Desde o início do ano, quando o ponto eletrônico foi implantado nas repartições públicas de Volta Redonda, a medida tem gerado insatisfação entre servidores municipais. O prefeito Neto (PP), ao anunciar a nova regra, foi direto: “Podem me xingar, a culpa é minha. Só quero que trabalhe o horário que foram contratados”. A fala sintetiza a aposta da administração em mais controle e transparência na jornada de trabalho. Na prática, porém, o sistema tem enfrentado forte resistência – principalmente de profissionais das áreas de saúde e educação, onde a rotina exige maior flexibilidade.
Embora parte da categoria tenha reconhecido a iniciativa como positiva, o funcionamento do ponto eletrônico no dia a dia tem provocado transtornos, descontos considerados abusivos e, em alguns casos, comprometido o atendimento à população. Nas redes sociais, servidores relatam frustração com a rigidez do novo sistema.
“Em escolas mesmo, deu o horário, colocamos as crianças na rua e vamos embora?! Ou largo uma mãe que veio pra atendimento e vou embora?”, questiona uma funcionária da área da educação. O desabafo aponta para a dificuldade de aplicar regras rígidas em funções que exigem sensibilidade e bom senso além do relógio.
Outro ponto crítico são os descontos financeiros aplicados por atrasos mínimos. “Quanto vale o minuto de atraso da prefeitura? Tem gente que atrasou três minutos e teve um desconto de R$ 270”, denuncia um servidor, levantando dúvidas sobre a proporcionalidade das penalidades. Muitos apontam que o sistema desconsidera fatores como falhas no transporte público ou deslocamentos longos.
Em unidades escolares, a situação tende a se agravar. “Trabalho em escola. Imagina o ponto nas escolas quando os pais atrasam para buscar? Eu bato o ponto às 11h e faço o quê com a criança que o pai só chega meio-dia? Deixo ela na calçada ou fico com ela de ponto fechado?”, relatou uma servidora, preocupada com o risco de negligência involuntária.
Há ainda casos de servidores que, mesmo cumprindo – ou até ultrapassando – a carga horária contratual, relatam ameaças de desconto. “Estão descontando ou afirmando que descontarão inclusive de quem trabalha mais que a carga horária prevista. É só no Brasil que quem trabalha mais ganha menos”, ironizou um funcionário.
Debate na Câmara
Com a insatisfação crescente, servidores apelam pela intervenção do Legislativo. E o tema foi, de fato, debatido durante a semana na Câmara Municipal. O presidente da Casa, vereador Edson Quinto (PL), afirmou que “o ponto é uma ferramenta que ajuda no controle de horário e frequência, que é importante”, mas ponderou que “é necessário entender o contexto de cada local”.
O parlamentar disse ter recebido diversas mensagens de servidores relatando dificuldades, especialmente nas unidades de saúde. “Nós temos recebido diversas reclamações em nosso gabinete com relação a esse ponto eletrônico. Principalmente da Farmácia e das unidades de saúde. O que ocorre: as pessoas têm que entrar às 7h ou 7h30min. Ele não pode entrar 7h02min ou 7h05min. Tem que entrar 7h, está certo. Mas e se ele está atendendo um usuário que chegou às 11h50min, e dá 12h, que é o horário do almoço, e ele tem que bater o ponto? Vai deixar aquele usuário sem atendimento? Vai dizer: ‘Agora eu não posso te atender porque preciso sair para almoçar’? Ou: ‘O senhor espera mais tempo aí porque agora não dá pra atender’?”
Edson Quinto adiantou que pretende marcar uma reunião com o prefeito Neto para discutir formas de flexibilizar o sistema. “Não é que o ponto eletrônico é ruim, sou favorável. É muito boa a iniciativa da sua excelência, o senhor prefeito. Agora, tem setores e áreas que precisam de algum tipo de condição, algum tipo de tolerância. Exemplo: se o servidor chega às 7h10min, que ele possa sair às 17h10min.”
O vereador Raone Ferreira (PSB) também se posicionou sobre o tema. “O sistema de ponto eletrônico implementado pelo prefeito Neto, da forma como está, é uma covardia com o trabalhador. Recebi diversas denúncias pelo WhatsApp de servidores que, por conta de cinco minutos de diferença, estão tendo o dia inteiro de trabalho desconsiderado. Isso é injusto!”, criticou. Para ele, é essencial considerar as realidades específicas de cada área da administração pública. “Cada secretaria, cada autarquia tem suas particularidades – e o ponto eletrônico precisa se adaptar à realidade de cada setor. Eu defendo a transparência e o uso de tecnologia, mas com coerência e respeito”, completou.
Raone afirmou que encaminhou as denúncias ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e se colocou à disposição para ajudar a encontrar uma solução. “O papel do poder público é garantir direitos, não punir com rigidez desproporcional.”
A principal reivindicação dos servidores é por um sistema mais humano, que considere as especificidades de cada setor. “Um pouco de flexibilidade e compreensão vai bem em qualquer área. O problema é que muitos gestores não conhecem a dinâmica do serviço e acham que tudo é igual”, finalizou uma servidora. Até o momento, o Sindicato do Funcionalismo Público Municipal de Volta Redonda não se pronunciou oficialmente sobre a questão.
Imagem ilustrativa
E pra quem é RPA… NÃO pode bater ponto, pois não tem vínculo de emprego… mas o “Rei Neto” não quer saber e é ele que manda, ou seja, está acima da lei.
Sindicato não vai se manifestar? Pois, se depender da Câmara de Vereadores, nada vai acontecer… pois só tem um ou dois que NÃO são parceiros do Neto…