Por Adelson Vidal Alves
Escrevi recentemente que Bolsonaro precisa cair. Chegou ao poder de forma ilegal, e governa sabotando as regras democráticas. Não é, portanto, um governo legítimo. No entanto, isso não significa marcar o dia D para uma insurreição popular. Lembrando o conceito de Gramsci, o Brasil já é um país de tipo ocidental, onde coerção e consenso se equilibram na formação do poder.
Nossa complexidade institucional não permite ações diretas definitivas, qualquer coisa nesse sentido é voluntarismo. Mas, sim, podemos traçar um itinerário para derrubar o governo, usando das ruas e dos mecanismos da lei e da política.
Na última quarta-feira (dia 15), os professores foram às ruas contra o corte de verbas da educação, mobilizando consciências e denunciando às agressões de Bolsonaro ao saber e a produção de conhecimento. O ato acumulou forças, e aglutinou setores médios importantes na luta. Toda esta movimentação, contudo, precisa se conectar ao parlamento, e se articular num grande arco de alianças a ser construído, incluindo grupos desiludidos com o voto que deram ao presidente.
É um erro de setores de oposição formar um núcleo fechado de sábios que não aceitam acolher “arrependidos”, como se uma pequena vanguarda portadora da verdade daria conta de derrubar um governo. É preciso ganhar a maioria, do contrário o governo não cai. No Congresso Nacional, é preciso que as oposições conversem, e criem uma agenda unificada contra o governo. O que vemos hoje é uma disputa pela hegemonia no campo parlamentar anti-bolsonarista.
A deputada pedetista Tabata Amaral (PDT), uma democrata moderada, tem sido alvo de ataques grosseiros por ser a favor da reforma da Previdência. Equívoco sectário que nada ajuda. Um outro desafio é dividir o bloco no poder. Os militares compõem a ala lúcida do governo, e estão sendo desprestigiados pelo grupo ideológico ligado aos filhos do presidente. A saída dos militares da administração enfraquece institucionalmente o presidente, e cria uma crise no centro do Planalto.
Por fim, é preciso investir na “batalha das ideias”, ganhando a mídia, as universidades, as redes sociais, e onde mais se forma as mentalidades. Destruir a hegemonia moral do bolsonarismo é uma meta importante para que o governo se torne frágil o suficiente para cair. Não há prazos e nem expectativas para que possamos resolver as coisas agora.
É preciso usar da paciência para não cairmos em voluntarismos e leituras excessivamente otimistas sobre a conjuntura. Um trajeto, no entanto, deve ser pensado para que possamos salvar a democracia brasileira das intenções golpistas e autoritárias de Bolsonaro.
* Adelson Vidal Alves é historiador