Com autorização da Câmara de Vereadores, a prefeitura de Volta Redonda deu início ao processo de concessão da gestão e operação da Rodoviária Prefeito Francisco Torres, no bairro Laranjal, para a iniciativa privada. A medida, oficializada por decreto no dia 4 de fevereiro de 2025, foi divulgada na terça-feira (dia 11) pelo site Folha do Aço. A empresa vencedora da licitação terá um contrato de 20 anos e será responsável por modernizar, operar e manter o terminal, que ocupa uma área total de 9.500 m².
A decisão de entregar a gestão para a iniciativa privada ocorre após anos de abandono e críticas da população. O terminal sofre com infraestrutura precária, iluminação insuficiente, limpeza deficiente e a falta de segurança. O local também tornou-se abrigo improvisado para dezenas de pessoas em situação de rua, evidenciando problemas sociais que exigem soluções urgentes.
Projeto engavetado
Há alguns anos, o prefeito Neto chegou a ventilar a possibilidade de transferir a rodoviária para um terreno próximo ao trevo entre as rodovias dos Metalúrgicos e Presidente Dutra, no bairro Casa de Pedra. O novo terminal seria mais moderno e estrategicamente localizado para facilitar o acesso de passageiros. O projeto, no entanto, permanece engavetado até hoje.
Abandono e insegurança
A insegurança no terminal ficou ainda mais evidente com episódios de violência. Em fevereiro de 2022, um desentendimento entre dois homens em situação de rua terminou com um deles esfaqueado enquanto estava deitado ao lado de uma mulher. A vítima sofreu ferimentos na perna e nas nádegas, reforçando o alerta para a falta de segurança no local.
A situação se agravou com a transferência do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) para a Ilha São João. Por anos, o Ciosp funcionou dentro do terminal e contribuía para a vigilância do espaço. Somente em abril de 2024, uma tenda do programa Segurança Presente foi instalada próximo ao setor de desembarque, fruto de uma parceria entre a prefeitura e o Governo do Estado.
Desde então, policiais militares passaram a atuar de forma permanente, com o objetivo de aumentar a segurança para usuários e trabalhadores da rodoviária.
Além do patrulhamento, a equipe do Segurança Presente desempenha um importante papel social, ajudando a retirar pessoas em situação de rua dessa condição e estabelecendo uma relação de confiança com a população local.
Modernização prometida
De acordo com o decreto assinado pelo prefeito Neto (PP), o grupo vencedor da licitação terá a missão de modernizar o terminal rodoviário, incluindo melhorias na operação, manutenção e segurança patrimonial. A empresa também será responsável pelos serviços de limpeza, conservação e pagamento de taxas de energia elétrica, água, telefonia e internet.
O governo municipal defende que a concessão é a melhor alternativa para garantir investimentos privados e modernizar o terminal, oferecendo mais conforto e qualidade nos serviços para os usuários do transporte coletivo em Volta Redonda. O edital de licitação será publicado em breve.
Banheiros em reforma
Outro ponto crítico para quem utiliza a rodoviária é a situação dos banheiros. Em dezembro de 2024, a secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana contratou a D20 Studio de Arquitetura, por R$ 300,7 mil, para reformar o espaço e garantir acessibilidade universal.
Como obra ainda está em fase inicial, o funcionamento dos banheiros continua restrito até as 21h, gerando reclamações de passageiros que necessitam utilizá-los durante a madrugada.
Expectativa por mudanças reais
Enquanto a concessão não sai do papel, quem depende do terminal diariamente segue convivendo com os problemas de infraestrutura e segurança. A expectativa é que, desta vez, as promessas de modernização se concretizem.
A professora Ana Lúcia Mendes, 54 anos, que utiliza a rodoviária semanalmente, descreve a situação atual como lamentável: “Os banheiros estão sempre sujos, e o cheiro é insuportável. A iluminação é fraca, principalmente à noite. Já passei por situações complicadas por não ter onde comprar um lanche ou tomar um café mais tarde.”
O estudante Lucas Ferreira, 23 anos, reforça a sensação de insegurança: “A rodoviária fica muito deserta e mal iluminada à noite. Isso é um risco, principalmente para mulheres e pessoas que precisam esperar transporte de madrugada.”
Outro problema recorrente apontado pelos passageiros é o aumento no número de pessoas em situação de rua que ocupam o terminal durante a noite, utilizando o espaço como abrigo improvisado. Embora o cenário reflita um problema social mais amplo, a ausência de políticas públicas específicas para essa população torna a situação ainda mais crítica.
“Já estamos esperando por essas melhorias há anos. Tomara que agora saia do papel e não fique só na promessa, porque o abandono foi grande demais”, finalizou a aposentada Maria do Carmo Souza, 68 anos.