Bretas, no primeiro depoimento, após mais de um ano preso, sem direito a nenhum esclarecimento, minha passagem de avião, meu passaporte e minha estadia em um hotel na Itália, justamente na ocasião que o operador afirmou que me entregou o dinheiro. Não tem nenhum desses fatos dentro da sentença dele, eu comprovei e ele não dá uma linha. O que adiantou eu comprovar? Eu tenho prova, agora, ele não tem prova de nenhum dinheiro, eu não tenho uma movimentação atípica na minha conta, não acharam um recurso na minha conta. Ele [juiz Marcelo Bretas] perguntou para mim: ‘Você não tem uma poupança privada, um plano de capitalização?’. Eu respondi: ‘Não tenho. Sempre recebi de uma fonte única, sempre só tive uma conta, que era a mesma de quando eu era prefeito de Piraí’. Não tenho um bem comprado. Desde 2007, quando entrei de vice-governador do Sérgio, eu não comprei um bem.

Mesmo com essa situação, o senhor continua acreditando numa sentença favorável em instâncias superiores?

Então, eu tenho certeza de que a Justiça vai prevalecer, pois se isso não prevalecer o que vai? A fala de quem está condenado a 200 anos? Tenho muita tranquilidade. Leio, vejo falhas e mostro o que ocorreu no meu julgamento. Tenho consciência da minha situação. As pessoas que estão ali acusadas junto comigo, eu sei como elas vivem. Então tenho consciência que não participei, não coordenei e não sou chefe de nenhuma organização criminosa.

Você acredita que pode ocorrer a revisão de penas desse processo? Não só a sua, mas também de outros condenados?

Já estão ocorrendo em instâncias superiores revisão de diversas sentenças que foram dadas. Diversos processos estão indo para a Justiça Eleitoral. Muitos procedimentos que foram tomados contra gestores municipais foram cancelados e mudados de instância. A Furna da Onça, por exemplo, foi toda cancelada e voltou para a Justiça Eleitoral. Então, não tenho dúvidas que houve falhas. No meu processo, provarei todas.

Dentro do período que ficou preso, como tratou isso internamente, até mesmo pelo ciclo de amizades que tinha? Ficou uma mágoa?

Eu não gosto de ficar olhando pelo retrovisor, eu olho para frente, eu tiro as lições que a vida dá. Dizem que Deus dá para gente o fardo que podemos carregar. Então, eu cheguei ali [no sistema prisional] e procurei a melhor forma de conviver. Fiz diversos amigos, fiquei amigo de diversos policiais, virei amigo das famílias que iam visitar. Você se adapta e tem que viver aquela vida, com todos os regulamentos militares, que eu nunca me indispus a obedecer. Muitas pessoas quando saem de lá, as famílias me procuram aqui, fiz amizades sabendo que era um momento difícil.

É verdade que aproveitou para estudar?

Estudei, me preparei. Até mesmo fiz o Enem lá dentro. Então, tenho muita tranquilidade, só ficava triste em ver o sofrimento da minha família. A Maria Lúcia tendo que descer toda quarta, sábado e domingo de Piraí para lá [Niterói] para me visitar. Meus filhos, meus netos. A gente tem casco grosso, enfrenta, mas também tem muita força de Deus para estudar minha defesa, para me dar força e convicção de afirmar as coisas. Então, não sou de ficar me lamentando. Toco a vida para frente.

Sobre o processo: como está sendo feita a sua defesa? Algum escritório grande foi contratado?

Meu advogado, graças a Deus, é um bom advogado, mas faz quase que pro bono, pois pago muito pouco para ele. Tive a grata alegria de estar no presídio e o José Eduardo Cardoso, ex-ministro da Justiça, procurar a Maria Lúcia e falar que quando o processo fosse para Brasília ele iria trabalhar gratuitamente para mim, pois conhecia meu caráter. Esse é o grande ativo que carrego na minha vida. Eu sempre vi a política não para me enriquecer, para ter bens, tanto que estão procurando até hoje e não acharam e não vão achar, mas carrego um ativo que sei que vale a pena, que é fazer amizades, deixar as portas abertas. Não me utilizei do poder para perseguir ninguém, humilhar as pessoas. Sempre procurei fazer o bem, desde a minha cidade até o governo do Estado. Vem gente aqui das comunidades, da Baixada Fluminense, toda semana vem pessoas desde as mais humildes até as mais importantes.

