“Estou buscando ser a melhor saúde pública do país.” A declaração do prefeito de Volta Redonda, Neto (PP), dada na manhã de quinta-feira (dia 24), contrasta com a realidade de uma das principais obras do setor em andamento na cidade: a reforma da Arena Esportiva Nicolau Yabrudi para implantação do Centro Especializado em Reabilitação III (CER III), no bairro Niterói. Com previsão inicial de entrega para novembro de 2022, o projeto já acumula 29 meses de atraso e teve o custo elevado em 48,36%, saltando de R$ 5,8 milhões para R$ 8,6 milhões.
O contrato foi assinado no dia 30 de dezembro de 2021, pela então secretária de Saúde, Conceição de Souza. A execução da obra foi entregue à empresa Biota Construções, com prazo máximo de dez meses para conclusão. Porém, desde então, nove aditivos contratuais foram celebrados, e o prazo mais recente indica que a entrega pode acontecer até novembro deste ano.
Em janeiro de 2024, a Prefeitura anunciou o fim da instalação do reservatório de água, o avanço na estrutura para ar-condicionado, na aplicação do forro de gesso e nas obras elétricas. Também foram concluídas as instalações hidráulicas e a construção do acesso de desembarque para pacientes.
Serviços
Quando for concluído, o novo CER III deverá concentrar serviços hoje espalhados por diferentes bairros e em estruturas consideradas inadequadas. O projeto prevê três andares: o primeiro com consultórios e uma oficina de órtese e prótese; o segundo voltado ao atendimento infantil, com salas de fisioterapia, terapia motora e cognitiva; e o terceiro para reabilitação física, intelectual e visual.
A justificativa da licitação, feita pela secretaria municipal de Saúde em dezembro de 2021, destacava que a centralização dos serviços em um só local garantiria “segurança, qualidade e atendimento integral”, conforme exigido pelas portarias federais. Mas, na prática, a demora já compromete o acesso da população a uma estrutura moderna e funcional.
Quem depende do SUS em Volta Redonda relata dificuldades enquanto a obra segue sem prazo definitivo para ser entregue. “Minha mãe precisa de fisioterapia depois de um AVC, mas a gente tem que ficar correndo de um lado pro outro, porque não tem lugar fixo. Quando vi a placa da reforma, pensei que ia melhorar, mas até agora nada”, conta o porteiro Antônio Carlos, morador do bairro Conforto.
Uma dona de casa de 61 anos, que preferiu não ser identificada, desabafa: “Prometeram uma estrutura linda, com tudo num só lugar, mas por enquanto é só conversa. É mais um compromisso que vai ficando para depois.” Já um fisioterapeuta que atua na rede pública chama atenção para as consequências da fragmentação dos atendimentos. “Essa obra é importante, sim. Mas enquanto ela não anda, o paciente perde, porque o tratamento fica prejudicado. A gente trabalha no improviso, muitas vezes sem espaço e com falta de equipamentos.”
Caminho distante do ideal
A ambição declarada pelo prefeito em transformar Volta Redonda em referência nacional na saúde pública ainda encontra muitos obstáculos. Atrasos em obras estruturantes, como a do CER III, expõem falhas na execução de políticas públicas e reforçam a sensação de abandono entre os usuários da rede.
Com o custo agora estimado em R$ 8.650.881,75, a obra se torna também símbolo de como a má gestão de contratos pode pesar nos cofres públicos – e, principalmente, no bem-estar da população.
Foto: Arquivo/divulgação