O Sul Fluminense viveu, nas últimas semanas, um momento histórico no transporte rodoviário. A maior carga superdimensionada já registrada na Via Dutra cruzou a região, movimentando equipes, despertando curiosidade e, naturalmente, causando congestionamentos.
O conjunto transportador, com 146 metros de comprimento, 6 metros de largura, 59 eixos e peso superior a 800 toneladas, saiu de Guarulhos (SP) com destino ao Porto de Itaguaí (RJ), de onde seguirá para a Arábia Saudita.
Segundo a empresa Irga, referência no setor transporte de cargas excepcionais, mais de 50 profissionais estão envolvidos em cada operação, incluindo engenheiros, técnicos de tráfego da concessionária RioSP, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo (DER-SP).
Além do tamanho inédito, o transporte também exige custos elevados. Apenas com pedágios, o valor ultrapassou R$ 2,7 mil, já que a tarifa é multiplicada pelo número de eixos.
Contratempos no caminho
A travessia não passou sem desafios. O veículo enfrentou falha mecânica em um dos tratores, precisou trocar pneus que furaram ao longo do trajeto, substituir uma mangueira hidráulica e ainda contar com a liberação da pista após um caminhão quebrar no acostamento.
Em Piraí, uma das cargas está estacionada à espera da descida pela Serra das Araras. A operação deverá ocorrer de madrugada, utilizando a pista de subida no sentido contrário ao fluxo normal. A previsão é que o deslocamento seja feito neste domingo (dia 7). Outra carga já está em deslocamento a partir de Guarulhos.
Segundo a Transportadora, o grande desafio é conciliar o volume intenso de tráfego da Dutra com a necessidade de causar o menor impacto possível aos motoristas.
O que são as cargas superdimensionadas?
O policial rodoviário federal Carlos André Nogueira Fernandes explica que essas cargas, também chamadas de indivisíveis, são aquelas que, por sua natureza, não podem ser desmontadas ou divididas. “São exemplos transformadores, pás eólicas, estruturas metálicas para plataformas de petróleo. Para transportá-las, é necessário utilizar veículos especiais, capazes de suportar peso, altura, largura e comprimento muito acima do normal”, detalha.
Segundo Nogueira, para que a operação seja autorizada, a empresa transportadora precisa solicitar ao DNIT uma Autorização Especial de Trânsito (AET), apresentando todas as informações técnicas do veículo, da carga e do trajeto. Dependendo das dimensões, além da escolta particular credenciada, conhecida como “zebrinha”, pode ser exigida escolta dedicada da PRF.
No caso da Dutra, as exigências aumentam para veículos com largura acima de 5,5 metros, comprimento superior a 75 metros ou peso acima de 350 toneladas. “Nessas situações, a PRF controla o tráfego, sinaliza acessos, libera a passagem de veículos de emergência e acompanha a carga em pontes, viadutos e túneis. As equipes técnicas verificam as condições estruturais após a travessia. Também é determinado onde a carga pode parar para desafogar o trânsito”, afirma.
Outro detalhe importante, segundo o policial, é que condições climáticas adversas impedem a circulação. “Chuvas fortes, neblina ou cerração tornam o deslocamento proibido. E, a depender do tipo e dimensões da carga, só é permitido o deslocamento do nascer ao pôr do sol. A circulação no período noturno só é possível em casos excepcionais e trajetos não muito longos, como na descida da Serra das Araras, onde se utiliza a pista de subida, interditando-a e descendo com a carga pela contramão de direção”.
Próximas operações
De acordo com a transportadora, até o fim deste ano ainda passarão seis cargas superdimensionadas pela Dutra, todas com destino ao Porto de Itaguaí. Para 2026, já estão previstas mais oito.
A concessionária RioSP, uma empresa Motiva, reforça que os motoristas devem respeitar a sinalização, manter distância segura e acompanhar as orientações dos painéis eletrônicos durante os deslocamentos. “Estamos trabalhando para que a operação ocorra de forma segura e tranquila para todos”, destaca Ademir Pereira, coordenador de Operações da RioSP.