“São as águas de março fechando o verão”. Um dos trechos da música composta por Tom Jobim em 1972 ajuda a reforçar a falta de planejamento e de ações preventivas concretas do poder público de Volta Redonda no período anterior ao de maior incidência de chuva.

Na segunda-feira (dia 20), mais uma tarde de caos foi registrada na cidade, com pontos de alagamento em diferentes regiões. Assim como ocorreu em dias anteriores deste verão de muita chuva, estragos ocorreram. Nas proximidades do Mattos Restaurante, na Vila Santa Cecília, a água chegou à metade dos pneus dos veículos. A rotatória na entrada do Vila Rica ficou completamente alagada, impedindo o acesso ao bairro.

O trânsito ficou complicado nos bairros centrais da cidade em função da falta de escoamento da água em função do volume da chuva. A Defesa Civil informou que o volume de água foi de 40mm e com ventos de 60 km/h. Agentes da Guarda Municipal que poderiam auxiliar motoristas e pedestres simplesmente parecem ter desaparecido.

Para o arquiteto e urbanista Ronaldo Alves, os transtornos causados pela chuva poderiam ser evitados. Para isso, seria necessário investir na execução de um trabalho efetivo de manutenção da cidade.

“Essa questão dos alagamentos tem origem na falta de manutenção e dragagem dos cinco córregos que cortam a cidade e vão para o Rio Paraíba do Sul. A maioria deles está com fluxo estrangulado, com pontos obstruídos e sem a manutenção adequada. O resultado é esse que vimos na segunda-feira, a cidade praticamente parada”, detalhou.

Ronaldo se refere aos córregos Secades, Brandão, Cachoeirinha, São Geraldo e Água Limpa. Segundo o urbanista, no caso específico do Secades, que corta os bairros 207 e 208, há um ponto de estrangulamento próximo ao trecho urbano da BR-393, que necessita de manutenção.

“O Cachoeirinha atravessa a Vila Santa Cecília e recolhe água do Siderópolis, Casa de Pedra, além do córrego do bairro Vila Rica. Ele passa em frente ao Hospital Santa Cecília, com uma saída embaixo da estrada e da ferrovia da CSN e também parece estar obstruído. Antes da privatização, a empresa fazia a manutenção, mas parou e os problemas começaram”, explica.

De acordo com Ronaldo Alves, a situação do Córrego São Geraldo é semelhante. “Constantemente, em chuvas fortes, ele não consegue ter vazão, alagando até próximo ao posto JK”, contextualiza o urbanista, que também aponta o Cafuá, Ponte Alta e o córrego do bairro Vila Brasília como pontos importantes, que deveriam receber atenção do poder público.

Para Ronaldo Alves, a saída seria a criação de um plano municipal de reestruturação das redes pluviais da cidade que contemplasse uma reforma da infraestrutura. “O problema afeta a cidade inteira e também passa por uma questão de mobilidade urbana, mais importante até que o gasto de milhões com construção de viadutos. Isso demonstra uma falta de atenção com um problema de fácil solução”, analisa.

  Rua 33

Além da questão dos alagamentos, moradores e comerciantes estão sofrendo com os transtornos causados pela obra de revitalização e melhoria da infraestrutura urbana da Rua 33, na Vila Santa Cecília. A situação se arrasta desde setembro do ano passado.

Ao menos duas vezes o prazo para a conclusão do projeto precisou ser estendido, devido a problemas no contrato firmado pelo município com empreiteiras.

“A interminável reforma das calçadas piorou a situação dos alagamentos. Em dias de chuva, só posso vir trabalhar de tênis, pois já sei que as calçadas estarão todas com poças, acumulando água em diversos pontos ao longo da via”, disse um empresário que, temendo represália do governo municipal, preferiu não se identificar.

“Parece que os bueiros estão todos entupidos e não conseguem dar vazão ao volume de águas das chuvas. A situação está cada dia mais tensa”, disse outra proprietária de um estabelecimento comercial no local que também preferiu não se identificar.

À Folha do Aço, um médico com consultório no Shopping 33, que também preferiu o anonimato, disse que vem se surpreendendo negativamente com a administração do prefeito Neto (sem partido). “Eu não sei o que aconteceu, a cidade sempre foi bem cuidada nos governos Neto, mas, neste mandato, a coisa está diferente. Você vê muitos problemas que antes não tínhamos, de mato alto, buracos e essa situação de alagamentos na 33”, listou o profissional.

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