Teve golpe em 1964
Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil em 1960. Sua breve gestão (menos de sete meses) foi marcada por ações bizarras, como a proibição dos biquínis e das brigas de galo, e por atitudes ambíguas, como a condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul ao revolucionário Che Guevara, que ganhou a homenagem das mãos do próprio presidente.
De personalidade instável, se meteu em uma estratégia desastrada na busca de maiores poderes. Renunciou ao cargo, esperando que os conservadores lhes entregassem maior força política em troca de segurar o comunismo e o sindicalismo.
Ao desembarcar em uma base militar de São Paulo, teve apoio de meia dúzia de governadores que pediram que voltasse ao cargo, ninguém mais. Quem deveria assumir a presidência, segundo a Constituição, seria seu vice, João Goulart, o Jango.
Jango estava em uma viagem na China comunista, mais um motivo para reforçar a paranoia das elites brasileiras. Os ministros militares eram contrários à posse dele, e a saída conciliadora foi construir um parlamentarismo que limitava os poderes de João Goulart. Mas em 1963 um plebiscito fez o Brasil voltar ao presidencialismo.
O governo Jango foi marcado por idas e vindas. O ministério do presidente contou com figuras como San Tiago Dantas, no Ministério da Fazenda, e Celso Furtado, para o Planejamento. Os tempos eram de radicalização. No campo da esquerda, o PTB e Brizola lideravam vozes duras contra o presidente, acusado de ser vacilante.
O Plano Trienal apresentado pelo ministro Celso Furtado foi duramente criticado pelas esquerdas, que segundo estas, arrochava o salário dos trabalhadores, no que Furtado respondeu: “Me encomendaram um Plano econômico, não uma revolução”.
A polarização na sociedade se acentuava, com Jango assumindo a defesa das reformas de base, que democratizava o acesso à terra e beneficiava os trabalhadores, mas sem propor qualquer ruptura com o capitalismo. Jango não era um comunista. No Rio de Janeiro, em 13 de março, João Goulart fez um discurso para 150 mil pessoas ao lado de Brizola.
No dia 19 de março, em São Paulo, conservadores reuniram 500 mil pessoas na famosa Marcha da família com Deus pela liberdade, o apoio civil para o golpismo militar.
Em 31 de março, o general Olimpio Mourão mobilizou tropas em direção ao Rio de Janeiro, e o presidente foi obrigado a voar para Porto Alegre e depois para o exílio no Uruguai. Brizola ainda tentou resistir no Rio Grande do Sul, mas acabou igualmente exilado.
O golpe civil-militar de 1964 não tem nada a ser comemorado. Modernizador no campo econômico promoveu censura, perseguição política, torturas e mortes. Um período tenebroso da nossa história, quem conhece, não pode se propor a comemorar.
* Adelson Vidal Alves é historiador