O aposentado Reginaldo Louzada, de 73 anos, durante anos usou a velha e boa caderneta para anotar as compras realizadas na mercearia próxima a sua casa, no bairro Santo Agostinho. Ao final do mês, religiosamente, lá estava ele com o dinheiro em espécie em mãos pagando o que havia consumido naquele período. “Tudo era feito na base na relação de confiança com o proprietário do mercadinho”, recorda.   

Com o avançar do tempo, a rotina de seu Reginaldo e de milhões de brasileiros precisou se moldar ao mundo moderno. Cartões de débito e crédito  oferecidos pelas instituições bancárias facilitaram a vida. “Agora não preciso enfrentar fila no caixa eletrônico ou na loteria para pagar as contas”, destaca o aposentado.   

A facilidade para o consumidor pagar as contas aumentou ainda mais  há um ano, quando foi lançado o pagamento instantâneo brasileiro. O popular PIX, como ficou conhecido, é o meio de pagamento criado pelo Banco Central (BC) em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia. É prático e rápido.

O PIX vem ganhando cada vez mais espaço entre as transações feitas de pessoas para pessoas, como também de consumidores para lojistas. Com larga adesão popular, o sistema tem crescido dentro dos pequenos e médios varejistas e funciona hoje como mais uma alternativa de pagamento.

Na tradicional Feira Livre de Volta Redonda, os feirantes vêm acompanhando as tendências de vendas, promovendo facilidades e, assim, impulsionando seus negócios. Na Barraca 258, por exemplo, os comerciantes Tatiane e Douglas disponibilizam um QRCode bem visível para ajudar os consumidores na hora do pagamento.

“O PIX veio para ficar e já notamos que, aos poucos, tem substituído os cartões”, conta o casal, que completa dizendo que as transações instantâneas representam de 80% a 100% das vendas de morangos. “Tem dias que não recebemos uma nota de dinheiro sequer e todas as vendas são realizadas por PIX. É muito melhor. Uma segurança para as pessoas que evitam andar com dinheiro e uma facilidade para nós, pois o valor já vai direto para a conta”.

A ideia de expor o QRCode para os clientes surgiu por questão de segurança e praticidade. “Assim, não precisamos ficar ditando números e nem divulgando nosso CPF”, salientam.

Feirantes há mais de 20 anos, Tatiane e Douglas comercializam seus morangos de terça-feira a domingo e contam que pretendem continuar as vendas por PIX desde que o sistema não passe a cobrar taxa por isso. “As taxas de cartão são absurdas. A nossa maquininha, por exemplo, reduz a taxa para 1% desde que a gente atinja 30 mil em vendas, o que é impossível diante do tipo do nosso negócio”, acrescenta o casal.

No mundo virtual não é diferente. Uma recente pesquisa mostrou que os vendedores que disponibilizam o PIX como forma de pagamento no Mercado Livre, um dos maiores e mais populares sites de vendas, apresentam um ticket médio de vendas 54% maior do que com outros meios de pagamento. Nas demais lojas online, as transações por PIX também superam os boletos, TEDs e DOCs, segundo dados divulgados pelo Banco Central.

O levantamento mostra que 59% dos sites de venda do país já utilizam o meio de pagamento, inclusive oferecendo diferenciais, como frete grátis e descontos, para quem escolher o método. Mas, voltando ao mundo físico, e até mesmo para evitar o contato e a contaminação em tempos de pandemia, o novo sistema de pagamento tem crescido consideravelmente nas mais diversas lojas, deixando de lado as tradicionais maquininhas de cartão e, inclusive, poupando o próprio empresário de taxas cobradas pelas operadoras.

Em Volta Redonda, Isabel Araújo possui uma loja de roupas e incentiva seus clientes a pagarem no PIX com brindes e descontos. “É melhor para elas e para mim. O dinheiro cai na hora e não pago taxa alguma. Uma beleza!”, definiu.

