O início do ano letivo em Volta Redonda trouxe uma novidade que tem gerado debate entre alunos, pais e profissionais da educação: a restrição do uso de celulares nas escolas. Com a sanção da Lei Federal nº 15.100, em janeiro de 2024, o uso de dispositivos eletrônicos como celulares, smartwatches e tablets foi proibido nas salas de aula, durante os intervalos e recreios, salvo quando autorizado para fins pedagógicos.​

A medida visa proteger a saúde mental e física dos estudantes, criando um ambiente escolar mais focado e saudável, como já ocorre em países como França, Espanha e Dinamarca.

Discussões 

Apesar de ter sido sancionada com o objetivo de melhorar o ambiente de aprendizado e reduzir os impactos negativos das telas, a lei tem gerado discussões na comunidade escolar, especialmente em Volta Redonda. A maioria das escolas já implementou a restrição, enquanto algumas famílias ainda estão debatendo a adaptação dessa medida.

No Centro Educacional Tiradentes, uma escola particular localizada no Jardim Tiradentes, já era adotada uma prática semelhante desde 2024, com a proibição do uso de celulares durante as aulas. Agora, com a nova lei federal, a restrição se estende a todo o ambiente escolar. A direção da escola enviou um comunicado às famílias, destacando que a medida busca garantir um ambiente mais produtivo para o aprendizado.

“Embora reconheçamos a importância desses dispositivos no dia a dia, estudos científicos apontam que seu uso inadequado pode comprometer o processo pedagógico”, explicou Eliane Alcure, diretora da unidade de ensino.

A escola, que se preparou para conscientizar os alunos sobre os benefícios da nova legislação, reforçou que os estudantes que precisarem entrar em contato com os responsáveis durante o horário escolar poderão procurar a coordenação, que fará o devido encaminhamento. “Serão adotados protocolos claros para garantir uma transição tranquila e respeitosa”, diz outro trecho do informe.

Impacto no aprendizado e na socialização

A psicopedagoga Leondina Zanut considera que a restrição do uso de celulares nas escolas é uma medida positiva para o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes. Para a especialista, os celulares, muitas vezes, dificultam a concentração dos alunos nas aulas.

“O celular cria um hiperfoco no estudante, que perde a atenção no que está sendo dito pelo professor e se distrai com o aparelho”, explicou Zanut, destacando também os efeitos do uso excessivo de dispositivos eletrônicos nas interações sociais.

“Na hora do recreio, vemos os alunos, especialmente do Ensino Médio, sentados sozinhos, com a cabeça baixa, apenas mexendo no celular. Eles não interagem mais, não conversam, nem brincam. O recreio virou um momento de celular, quando deveria ser de convivência”, afirmou.

Zanut também ressaltou as questões do bullying e dos efeitos negativos das redes sociais, que muitas vezes amplificam os conflitos dentro das escolas. “O uso indiscriminado do celular contribui para a propagação de bullying, com fotos e vídeos de colegas sendo compartilhados de forma prejudicial. A nova lei é uma forma de resgatar o aprendizado e a socialização saudável entre os alunos”, completou.

Divisão de opiniões: apoio e críticas

A medida, porém, não é unanimidade entre os estudantes. Lucas, aluno do Ensino Médio de uma escola pública em Volta Redonda, expressou sua insatisfação com a restrição.

“Eu entendo que o celular pode ser distrativo, mas, para nós, ele também é uma ferramenta importante. Além de ajudar a pesquisar para os trabalhos, muitos dos nossos grupos de estudo e atividades escolares acontecem por meio de aplicativos de mensagens. Essa mudança vai prejudicar nossa comunicação e o aprendizado em alguns aspectos”, opinou.

Enquanto isso, para Fernanda dos Santos, mãe de um aluno do Ensino Fundamental em uma escola particular, a nova lei traz um alívio. “Eu apoio a decisão de proibir o uso de celulares na escola. Sei que muitos alunos acabam se distraindo com as redes sociais e isso interfere no desempenho escolar. Espero que a medida ajude a melhorar o ambiente de aprendizado e estimule mais a interação entre as crianças”, disse Fernanda, que também destaca o papel dos pais na conscientização dos alunos sobre o uso responsável da tecnologia.

Compromisso de todos

O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) – Núcleo Volta Redonda defende que a restrição do uso de celulares em sala de aula pode trazer benefícios significativos para o processo de ensino-aprendizagem, garantindo um ambiente mais propício à concentração, à interação entre os estudantes e ao respeito à autoridade pedagógica dos professores.

“No entanto, é fundamental destacar que essa medida, por si só, não resolve os desafios estruturais da educação pública. É essencial que haja investimento em formação continuada para os profissionais, melhores condições de trabalho e políticas públicas que incentivem metodologias ativas e o uso pedagógico das tecnologias”, diz a nota enviada pelo Sepe-VR à Folha do Aço.

“Além disso, os pais e responsáveis têm um papel fundamental na conscientização dos estudantes sobre o uso adequado dos dispositivos e na construção de uma cultura de respeito às normas escolares. A educação é uma responsabilidade coletiva, e medidas como essa só terão sucesso se forem acompanhadas de diálogo e compromisso de toda a comunidade escolar”.

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