A escassez de novas encomendas diante da pandemia do novo coronavírus alterou a rotina nas indústrias do setor de siderurgia. Com a paralisação da cadeia produtiva, medidas de contenção estão sendo adotadas. Elas incluem desde o engavetamento de novos investimentos até sanções mais drásticas, como a possível paralisação dos fornos.
Na Usina Presidente Vargas, fábrica da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, o assunto é debatido internamente com ressalvas pela direção e o corpo técnico. “O custo é alto de parar um alto-forno e o prazo para a retomada da produção não leva menos do que três meses”, disse uma fonte consultada pela Folha do Aço. “Não há previsão de parada em curto prazo”, completou.
De acordo com relatos, a CSN não reduziu sua linha de produção. A justificativa é que diferente de outros segmentos da linha industrial, o setor do aço trabalha com uma carteira de mais de um mês de encomendas do mercado. Todavia, a Usina não têm recebido novos pedidos, o que pode alterar a capacidade anual de produção, estipulada de 4,5 milhões de toneladas.
Férias coletivas
No dia 26 de março, 1.437 metalúrgicos foram dispensados, em férias coletivas de 15 dias. A quarentena foi adotada pela direção da empresa para evitar aglomeração de pessoas e garantir a saúde daqueles que seguem trabalhando em atividades consideradas essenciais. Jovens Aprendizes e Estagiários menores de idade também foram afastados sem alteração da remuneração.
Na quarta-feira (dia 1º), a medida foi estendida para os demais estagiários. Até sexta-feira (dia 3), segundo fontes consultadas pela reportagem, não havia nenhum caso confirmado de funcionário ou estagiário da Usina Presidente Vargas infectado pelo novo coronavírus.
Usiminas, ArcelorMittal e Gerdau
Com a parada de produção de montadoras, fabricantes de máquinas e equipamentos e obras da construção civil em razão da pandemia do novo coronavírus, siderúrgicas brasileiras podem ter que reduzir a produção de aço. Esses setores representam 78% do consumo de produtos siderúrgicos no Brasil, segundo o Instituto Aço Brasil (IABR).
Na esteira da crise trazida pelo novo coronavírus, a Usiminas, ArcelorMittal Brasil e Gerdau optaram por medidas drásticas para enfrentar a crise atual. As três empresas reduziram temporariamente a produção em algumas unidades industriais.
A Usiminas anunciou na quinta-feira (dia 2), medidas para mitigar os efeitos do novo coronavírus. A siderúrgica vai paralisar temporariamente as operações dos altos-fornos 1 e 2 de Ipatinga, Minas Gerais, e as atividades da aciaria 1. Em Cubatão, na Baixada Santista, a Usiminas colocou praticamente todo o administrativo em home office, enquanto os turnos de produção de laminados deverão funcionar normalmente. Lá, a carteira de estoques é de cerca de 60 dias.
Já a ArcelorMittal reduziu temporariamente a produção em algumas unidades industriais em abril e decidiu pela parada, por até 45 dias, das atividades do Alto-Forno 3 na unidade de Tubarão-SC. Cubatão, na Baixada Santista, a produção de laminados também será suspensa.
A Gerdau, por sua vez, tomou medidas mais drásticas em outros países em que opera. Fez fechamento das unidades do Peru, Argentina e a de aços especiais nos EUA. No Brasil, informou que já sentiu um impacto nas operações devido a decisões de alguns estados de implantarem leis de quarentena. Segundo a empresa, os investimentos previstos para 2020 estão sendo “cuidadosamente postergados globalmente.”
O presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, disse que para superar essa crise e preservar os empregos, as siderúrgicas têm que assegurar uma operação mínima nas usinas. “Não podemos parar um alto-forno e depois religá-lo. Isso demora meses. Então, temos que achar uma alternativa para manter um grau de utilização mínima da capacidade para que os equipamentos não sejam prejudicados”, disse o Mello Lopes. Uma das formas, disse ele, é a abertura de mercado para o aço brasileiro.