“Apenas 10% dos casos de violência contra a mulher chegam à polícia”, alerta delegada Juliana Montes

Durante as atividades do Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização e ao combate à violência contra a mulher, a delegada Juliana Montes, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Volta Redonda, fez um alerta contundente: a maioria dos crimes sequer chega ao conhecimento da polícia.

Segundo a delegada, a subnotificação continua sendo o maior desafio no enfrentamento a esse tipo de violência. “Mesmo com o aumento de registros, a estimativa é de que pouco mais de 10% dos casos cheguem até nós. Isso mostra o quanto ainda precisamos avançar em conscientização e confiança das vítimas para denunciar”, afirmou.

Ela ressaltou que, além das agressões físicas e sexuais, existem outras formas de violência que muitas vezes passam despercebidas, como o constrangimento ilegal e a violência psicológica. Em Volta Redonda, o crime de constrangimento ilegal contra mulheres mais do que triplicou no último ano, saltando de três ocorrências em 2023 para 11 em 2024. “O constrangimento ilegal acontece quando a mulher é forçada, mediante ameaça ou violência, a fazer algo que não deseja ou a deixar de fazer algo a que tem direito. Exemplos: obrigar a vítima a assinar um documento contra a vontade, publicar mensagens ou declarações em redes sociais ou impedi-la de frequentar determinados lugares. Tudo isso é crime”, explicou.

A delegada frisou ainda que esse tipo de violência não se limita às relações conjugais. “Nós registramos casos que envolvem vizinhos, colegas de trabalho, sócios e até familiares. Muitas vezes são situações que, se a vítima fosse um homem, não aconteceriam. Isso reforça como o machismo estrutural ainda interfere no cotidiano das mulheres”, destacou.

O aumento no número de boletins de ocorrência, segundo Juliana, está diretamente ligado à ampliação da rede de apoio e ao fortalecimento da imagem da polícia junto à sociedade. “Quanto mais a polícia se aproxima da população e mais trabalhamos em parceria com secretarias municipais, estaduais e com entidades da rede de proteção, maior é a confiança das vítimas em procurar ajuda. Esse movimento resulta em mais registros e, consequentemente, em estatísticas mais próximas da realidade”, disse.

Ela acrescentou que a informação é peça-chave nesse processo. “As palestras, campanhas e debates realizados em agosto são fundamentais. Muitas mulheres não sabem que estão sendo vítimas de violência psicológica, moral ou de constrangimento ilegal. Quando esclarecemos e damos visibilidade a esses temas, fortalecemos a vítima e encorajamos a denúncia”, reforçou.

Agosto Lilás em Volta Redonda

Na cidade, a campanha conta com uma programação de palestras, rodas de conversa e ações educativas em escolas, instituições e espaços públicos. A meta, segundo a Deam e a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, é reforçar a prevenção e o enfrentamento à violência em todas as suas formas.

“O nosso objetivo é mostrar que a violência não se resume a marcas visíveis no corpo. Há violências sutis, como a psicológica, que silenciam e fragilizam a mulher. Trazer esse debate para a sociedade é fundamental para quebrar ciclos de agressão e dar às vítimas condições de buscar ajuda”, concluiu Juliana.

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