Neste mês de dezembro, a campanha nacional ‘Dezembro Verde’ ganha destaque, com o objetivo de conscientizar a população sobre os impactos do abandono e maus-tratos de animais. No entanto, protetores e voluntários da causa em Volta Redonda enfrentam desafios persistentes, apontando falhas graves na gestão pública do tema.
Para Igor Reis, vice-presidente da Sociedade Protetora dos Animais (SPA), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) não tem cumprido seu papel. “A fiscalização é muito malfeita, e isso desestimula a população a denunciar maus-tratos. Muitas pessoas não têm retorno e acabam perdendo a confiança nos serviços,” critica Igor, que também preside o Conselho Municipal de Proteção Animal.
Em 2023, a Coordenadoria de Proteção Animal da SMMA registrava cerca de 30 denúncias de maus-tratos por mês, mas a falta de transparência continua sendo um problema. “Há mais de oito meses solicitamos uma reunião com o secretário, mas não tivemos resposta. Parece que a Secretaria não está disposta a trabalhar nesse tema,” aponta Igor.
Entre os principais desafios enfrentados pelos protetores, ele destaca três grandes problemas: a falta de conscientização da população, o populismo político e a falta de prioridade no poder público. “A compra de animais ainda alimenta um comércio cruel. Isso contribui diretamente para o aumento de animais em situação de rua. Soluções fáceis e projetos mirabolantes para problemas complexos não ajudam. Precisamos de políticas públicas estruturadas,” afirma.
A SPA recebe mais de 100 reclamações de maus-tratos por mês, mas muitas são infundadas ou repetitivas. “Cerca de 30% das denúncias que recebemos são sobre os mesmos casos, o que mostra a ineficiência do sistema,” relata Igor. Ele explica que os casos mais comuns de abandono envolvem animais sem raça definida (SRD), mas também cães de raça, como pitbulls, que são abandonados devido aos custos com alimentação e medicamentos.
Falhas na gestão pública
A relação com a SMMA é marcada por críticas severas. “A secretaria de Meio Ambiente parece mais uma secretaria de ‘Um Quarto de Ambiente’. Trabalha mal tanto com fauna quanto com flora,” dispara Igor, destacando a precariedade da Coordenadoria de Proteção Animal. “Apenas uma pessoa é responsável por todo o trabalho. Isso é inviável. Falta pessoal, falta conhecimento, falta vontade.”
Além disso, o ativista da causa animal aponta a necessidade de fiscalização efetiva e penalizações rigorosas. “A alteração recente na Lei 9.605, que ampliou as penas para maus-tratos a cães e gatos, precisa ser mais aplicada e divulgada,” defende Igor.
A criação da Secretaria de Bem-Estar Animal, aprovada pela Câmara Municipal em 9 de dezembro, gerou esperanças. “O Paulinho AP, possível secretário, já se mostrou interessado pelo tema. Com a criação da secretaria, esperamos ter uma estrutura melhor para lidar com o tema,” revela Igor.
Casos emblemáticos e avanços pontuais
A conscientização da população tem avançado. Igor destaca que, hoje, as pessoas compreendem melhor situações como o tráfico de animais, pássaros em gaiolas e cachorros acorrentados. “Recentemente, um cavalo foi visto sendo rebocado por um carro no Elevado Presidente Castelo Branco. O Ciosp agiu rapidamente, o que foi positivo,” observa. Ele também elogia o trabalho da Patrulha Animal, projeto da Secretaria de Ordem Pública. “Enquanto temos várias críticas ao Meio Ambiente, essa secretaria merece elogios pela forma como o coronel Henrique trata o tema.”
Na adoção, a SPA tem adotado critérios rigorosos, o que reduziu o índice de devoluções para menos de 10%. “Não adianta doar um animal para que ele viva em condições piores do que as que tinha antes. A SPA está preocupada em fazer boas doações, não em quantidade,” enfatiza Igor.
Reflexão e conscientização
O ‘Dezembro Verde’ é um momento para refletir sobre o compromisso com os animais e reforçar a importância de políticas públicas efetivas. “Esse período é crítico, pois as pessoas começam a se preocupar com as férias e o que fazer com os pets. Ter um animal é uma responsabilidade moral, não uma imposição social. Precisamos penalizar os infratores e usar a mídia para mostrar que maus-tratos têm consequências,” finaliza Igor.
A advogada Michele Vieira Borges Yoneda, voluntária na causa animal há mais de dez anos, acredita que o governo ainda não atua de forma eficaz no apoio aos animais sem tutores. Para ela, todos têm a oportunidade de contribuir com a causa animal de maneiras diversas.
“É possível ser voluntário em ONGs, ajudando a limpar os espaços onde os animais vivem, oferecendo cuidados como banho, escovação e carinho, além de realizar manutenção nas instalações e abastecer os potes de água e comida. Também é fundamental atuar diretamente nas ruas, fornecendo alimentação, medicação e até mesmo uma carona solidária para os animais desamparados,” destaca Michele.
A reportagem da Folha do Aço enviou uma demanda à secretaria de Comunicação para obter o posicionamento da pasta de Meio Ambiente sobre as críticas feitas por protetores de animais. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. Enquanto isso, a luta dos voluntários segue, com a esperança de que as críticas e esforços finalmente mobilizem ações concretas por parte do poder público.
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