Vamos voltar um pouco à sua trajetória política. Começou como vereador, prefeito e depois protagonista como governador. Nessa experiência vivida, o que leva de aprendizado?

Eu acho que tive uma trajetória muito bonita, ando aqui na cidade de cabeça erguida e vejo o que a gente plantou, o que consegui fazer. Mesmo no governo do estado, eu sempre vinha para Piraí em todos os fins de semana. Sempre procurei fazer o bem para minha cidade. Hoje vejo Piraí, uma cidade que tem emprego nas indústrias que eu consegui trazer. Me orgulho quando eu ando na rua e chega um pai de família e fala: ‘Pezão, hoje eu tenho três filhos empregados nas empresas que você trouxe para Piraí. Tenho dois na Ambev e um na Carta Fabril’.

E como foi sua época como prefeito?

Eu peguei essa cidade [Piraí] com um orçamento de R$ 17 milhões, quando saí deixei um orçamento de R$ 95 milhões, depois de oito anos. Hoje eu vejo um faturamento de quase R$ 300 milhões por ano. Então, isso não tem preço. Deixei a cidade com cobertura de médico e dentista de família. 100%. Aonde você vai, seja no bairro mais distante, tem médico, tem escola de qualidade, internet nas escolas. Foram coisas que eu pude fazer, que não tem preço, nada vai apagar da minha memória e da população. As pessoas que conhecem a mim e a minha família, me respeitam. Claro que não tenho a utopia, depois de tudo que eu passei, de que as pessoas aceitem, tem muita gente que duvida, mas quem me conhece sabe como eu vivo, onde minha mãe mora, meu irmão. Então, eu tenho muita tranquilidade quanto a isso, nada é mais importante que a justiça divina, quem olha pela gente lá sabe como eu vivo, como lidei com o poder.

Qual a sua análise sobre o cenário do Estado do Rio de Janeiro?

Eu acho que o governador [Cláudio Castro] está indo bem. Eu vejo assim, eu lutei muito, lutei muito mesmo, não sei onde arranjei forças. Só Deus mesmo para fazer o Regime de Recuperação Fiscal do Estado. Eu estava muito doente na época, estava saindo do câncer, tinha 500 de minha taxa de glicose. Fui para dentro do Congresso Nacional, passei 31 semanas seguidas em Brasília. Conseguimos votar, criar uma lei. Não existia uma lei de recuperação dos Estados. Beneficiou muito o estado do Rio de Janeiro, agora aprimoraram essa lei. Muitos estados não conseguiram nem fazer a adesão à lei. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Sergipe, Goiás, todos os estados que ainda estão em crise não conseguiram fazer a adesão à Lei de Recuperação estadual. Só o Estado do Rio conseguiu fazer essa adesão. O governador atual deu continuidade.

E sobre o atual governador Cláudio Castro?

Tive a oportunidade de conversar com ele umas três vezes e falar do que eu via, como era o relacionamento com os técnicos do Ministério da Fazenda. Então, eu acho que ele [Cláudio Castro] está encontrando o caminho dele. Não foi fácil você substituir uma pessoa que foi cassada. Eu acho que ele vai ser um forte candidato. Ele tem todas as condições de ser um bom candidato e fazer pelo Estado. Agora, eu não estou assim dentro da temperatura política dos partidos, dos deputados. Eu não estou com o termômetro lá para saber, mas me parece de fora olhando a gestão, eu gosto muito de acompanhar os números até para ver como o Estado está se comportando com a recuperação fiscal, eu acho que ele está indo bem, se dependesse de mim, ele mereceria até mais um mandato para implementar e solidificar o plano de recuperação do estado do Rio de Janeiro.

