O Sul Fluminense vive um pesadelo recorrente, e não é de agora. Em cidades como Volta Redonda, Barra Mansa, Pinheiral e Piraí, os moradores vêm enfrentando não apenas o calor e a chuva, mas também a constante falta de energia elétrica.
O que mais preocupa, além da ineficiência da distribuidora, é que a Light, concessionária responsável pela distribuição de energia em 31 municípios fluminenses, tem falhado em resolver os problemas de fornecimento, o que afeta diretamente o cotidiano da população, a economia local e até o abastecimento de água.
Com mais de um século de história, a Light acumula uma série de falhas e polêmicas em sua prestação de serviço, que tem se mostrado cada vez mais ineficiente. Em algumas localidades da região, é comum que os apagões durem mais de 60 horas, prejudicando desde a vida pessoal de quem fica sem energia até a atividade comercial, que para com as interrupções constantes.
A Aneel e a vigilância ineficaz
Em 2023, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu um plano de resultados para as distribuidoras de energia elétrica, visando melhorar o serviço entre 2023 e 2026. No entanto, a Light continua sendo monitorada por falhas graves no fornecimento.
A agência reguladora, em um esforço para acompanhar a empresa, já aplicou diversas multas pesadas: em 2024, foi multada em R$ 28,3 milhões por demorar a restabelecer a energia após interrupções entre outubro de 2022 e setembro de 2023; e em 2022, levou uma multa de R$ 37,06 milhões por má gestão no atendimento comercial.
A fiscalização está em andamento e a Aneel promete ações de campo específicas para verificar o tempo de resposta a ocorrências emergenciais. Essas ações abrangerão toda a área de concessão da Light. “A Aneel está monitorando a Light e atenta à prestação de serviços da empresa, a qual vem progredindo satisfatoriamente desde o início do plano de resultados iniciado em 2023”, diz trecho da nota enviada à Folha do Aço.
Promessas e mais promessas
Em resposta aos problemas, a Light afirmou que vem investindo na melhoria da rede elétrica. A empresa garante estar reforçando o efetivo e realizando manutenções preventivas, além de trabalhar para melhorar a qualidade do fornecimento, com destaque para a poda de árvores próximas às redes elétricas. No entanto, na prática, os resultados continuam abaixo do esperado.
A Light também diz acompanhar de perto o processo de renovação de sua concessão, prevista para terminar em 2026, e ressalta que a empresa está comprometida com um projeto de investimentos no valor de R$ 11,6 bilhões nos primeiros cinco anos de uma nova concessão, caso consiga a renovação. Para alguns, no entanto, as promessas da empresa soam como uma tentativa desesperada de manter o contrato diante de uma situação cada vez mais insustentável.
Ministério Público entra em cena
O Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) não ficou de braços cruzados. A 2ª Promotoria de Tutela Coletiva de Volta Redonda, responsável também por Barra Mansa e Rio Claro, instaurou em 2024 o Procedimento Administrativo 2710/2024 para acompanhar a qualidade do serviço prestado pela Light na região. O órgão tem atuado para garantir que as falhas na distribuição de energia não se perpetuem e que os direitos dos consumidores sejam respeitados.
Diálogo com prefeitos
Em reuniões recentes com prefeitos da região, a Light tem tentado se aproximar da comunidade, apresentando seus planos de melhorias. O prefeito de Pinheiral, Luciano Muniz (PP), convocou a população para expor suas principais insatisfações com os serviços da concessionária, que incluem picos de energia, postes em situação precária, lentidão no atendimento e a falta de poda das árvores próximas à rede elétrica.
A Light se comprometeu a implementar um plano de ação e realizar uma nova reunião daqui a seis meses, apresentando os resultados e as soluções para os problemas identificados. Outro ponto relevante abordado na reunião foi a interrupção de energia no Polo Industrial do bairro Parque Maíra, que tem causado paralisações nas atividades das empresas locais, representando um risco para a manutenção de negócios na cidade. A Light garantiu atenção especial à situação.
NO município de Piraí, a empresa firmou um acordo com a Prefeitura que prevê a cessão do Cassino de Lajes, do Campo de Lajes e das quadras em frente ao histórico espaço. Além disso, a direção da concessionária se comprometeu a realizar a reforma completa desses espaços, garantindo a preservação e a revitalização de áreas. Uma ação simbólica que, para muitos, não substitui as falhas diárias no fornecimento de energia.
O que vem por aí?
O contrato de concessão da Light termina em junho de 2026 e o futuro da companhia na região Sul Fluminense está cada vez mais incerto. A renovação da concessão depende de a empresa ser capaz de superar os diversos problemas de gestão e melhorar a qualidade dos serviços prestados. Em recuperação judicial, a Light carrega uma dívida bilionária e tem se mostrado refém da continuidade do contrato para negociar suas pendências financeiras.
O que parece evidente, no entanto, é que a população não pode mais esperar até 2026 para ver melhorias. Uma moradora do bairro Vila Rica/Tiradentes, em Volta Redonda, e proprietária de um salão de beleza em sua casa, relatou à Folha do Aço que tem enfrentado dificuldades com as quedas frequentes de energia e a demora no restabelecimento.
“Sempre convivi com os apagões, mas, nos últimos tempos, a situação tem piorado demais. Meu salão é minha forma de sustento, minha única fonte de renda. E cada vez que falta luz, tenho que cancelar os atendimentos. Isso não acontece uma vez por semana, não. É quase todo santo dia. A sensação é que estamos sendo lesados o tempo todo, pagando o preço por esse tamanho descaso”, desabafou a comerciante.