Por Adelson Vidal Alves

Entre os séculos XVII e XVIII um movimento intelectual trazia para o cenário global a crítica ferrenha ao Antigo Regime. O Iluminismo, como ficou conhecido esta corrente, defendia a liberdade econômica e política, contra os privilégios de nascença da antiga ordem social. Acreditavam estar lançando luz sobre um mundo de trevas e ignorância, por isso o nome. O que Montesquieu, Locke, Rousseau e Smith tinham em comum era a convicção da razão como instrumento orientador da vida humana. Os iluministas eram críticos do pensamento mágico, das crendices e superstições.

O cientista cognitivo Steven Pinker publicou recentemente “O Novo Iluminismo”, uma defesa apaixonada e brilhante da ciência e da razão, contra o pessimismo e os delírios religiosos que persistem em pleno século XXI. Para o autor, as bandeiras centrais do Iluminismo são: razão, progresso, humanismo e ciência. O livro, recheado de fontes e estatísticas, busca mostrar que o mundo não está em decadência como advogam alarmistas de esquerda e de direita, ao contrário, estaríamos no caminho para acabar com a fome, as guerras e muitas doenças. Tudo isso graças à ciência.

De fato, as vacinas erradicaram muitas enfermidades do mundo, a tecnologia nos permite trabalhar menos e com mais qualidade, a produção de alimentos alivia o problema da fome, e novas invenções diminuem o impacto ao meio ambiente. O conhecimento científico é o grande responsável por estes avanços, mas segue ameaçado pela ignorância, o fundamentalismo religioso e as teorias conspiratórias.

No mundo todo avançam discursos contra o uso de vacinas, teses ridículas propõe a terra como plana e duvida-se da ida do homem à lua. Somente imbecis são capazes de dar alguma credibilidade a tanta asneira, mas não podemos subestimar o número de imbecis que segue grande mesmo numa era de tanta informação como a nossa.

No Brasil, Jair Bolsonaro virou presidente. O capitão da reserva é a síntese do que pior temos em matéria de burrice, ignorância, selvageria, barbárie e obscurantismo. No poder, duvida de documentos históricos amplamente aceitos por pesquisadores, questiona pesquisas e órgãos como a Fiocruz, flerta com o terraplanismo e tem como guru um bruxo que vê no mundo uma ampla conspiração globalista/marxista.

O Ministro da Ciência demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, depois de integrantes do governo discordarem dos números do desmatamento apresentados pelo Instituto. O episódio confirma as intenções do governo de combater dados científicos que contrariam seus interesses. Tem mais. Coloca a própria ciência em xeque atacando os espaços acadêmicos e reduzindo o orçamento de pesquisas.

Bolsonaro não está sozinho nesta empreitada contra a razão. Vários países viram ascender ao poder lideranças demagogas e anti-iluministas nos seus ideais. Sustentam-se na ignorância e na crendice religiosa, momento que a fé institucionalizada se torna base para o avanço das forças obscurantistas. Os valores do Iluminismo mais do que nunca precisam ser defendidos. Um mundo próspero e fraterno só será possível quando todos os resíduos da ignorância e da estupidez forem definitivamente removidos.

* Adelson Vidal Alves é historiador

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