Sobre a Cedae, acha que a venda foi correta?

As pessoas até falavam: ‘O Estado não quer vender, está atrasado’. A gente passou toda a modelagem para o BNDES. Quem fez todo o processo foi o BNDES. Então, se houve atraso, foi por causa do processo, que era um processo complicado. Para você ver, a nossa região aqui não conseguiu entrar no leilão, vai ser leiloada de novo. Até vi essa semana o governador falando que no final do ano ele vai lançar de novo [edital de leilão] dessa região. Entra Piraí, parte da Zona Oeste, Pinheiral, Rio Claro. Parece que têm mais 20 municípios, pelo sucesso que aconteceu no leilão, deles entrarem. Eu acho que foi uma boa modelagem, vamos ver se funciona. A gente torce muito.

Na época do senhor, como governador, como foi a administração da Cedae?

A Cedae cometeu um grande erro ao longo do tempo. Eu sempre falava, depois de ter recuperado a empresa, quando nós entramos, eu era presidente do conselho de administração, a Cedae dava R$ 300 milhões de prejuízo por ano. Quando eu saí, deixei a Cedae, no meu último ano, em 18, eu saí em novembro, ela deu R$ 1 bilhão e 200 milhões de lucro. Então, nós lutamos muito para recuperar a empresa. Mas eu sempre colocava para a Cedae, que ela era uma companhia de água e esgoto, e muita gente dentro da Cedae e só gostava de fazer a água que era onde ela recebia mais e esquecia o esgoto. Eu sabia que ia dar uma certa hora, ia ter um problema porque as pessoas vinham pressionar, principalmente os municípios que deram essa concessão a Cedae, iam pressionar para que fosse feito o esgoto. Foi o que ocorreu. É uma grande empresa que adquiriu os maiores contratos, já tem experiência na Região dos Lagos. Se eles fizerem o esgoto, fizeram o tratamento de esgoto, eu acho que vai ser interessante, vai gerar muito emprego, gerar renda, melhorar a vida dos municípios. Eu acredito que foi muito bem-sucedido porque R$ 22 bilhões por uma empresa foi mais do que o Galeão, que custou R$ 15 bilhões, que as pessoas achavam que tinha sido uma fortuna. Então, ela foi uma grande conquista para o governo do Estado.

E o ex-governador Wilson Witzel, onde foi o erro capital dele?

Eu tive três ou quatro encontros com o Witzel. O grande erro é que eu acho que ele surfou na onda da antipolítica. Aquele momento a gente via todo mundo negando a política. E quando você nega a política, você sempre enfrenta a crise. Não se nega a política, a política é feita por políticos, às pessoas, o eleitor é que tem que escolher os bons políticos. Você não pode negar a política. A pessoa que chega com muita bravata, que prende, que resolve, que eu não sei que, você só vai resolver as coisas com união, estendendo a mão, trazendo o Legislativo junto com você, trazendo os poderes conversando, mostrando as dificuldades. Então, eu sempre fiz as coisas através do diálogo. Para mim era muito difícil o meu relacionamento com ele, porque ele era muito senhor de si. Ele achava que resolvia tudo e a gente viu que isso não termina bem quando não está terminando bem também no Brasil. A situação está muito difícil pela falta desse diálogo, o país está muito dividido. O país precisa de mais diálogo e de conversa. Você conversar com as pessoas não quer dizer que você vai aderir às pessoas. Você dialogar, debater, é super necessário. Isso se faz através do diálogo e do debate. A gente precisa cada vez mais aprimorar a democracia.

Acredita que o ex-presidente Lula, que agora está autorizado a disputar eleição, é um nome para polarizar de fato com o atual presidente da República, Jair Bolsonaro?

