No mundo digital de hoje, a presença online das crianças é quase inevitável. No entanto, há uma linha tênue entre compartilhar momentos especiais e expor excessivamente a vida privada dos filhos. Pais que constantemente publicam fotos e vídeos de seus filhos nas redes sociais podem estar inadvertidamente colocando em risco a segurança e privacidade das crianças, e isso é algo que merece uma atenção crítica.

A necessidade de likes, comentários e validação nas redes sociais muitas vezes leva os pais a ultrapassarem os limites do que é seguro e respeitoso para com seus filhos. Esse tipo de ação é chamado de sharenting, que consiste na junção das palavras share (compartilhar) e parenting (parentalidade).

Segundo a psicóloga Raphaela Stephanie Pereira dos Reis, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, o compartilhamento pelos pais da imagem dos filhos nas redes sociais é muito comum, pois é uma forma de mostrar o seu desenvolvimento, situações engraçadas que os filhos passam e coisas do cotidiano.

“Os pais publicam sem maldade, com a intenção super inocente, pois acham que aquele vídeo ou imagem pode ser engraçado naquele momento e querem registrar o conteúdo. Há também aqueles que enxergam a possibilidade da fama. É normal. Os riscos começam quando há a superexposição”, explica a profissional que atua em Volta Redonda.

A psicóloga explica que a superexposição pode ter consequências profundas e duradouras. “Podem ocorrer desde ofensas, agressões, ataques e o assédio, pois não se sabe quem está assistindo do outro lado da telinha e muito menos o que vão fazer com aquele conteúdo. O que pode impactar o comportamento da criança ou adolescente, em sua saúde mental, gerando um transtorno de ansiedade, insegurança, depressão, fobia social, entre outros. Além disso, pode fragilizar a relação com os pais, pois essa criança pode não gostar do que foi postado, de ser filmada, e se sentir constrangida”, explicou Raphaela.

Um exemplo visto recentemente são os vídeos que viralizaram de crianças proferindo xingamentos com a anuência dos pais. Os pais deixavam a criança em um ambiente e orientavam que elas poderiam falar todos os palavrões que quisessem, filmavam sua reação e postavam nas redes sociais.

“O cuidado é que não é só pela exposição. Quanto ao comportamento, ela pode passar a acreditar que, estando longe dos pais, vai poder falar palavrões. Então, a partir daquele momento, ela só não vai poder falar quando os pais estiverem próximos. É complicado e uma coisinha que pode parecer besteira, pode parecer engraçado, pode parecer legal, mas vai gerar futuramente um risco. E o vídeo fica ali, por 5, 10, 15 anos”, disse a especialista.

Orientação

A orientação da psicóloga Raphaela Reis é que os pais façam uma reflexão da necessidade de exposição de imagens, localização e o quanto estão abrindo a porta de suas casas e vidas para conhecimento público, e que decidindo publicar, tenham cautela.

“É preciso refletir sobre os perigos ao postar um conteúdo que na maioria dessas vezes é acessível para pessoas desconhecidas e é importante pensar que o que é publicado fica registrado para sempre na internet. E os perigos vêm por não termos controle de quem está assistindo e o que fará com esse conteúdo”, observa a profissional.

“Mas, do ponto de vista psicológico, é o quanto a criança será impactada com esse conteúdo, ao ter exposta a sua intimidade, futuramente aquilo pode gerar muitos problemas e é dever dos pais proteger os dados e a privacidade dessa criança e adolescente. Não podemos demonizar a internet, mas pensar na segurança”.

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