Os metalúrgicos da região terminaram a quarta-feira (dia 9) em clima de incerteza diante do anúncio de novas medidas tarifárias por parte do governo dos Estados Unidos contra o Brasil. A preocupação recai, especialmente, sobre os possíveis reflexos no setor siderúrgico, um dos pilares econômicos do Sul Fluminense.
A decisão, oficializada pelo presidente norte-americano Donald Trump, prevê a aplicação de uma tarifa transversal de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. O anúncio provocou reações em Brasília e movimentou o mercado, com analistas revendo projeções sobre os impactos nas exportações nacionais.
Na porta da Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda, onde está instalada a principal unidade da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o clima entre os trabalhadores era de apreensão. “A gente já passou por períodos difíceis antes. Quando vem notícia dos Estados Unidos assim, todo mundo fica com medo de demissão”, disse um metalúrgico com mais de duas décadas na empresa. Outro comentou que “essas decisões lá de fora sempre respingam aqui dentro. Mesmo que digam que não afeta tanto, ninguém fica tranquilo”.
Apesar disso, analistas consideram que o efeito imediato sobre a CSN é limitado. As exportações para os Estados Unidos representam menos de 5% da receita da companhia. Até o fechamento desta edição, a empresa, considerada a maior produtora de aço do Brasil e da América Latina, não havia se pronunciado oficialmente sobre o impacto das novas tarifas.
Sindicato repudia tarifa e alerta para risco de demissões
O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense se posicionou com firmeza contra a medida norte-americana. O presidente da entidade, Odair Mariano, classificou a tarifa de 50% como “injusta e arbitrária”, e afirmou que a decisão coloca em risco milhares de empregos na região.
“Essa tarifa é injusta, arbitrária e coloca em risco o sustento de milhares de famílias. O Sul Fluminense, com forte presença no setor de aço, será duramente atingido. Não aceitaremos que interesses estrangeiros prejudiquem nossa economia e nossa gente”, afirmou Odair.
A entidade sindical também declarou apoio à aplicação da Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que permite contramedidas comerciais por parte do governo brasileiro em resposta a medidas unilaterais de países estrangeiros. Em nota, o Sindicato alertou ainda para os possíveis efeitos da medida, como demissões em massa, fechamento de empresas, alta da inflação e instabilidade cambial.
“Nosso compromisso é com a democracia, os direitos da classe trabalhadora e a defesa da soberania nacional. Essa tarifa é um ataque à soberania do Brasil e precisa ser enfrentada com firmeza”, diz o texto.
Firjan defende atuação diplomática
O movimento dos EUA também gerou reações institucionais. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) classificou o pacote de tarifas como motivo de “grande preocupação” e defendeu uma atuação diplomática e paradiplomática mais intensa para viabilizar uma solução negociada entre os dois países.
Em nota, a Firjan destacou que as medidas adotadas pelo governo norte-americano contrastam com o histórico de relações econômicas e industriais entre Brasil e Estados Unidos, que têm sido, segundo a entidade, “marcadas por parcerias sólidas e voltadas para a promoção dos negócios”.
A Federação defende a preservação de um ambiente de previsibilidade e diálogo construtivo, de modo a evitar prejuízos às cadeias produtivas e ao ambiente de investimentos no país.
A Firjan lembrou ainda que os Estados Unidos são o principal investidor direto estrangeiro no Brasil e o segundo maior parceiro comercial do país. Em 2024, os norte-americanos registraram superávit de US$ 7 bilhões na balança comercial com o Brasil. No estado do Rio de Janeiro, os investimentos se concentram em setores estratégicos, como energia, manufatura e bens de alto valor agregado.