Não tenho dúvida nenhuma, ele [Lula] vai ser um grande candidato. O presidente Lula, se ele mostrar o período que foi o governo dele, quando as pessoas trocavam de emprego três vezes num ano, tinham três carteiras de trabalho assinadas, era uma disputa pelo trabalhador. Então, as pessoas precisam disso, de emprego, de renda, de comida na mesa. E ele é um homem de diálogo. O presidente Lula ninguém pode questionar isso. O banqueiro ganha muito dinheiro no governo dele, mas o trabalhador ganha muito mais também. Teve muito emprego, hoje as empresas cresceram muito. Ninguém pode negar isso. Ele acha que o presidente Lula é um temor, que ele possa trazer algum abalo à democracia, é um erro. Ele foi uma pessoa respeitada no mundo inteiro. Agora, a eleição, cada mês no Brasil é um acontecimento. Você tem que esperar para ver lá no ano que vem 22 está muito longe ainda, mas ele será um forte candidato. O presidente Bolsonaro no auge dele lá com a facada que ele tomou, ganhou por 10% de diferença e num momento muito ruim para a oposição. Então, a eleição vai ser disputada. O presidente Lula tem trabalho, tem serviço prestado à nação, eu acho que é um forte candidato.

Como você enxerga o governo Bolsonaro?

Eu vejo a situação difícil para ele. O presidente Bolsonaro não tinha diálogo dentro do Congresso Nacional quando era deputado federal. Foi 20 anos deputado e apesar do esforço dele e tudo para se formar uma base de sustentação para ele, a gente está vendo que é difícil uma pessoa com as características dele que eu respeito, formar uma base de apoio. Então ele está tendo dificuldades e o país está muito parado. Nós estamos com o maior desemprego da história do país e isso não se apaga. Não tem jeito. Claro que nós estamos numa pandemia, num momento difícil, mas ele, eu acho que vai ter muita dificuldade na sua reeleição. A economia tinha que melhorar muito, tem que voltar muito forte, tem que jogar a obra dentro desse país, fazer obras. Não é fácil agora, faltando um ano para começar o processo eleitoral, você jogar a obra. A gente viu programas serem paralisados, que eu acho um erro. Foram programas muito fortes como o ‘Minha Casa, Minha Vida’, onde você tirava pessoas da miséria, botava a indústria da construção civil para funcionar, botava todos os materiais de construção, tudo para rodar, para ter dinheiro para o trabalhador trabalhar, o servente, o pedreiro, o pintor. Então, infelizmente, eu acho que o país deu uma errada no seu rumo.

Acredita na possibilidade de uma terceira via ou a disputa será polarizada?

Eu não estou assim dentro, mas eu acho difícil. Você não cria uma terceira via, o que pode ocorrer é um dos dois, tanto Lula como Bolsonaro, caírem e surgir um candidato. Mas eu acho que um dos dois vai estar no segundo turno. Ou os dois ou um dos dois vai estar no segundo turno. É difícil você criar uma liderança nacional.

Acompanhando a CPI, você acredita que vai dar em pizza?

Vão ter resoluções da CPI, não tem jeito. Porque ela é uma CPI diferente. Eles não estão apurando fatos passados, a ocorrência está aí, nós temos 500 mil mortos, tiveram erros na condução, nós somos o segundo país em mortes no mundo, não somos o segundo país em população, então houve erros na condução e vão ter que ser apurados os erros. Não tenho dúvida disso.

Você que teve Covid, como foi conviver com a doença?

Foi muito difícil. O câncer foi muito dolorido, sofri muito, mas a Covid não é fácil. Ela é uma doença nova, os médicos não estavam preparados na época, era um esforço muito grande, até hoje, até meu médico que cuida de mim do meu câncer, ele fala, esses dias ele foi no seminário, um médico famoso que se destacou muito até agora durante a pandemia. Ele falou que foi um grande seminário internacional de 60 perguntas, ele conseguiu responder 10 no meio de diversos médicos importantes do Brasil inteiro e até do mundo. Ele fala que é uma doença muito nova e que a gente vai ter muitos problemas ainda com ela. A minha vista mudou. Eu nunca tive problema de asma. Essas coisas, tenho dificuldade, meu pulmão ficou 75% comprometido. Então é muito difícil, ela teve outras intercorrências, outras comorbidades, que atacam muito. De uma hora para outra a gente é surpreendido com alguma coisa que é derivada da Covid.

