Que as redes sociais estão se transformando em um grande tribunal, a maioria dos internautas já sabe. Mas até que ponto isso pode influenciar diretamente na vida das pessoas? Na última semana, uma blogueira de 24 anos cometeu suicídio após ser alvo de diversas críticas nas redes sociais. Tudo porque um dia antes ela havia decidido casar consigo mesma, após ser abandonada pelo noivo com toda a festa pronta para acontecer.

A verdade é que tecnologia está diariamente presente na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, desde que acordamos até a hora de dormir, quando damos aquela última olhadinha no smartphone ou no tablet. Além disso, carregamos esses aparelhos para todos os lados e constantemente os conferimos, seja para verificar os e-mails, ver mensagens do WhatsApp, acessar as redes socais ou nos distrair com joguinhos.

Admitindo ou não, nós nos viciamos. Fomos lenta e propositalmente viciados em tecnologias das mais variadas formas que hoje estão presentes em nosso cotidiano – um hábito já enraizado nas rotinas de milhões de pessoas. “As pessoas usam as redes sociais para preencher um vazio que elas já têm, mas com uma recompensa momentânea. Como o caso da jovem que se casou sozinha. Ela teve uma dor muito grande. Num ato de desespero, ela quis mostrar à sociedade que estava bem resolvida, quis casar sozinha. Mas na verdade, ela não estava nada bem. Ela não parou para valorizar o que estava sentindo. Quis provar que estava bem, mas a hora que a festa acabou, que as pessoas foram embora, aquele vazio, a depressão foi tão profunda, que pode ter levado a cometer o suicídio”, explicou a psicóloga Renata Pedrote Torres.

Estudos comprovam que a depressão pode ser genética ou por fatores ambientais. Segundo a especialista, é a incapacidade de sentir prazer e satisfação nas coisas, o que piora com a cobrança excessiva por resultados, em estar sempre motivado, que pode gerar um complexo de  inferiorização. “A gente é muito cobrado. Quando adulto temos que ter cargo, posição, MBA, mestrado, doutorado, ser fluente em línguas, com uma carga horária de trabalho cada vez maior. Com isso, a gente chega em casa cada vez mais tarde e tem pouco tempo para o lazer, pois ainda levamos trabalho para casa. As pessoas estão extremamente cansadas”, considera Renato Torres.

De acordo com a psicóloga, tal comportamento não é exclusividade dos adultos. “Já se percebe esse comportamento nas crianças. Elas têm uma carga grande a cumprir. Vemos muitas pedindo likes, isso é uma cobrança interna. A criança começa a se sentir rejeitada, e nem sempre é isso. Mas ela está com uma expectativa tão grande, que começa a se sentir inferior. Estamos sendo cada vez mais cobrados e exigidos. A imposição social está muito forte”, afirmou.

Segundo a psicóloga, a tendência é que todos comparem suas vidas com a daqueles blogueiros e blogueiras das redes sociais. “Hoje vivemos numa sociedade extremamente competitiva, estressante e com muito consumismo. Isso faz com que a gente se torne mais imediatistas, sem saber lidar com não e com a rejeição. O uso excessivo das redes sociais faz com que a gente compare a nossa vida com a do outro, e comece a concluir que a vida do outro é sempre mais legal, a grama mais verdinha. Para a pessoa que já possui a depressão, as redes estimulam essa carência, o complexo de rejeição por ela acreditar que a vida do outro é muito melhor e interessante do que a dela”, explicou.

Renata Torres acredita, no entanto, que a internet não causa depressão, mas potencializa sentimentos. “A rede social gera uma competição velada, uma busca pelo reconhecimento social. Quanto mais curtidas, mais compartilhamentos, mais seguidores, melhor. Porém, esse reconhecimento nem sempre acontece. E isso estimula um vazio interno e essa depressão pode aflorar”, destacou.

Alerta

O uso excessivo de smartphone ou no tablet pode gerar ansiedade, insônia, obesidade, piorar quadros de depressão e até de doenças psiquiátricas naqueles que já tendem, alerta a psicóloga. “Muito importante que as pessoas observem e se conheçam. E um alerta, é importante que as pessoas parem de focar no que os outros querem. A nossa sociedade quer agradar ao outro, e nós estamos nos anulando, deixando de olhar para as nossas necessidades. E no intuito tão forte de mostrar que está bem, que é sociável, que a vida é uma festa, estamos mascarando sentimentos. Quando eles afloram, a pessoa não tem mais controle sobre eles”, alertou.

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