Na cidade de Barra Mansa, uma tradicional padaria de bairro tem disponibilizado aos clientes a chave para aqueles que preferem pagar via PIX. Para a proprietária do estabelecimento, esta é uma forma mais rápida, simples e segura para concluir cada venda.

“Grande parte dos meus clientes já aderiu, e como a gente também trabalha com delivery, o PIX tem facilitado bastante, pois a confirmação do pagamento é na hora”, destacou a empresária Ana Paula Nogueira.   O cliente de Ana, Bruno Ramos é um dos que prefere esta opção de pagamento. “Às vezes saio de casa para ir pertinho, resolver qualquer assunto e acabo esquecendo a carteira. Com o próprio celular, se resolver, posso comprar um pãozinho, um bolo. Ajuda bastante”.

Novas modalidades

No mês passado, começaram a valer duas novas modalidades do PIX: Saque e Troco. Com elas, os usuários agora podem fazer saques em locais como padarias, lojas de departamento e supermercados.

A oferta dos dois novos produtos da ferramenta aos usuários é opcional, cabendo a decisão final aos estabelecimentos comerciais, às empresas proprietárias de redes de autoatendimento e às instituições financeiras. O limite máximo das transações do Pix Saque e do Pix Troco é de R$ 500 durante o dia e de R$ 100 no período noturno.

De acordo com o BC, não há cobrança de tarifas para clientes pessoas naturais (pessoas físicas e microempreendedores individuais) por parte da instituição detentora da conta de depósitos ou da conta de pagamento pré-paga para a realização do Pix Saque ou do Pix Troco em até oito transações mensais. Já para o comércio que disponibiliza o serviço, as operações do Pix Saque e do Pix Troco representam o recebimento de uma tarifa que pode variar de R$ 0,25 a R$ 0,95 por transação, a depender da negociação com a sua instituição de relacionamento.

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Volta Redonda (CDL-VR), Gilson de Castro, o PIX já virou uma realidade nas empresas, uma forma de facilitar o recebimento, uma vez que a transferência é automática. “Temos percebido que muitos clientes, que preferem pagar à vista, utilizam essa modalidade de pagamento, o que também é bom para o lojista, que não precisa esperar o valor ser repassado pelas operadoras de cartões, que cobram também taxas bem altas. Com custo praticamente zero, também é possível oferecer um desconto maior para o cliente no preço do produto. Hoje, você já chega na loja e tem um QR Code com link direto ou o número do PIX para fazer o pagamento, além de links de cobrança”, comentou o empresário.

Já o presidente da CDL de Barra Mansa, Leonardo dos Santos, acredita que o PIX seja uma nova possibilidade de pagamento, que alia agilidade e praticidade na transação. “A nossa entidade tem notado essa tendência maior dos consumidores no uso do PIX como forma de pagamento. Da mesma forma, conseguimos notar inclusive a redução no uso do cartão, especialmente o de débito, que vem sendo substituído pelo novo sistema. Hoje as lojas têm se preparado e atualizado para receber as novidades e acreditamos que no futuro o uso de PIX vai superar totalmente as vendas no cartão de débito”.

PIX atrativo

Uma pesquisa feita pela escola de negócios Fundação Dom Cabral (FDC), com apoio da empresa de logística e soluções de pagamento Brink’s, apontou os principais motivos de o PIX ser o meio de pagamento favorito entre os consumidores. A maioria deles, 48,4%, prefere o sistema por não ter taxa ou taxa baixa.

Em seguida, com 29,2% está a segurança, outro fator importante apontado pelos usuários. A liquidez, a praticidade e a rapidez na operação de venda aparecem em seguida, respectivamente com 20,5%, 18,3% e 18% dos votos.

Em outro tópico da pesquisa, os lojistas respondem quais as modalidades mais aceitas dentro do total de vendas. O dinheiro aparece em primeiro lugar, com 96%, seguido pelo cartão de crédito e de débito, com 91,5% e 89,7%, respectivamente.

Já o Pix ocupa a quarta posição, mas é citado por 83,9% dos lojistas, superando meios já consolidados, como boleto bancário (45,1%) e cheque (31,9%).

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