Como é a sua relação atual com os políticos da região? Tem contato com alguém, é procurado?

Graças a Deus, toda semana recebo visitas de deputados que vêm do Rio, daqui da região e de prefeitos de diversas regiões do estado, de mais longe, do Norte, Noroeste do Estado. Sempre vêm me visitar diversos deputados federais e estaduais. Então, graças a Deus esse carinho sempre tem. A presidente Dilma sempre liga para mim, sempre conversa comigo, o ex-presidente Lula. Graças a Deus, eu tenho essas amizades e as pessoas ligam, me procuram, procuram saber como eu estou. Então isso conforta muito. Como eu falei, essas amizades não se apagam. Esse é o grande ativo que eu carrego pelo resto da minha vida.

O senhor falou que durante sua administração como prefeito de Piraí, conseguiu atrair grandes investimentos. Com toda essa vivência, acredita no crescimento, na evolução do crescimento industrial e econômico da nossa região?

Eu acredito, essa é a região que mais cresce. Se você for pegar uma das regiões que mais recolhe ICMS. É claro que a indústria automobilística precisa se adaptar. A gente já vê a Volks fazendo os ônibus e caminhões elétricos, vai ser o futuro. Acho que a região tem muito a crescer. Essa indústria cimenteira, a própria CSN, existem projetos para cá para trazer outras empresas de metalurgia. A gente tem que acreditar, eu acredito muito. Hoje tem muitas empresas, a gente tem uma vocação que nós estudamos na época, e está super atual agora. Eu quando construía galpões aqui, as pessoas achavam, ‘o Pezão’ está maluco. Tanta coisa para fazer e está construindo galpões. Aqui é uma região que tem uma vocação logística extraordinária. Nós estamos a 80 km do Rio, 300 km de São Paulo e 400 km de Belo Horizonte. Hoje, os grandes armazéns estão se instalando nessas regiões aqui. Então a gente tinha que preparar terrenos, toda a indústria, de internet e de vendas online, está procurando armazéns para se instalar. Você vê, nós fizemos isso no planejamento estratégico e descobrimos essa vocação da cidade. Se Piraí tem mais dez galpões hoje, todos que eu fiz, estão ocupados por empresas de logística. Se tem mais dez, estavam os dez ocupados aqui. Então acho que tem um potencial imenso aqui para região para explorar essa vocação de estar perto dos grandes mercados consumidores.

Então você acha que o futuro do sul do Estado é o setor de logística?

Eu acho. Acho que a gente tinha que voltar a lutar pelo aeroporto regional. Se a gente tivesse um aeroporto regional, estaria bombando o transporte de cargas aqui. Imagina ter um aeroporto aqui que atendesse a Baixada Fluminense, atendesse Angra, atendesse a indústria petrolífera que está ali entre São Paulo e Rio de Janeiro, que vai explodir aquela área ali de São Sebastião, na divisa com Paraty e Angra dos Reis, vai ser a indústria do gás. A maior bacia petrolífera está aqui de baixo. Se você olhar ali para baixo do Roma, ali está Angra ali embaixo. No helicóptero levanta daqui e já está lá e lá não tem um espaço para isso aqui. Dá para ter um aeroporto regional, eu acho que a gente tinha que voltar a pensar nisso fortemente.

O que faltou ao Pezão, ou até mesmo ao ex-governador Sérgio Cabral, aquele projeto que olha e fala “gostaria de ter feito e não fiz” no Sul do Estado?

