Um ataque envolvendo um cão da raça pitbull deixou moradores de Valença chocados na manhã de quarta-feira (dia 17). Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o animal avançando contra um cachorro de pequeno porte, da raça Shitzu, que passeava com sua tutora em uma praça localizada na Avenida Geraldo de Lima Bastos, no bairro Monte D’Ouro.
Segundo a Polícia Militar, o pitbull havia fugido de uma residência próxima. As imagens registram o momento em que a tutora, uma mulher de 34 anos, ao avistar o cão de grande porte, tenta proteger o seu pet colocando-o sobre um carro estacionado. O pitbull, no entanto, escala rapidamente o veículo e agarra o Shitzu, sacudindo-o violentamente diversas vezes com a boca.
Desesperada, a tutora ainda tenta afastar o animal utilizando a coleira, mas não consegue cessar o ataque. Um morador da região, de 46 anos, ao ouvir os gritos, saiu de casa e golpeou o pitbull com facadas para tentar salvar o cão menor. Apesar da intervenção, o Shitzu não resistiu aos ferimentos e morreu. O pitbull também não sobreviveu.
A Polícia Militar informou que uma mulher de 46 anos se apresentou como responsável pelo imóvel de onde o pitbull fugiu e declarou que o animal pertencia ao seu filho, que está preso. Como era a única presente no local no momento da fuga, ela será intimada para prestar esclarecimentos e, até o momento, é investigada por omissão de cautela na guarda do animal.
Todos os envolvidos foram encaminhados à 91ª DP (Valença), onde prestaram depoimento e foram liberados.
Prefeitura diz não ter sido acionada
A reportagem da Folha do Aço entrou em contato com a Prefeitura de Valença, que respondeu por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) e da Vigilância em Saúde. Em nota, os órgãos informaram que não foram oficialmente notificados sobre o fato e que nenhuma equipe municipal foi acionada para atendimento da ocorrência. “Como não fomos acionados, não dispomos de informações sobre a identificação do tutor, registro ou situação vacinal do animal da raça pitbull”, diz a nota enviada pela assessoria de comunicação.
A Prefeitura ainda ressaltou que, em tese, o caso se enquadra como crime e deve ser formalmente registrado pelas partes envolvidas por meio de boletim de ocorrência, cabendo investigação à autoridade policial competente.
A administração municipal informou ainda que o município encontra-se em fase de licitação para firmar convênio com um centro especializado, com o objetivo de possibilitar o recolhimento de animais em situações de maus-tratos ou por determinação judicial.
Lei exige focinheira para raças consideradas perigosas
No Estado do Rio de Janeiro, a Lei nº 4.597/05 determina o uso obrigatório de focinheira em cães de raças consideradas ferozes, como Pitbull e Rottweiler, em locais públicos como ruas, praças e parques. A legislação também estabelece que esses animais devem ser conduzidos por maiores de idade, utilizando guia, e que o tutor é responsável por reparar eventuais danos em caso de ataque, podendo ser multado e até ter o animal apreendido.
Especialista aponta responsabilidade do tutor
Para Igor Reis, vice-presidente da Sociedade Protetora de Animais (SPA) de Volta Redonda, o problema não está na raça em si, mas na irresponsabilidade de alguns tutores. “Às vezes, a pessoa adquire um animal desse porte e não tem uma casa adequada, um muro ou um portão que possa contê-lo. Ou permite que seja conduzido por alguém que não tenha força física suficiente para segurá-lo. Via de regra, o pitbull é um animal tranquilo, mas tem um grande potencial ofensivo. Se um pincher te morde, causa apenas ferimentos leves; se um pitbull dócil, um dia, resolver morder, ele pode fazer um grande estrago”, explicou.
Segundo ele, ataques como o ocorrido em Valença geralmente estão ligados à negligência humana. “Muitos desses cães estão soltos na rua porque os tutores os deixam dar uma ‘voltinha’. Outros são conduzidos por crianças ou idosos que não têm capacidade de contê-los, e andam sem focinheira. É mais um caso de responsabilidade humana que recai sobre o animal”.
Casos recentes
Este não é o primeiro episódio envolvendo pitbulls na região. Recentemente, um cão da raça atacou e matou um cachorro de pequeno porte na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda. O animal foi contido por populares e amarrado com fios, e o caso teve grande repercussão nas redes sociais.
Em maio deste ano, também em Volta Redonda, uma idosa de 75 anos morreu após ser atacada por um cão no bairro da Mangueira. Um homem, que também estava no imóvel no momento do ataque, sofreu ferimentos.
No ano passado, um bebê de cinco meses foi atacado por um pitbull no bairro Aero Clube. Visando evitar uma tragédia, o avô colocou o menino no teto de um automóvel, mas o cachorro puxou o bebê pelo pé, o derrubou no chão e mordeu a cabeça dele. O bebê foi socorrido, passou alguns dias internado e, felizmente, recebeu alta.
No último sábado (dia 13), um feirante de 63 anos morreu após ser atacado por dois pitbulls em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo moradores, os cães escaparam quando o dono abriu o portão de casa. Paulo Roberto de Carvalho, que seguia para seu trabalho em uma barraca de aipim, sofreu graves ferimentos no rosto e nos braços e chegou a ser socorrido ao Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, mas não resistiu.
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