No último dia 17 de julho, Volta Redonda completou 71 anos. Houve hasteamento de bandeiras, discursos, homenagem (justa) ao ex-prefeito Nelson Gonçalves, shows com artistas renomados e um bolo de seis metros. Tudo concentrado na Praça Brasil, na Vila Santa Cecília, já que a Ilha São João, palco tradicional de grandes eventos, foi “aposentada” das multidões.
Foi uma comemoração com verniz festivo, mas clima morno, como quem lembra do próprio aniversário no fim do expediente. A cidade ostenta tapumes e placas de obras desbotadas. Ainda assim, a Prefeitura decidiu caprichar no embrulho: convidou o governador Cláudio Castro (PL) para uma visita oficial, marcada para a próxima terça-feira (dia 29).
O roteiro inclui todos os itens de um álbum típico de governo: inauguração, corte de fita, discursos, fotos e almoço. Não está claro se haverá parabéns, mas a gestão espera que, ao menos na fotografia, o aniversário pareça completo.
Entre os poucos “brindes” disponíveis para entregar ao governador está o Viaduto Porfírio de Almeida, nas imediações do 28º BPM, no bairro Voldac, uma das raras promessas do Plano de Mobilidade Urbana da cidade que escaparam da maldição do atraso. A cerimônia deve contar com presenças ilustres, como o secretário de Estado de Infraestrutura e Obras Públicas, Uruan Andrade, e o comandante-geral da PM, coronel Marcelo de Menezes.
Depois da tesoura, o governador, ao lado do secretário estadual do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, assinará o convênio para a construção da nova Estação de Tratamento de Água (ETA), no bairro Aero Clube, um projeto considerado estratégico.
“Graças a ela, Volta Redonda nunca mais terá problema de falta d’água”, profetizou o prefeito Neto (PP), na manhã da última quinta-feira (dia 24), ao anunciar a visita do governador.
A obra, orçada em R$ 95 milhões, será licitada em breve. O projeto prevê dois módulos capazes de tratar 600 litros por segundo, com estrutura preparada para um terceiro, totalizando até 900 litros.
O encerramento da agenda será com almoço no Vitória Restaurante & Choperia, ao lado do kartódromo do bairro Aero.
Agenda poderia ser mais completa
Mas o que realmente chama a atenção é o que ficou de fora do cardápio. Nos últimos anos, Volta Redonda especializou-se em uma arte que só parece simples: a da obra inacabada. Segundo o prefeito Neto, mais de 600 intervenções foram anunciadas desde que reassumiu o governo, em 2021. Muitas seguem no papel, em planilhas ou perdidas entre medições e recalculagens.
A Rua 33, principal corredor comercial da Vila Santa Cecília, ainda aguarda sua prometida revitalização, um projeto que já coleciona prazos como quem coleciona calendários de parede. O Cais Conforto, por sua vez, atravessou as fases de anúncio, início, paralisação e esquecimento. Sobrevive apenas nos discursos.
A ponte entre os bairros Aero Clube e Aterrado é outro símbolo do vai-e-vem. Planejada como marco da mobilidade urbana, hoje representa o oposto: um erro de cálculo comprometeu o projeto original, e agora fala-se na construção de um “mini-mergulhão”, solução criativa para um problema estrutural que inclui aumento de custos e novos adiamentos.
Também não estarão prontos, a tempo da visita governamental, a alça do Viaduto Heitor Leite Franco, a malha cicloviária prometida nem o asfaltamento de ruas previsto no convênio com o Estado. A nova previsão é outubro.
E há, claro, a nova ponte sobre o Rio Paraíba do Sul, prevista para algum ponto entre dezembro de 2025 e janeiro de 2026, ou, com sorte, quando Volta Redonda soprar 72 velinhas.
Obras que não saem do papel
Na área da saúde, o tempo também escorre. O Hospital Veterinário Municipal, iniciado em abril de 2022, ainda está em construção. Era para ter ficado pronto em 12 meses. Já se passaram 27. O Hospital da Criança, iniciado em 2016, paralisado, retomado e “reinaugurado” com uma nova pedra fundamental em 2022, continua em ritmo lento.
A UPA do Santo Agostinho está em obras desde fevereiro de 2023. O Cais Conforto permanece fechado há mais de três anos. A prometida ampliação do Hospital São João Batista, que seria entregue no aniversário de 70 anos, em 2024, também segue no campo das intenções.
Entre os projetos de longa duração, ainda figuram a reforma da Praça Pandiá Calógeras, no bairro Sessenta, e a do Ginásio Poliesportivo da Ilha São João. Escolas municipais também têm obras em andamento, mas as entregas avançam devagar.
O povo observa
Para quem anda pelas ruas, o contraste entre discurso e realidade é visível. “Volta Redonda é uma cidade que sempre teve potencial, mas parece travada. A gente vê muita fita sendo cortada, mas pouca obra realmente finalizada”, diz a comerciária Márcia Costa, que trabalha em uma loja na Vila Santa Cecília há 18 anos.
O aposentado Alcides Nogueira, morador do bairro Conforto, também observa com ceticismo a maratona de promessas: “Todo ano é a mesma coisa: começam um monte de obras perto do aniversário da cidade e depois somem. A gente vai aprendendo a não se empolgar.”
Mesmo assim, a cidade festeja. Há discurso, há fita, há foto oficial. E, com sorte, sobremesa. Para quem caminha entre os tapumes e o concreto que não vira prédio, o presente prometido continua sendo só isso: uma promessa.
“Sou um apaixonado por Volta Redonda e pelo seu povo. Estamos completando 71 anos com muitos motivos para comemorar”, celebrou o prefeito Neto, com entusiasmo de quem vê o copo meio cheio, ou a obra meio pronta. “Somente neste mês de aniversário, estamos inaugurando mais de 100 obras e temos outras 300 em andamento que serão entregues em breve.”