Eu desapropriei a área e queria ter deixado pronto o Aeroporto Regional de Volta Redonda e Piraí. Eu tenho certeza que agora a gente estaria colhendo os frutos que eu estou falando da logística. São Paulo está fazendo aeroporto agora com a iniciativa privada só no entorno de São Paulo para jatos executivos e tudo. Se o Rio tem isso, se essa região tem isso, a gente ganharia ali do cara pegar o helicóptero e estar descendo. Eu lutei muito, lutei demais para fazer. Desapropriei a área e acho que a região toda Barra Mansa, Volta Redonda, Resende, toda a gente tinha que lutar para ter esse aeroporto regional e também, que parece que está agora na concessão, que foi uma coisa que eu lutei desde quando eu era prefeito em 97, que era a pista de descida da Serra das Araras. Não dá mais para conviver com isso. Uma viagem entre Rio e São Paulo, fica em sete horas de viagem porque a Serra das Araras vive fechada. Mas agora tá na licitação para o primeiro trimestre de 22, a pista da Serra das Araras.

Mas agora, acredita que sairá do papel?

Sai, pois está na concessão. Ela não estava antes. Ela está e tem que sair, não tem jeito. Porque ela está na concessão. Ela não estava antes. Ela está aí tem que sair.


Você tem contato com o prefeito de Volta Redonda, Neto? E acredita que o município poderia ter evoluído mais no cenário estadual e até mesmo nacional?

Acho que Volta Redonda está no cenário em que é a cidade mais importante do Sul do Estado. Volta Redonda é o farol da região. Se Volta Redonda estiver mal, toda a nossa região vai estar mal. Todo mundo se beneficia quando a saúde de Volta Redonda vai bem. Se ela estiver mal é ruim para todo mundo. Então, o Neto é uma pessoa que gosta muito da cidade, ninguém pode negar isso, quem é a favor ou contra. Ele é apaixonado pela cidade, faz um esforço muito grande. Essa questão de empresas, eu acho que ele está lutando. Eu tenho visto a luta dele junto, principalmente junto ao presidente da CSN Benjamin [Steinbruch], recebeu agora Marconi Perillo que é um novo diretor, que entrou no lugar que era do Ciro Gomes, que foi meu colega governador, e ele está lutando para que a lei que existe sobre a siderurgia, beneficie Volta Redonda e ela beneficia os municípios envolta, os menores municípios. Acho que se Volta Redonda conseguir estender essa lei muitas indústrias, muitas empresas, vão querer se instalar em Volta Redonda, apesar da dificuldade de áreas, mas ainda tem áreas para se instalar. Vai beneficiar a região e beneficiar a Volta Redonda. E crescimento da CSN que é inevitável, a indústria cimenteira que é o que a CSN está investindo hoje em cimento, ela vai beneficiar a Volta Redonda cada vez mais.

A respeito do Sérgio Cabral. Ele teve uma condenação, na última semana. É impossível ter contato com ele, mas se tivesse que mandar um recado para ele qual seria?

Eu acho que ele está na luta dele como eu estou na minha de me defender. Ele luta para se defender da melhor maneira possível. Acho que ele [Sérgio Cabral] é uma pessoa inteligente, escreve bem. Ele luta para fazer sua defesa, como eu faço até onde alcanço. Não conheço muito a parte jurídica. Eu faço e me defendo. Tenho me defendido. Já tenho ganho ações de improbidade, já ganhei mais de nove ações agora em Brasília, no Rio de Janeiro, no Tribunal de Justiça, no Ministério Público do Rio. Eu mesmo vou subsidiando, pego meus técnicos e executo as minhas defesas. Eu tenho consciência do que eu fiz. Então eu tenho muita tranquilidade para isso. O que eu desejo para ele é que Deus dê saúde a ele para poder fazer sua defesa.

Para finalizar, qual é a pergunta que nunca te fizeram e que você gostaria que tivessem feito?

As pessoas sempre me perguntam tudo. Mas ver se eu estou estudando a melhor maneira de ver como melhorar o Botafogo. É uma coisa que eu fico pensando para ver. Eu não aguento mais sofrer vendo meu time, é um sofrimento danado. Fico até com medo de cair para a Série C.

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