Em 26 de fevereiro de 2020 houve a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil. De lá para cá, o país acumulou mais de 34,5 milhões de diagnósticos positivos e cerca de 685 mil vidas perdidas para o vírus. Com a explosão de casos, há 43 meses, o Ministério da Saúde passou a determinar ações e medidas de prevenção, conforme protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscara de proteção facial.

Hoje, mesmo com o avanço da vacina e a redução na média móvel diária de casos e óbitos, parte da população brasileira segue apostando no uso do acessório, já não mais obrigatório na maioria dos lugares, como proteção contra essa e outras doenças. Uma recente pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que 55% dos entrevistados permanecem usando máscaras no transporte público.

Outros 49% não abrem mão do acessório nos supermercados. Já em feiras ao ar livre, o percentual de quem usa máscara é de 34%, enquanto em shoppings esse número cai para 33%. No ambiente de trabalho, 31% dos trabalhadores continuam utilizando o acessório facial.

A faxineira Adriana Fonseca, de 45 anos, conta que, mesmo com todas as doses recomendadas da vacina contra a Covid, não dispensou a máscara ao sair de casa. “Não é só o coronavírus, acredito que a máscara ajude a proteger de outras enfermidades, até mesmo de uma gripe. Ninguém quer ficar doente, né?”, questionou a moradora de Barra Mansa, “Acho que tinha que continuar obrigatório em ambientes fechados ou de muito movimento”, destaca Adriana, que tem comorbidades.

Da mesma forma, a psicóloga Sandra Ribeiro, de 63 anos, prefere pecar pelo excesso. A volta-redondense, que em 2020 perdeu o marido pela doença, acredita que a máscara seja uma importante aliada para evitar uma nova onda de contaminações. “A Covid-19 não acabou e talvez nunca acabe. Perdemos pessoas importantes e tivemos que aprender a lidar com a doença. Com a máscara me sinto mais segura e não abro mão mesmo”, relata.

Em outubro do ano passado, o governo do estado do Rio de Janeiro publicou uma regulamentação permitindo que os municípios fluminenses autorizassem a desobrigação do uso de máscaras faciais. O documento também atribuía às prefeituras a efetiva fiscalização do acessório nos ambientes em que seu uso permanece obrigatório.

Para o pneumologista Gilmar Alves Zonzin, o momento ainda requer cautela. “Passamos por um período minimamente trágico, onde as pessoas perceberam que a nossa capacidade de entendimento da doença e suas variações é limitada. Isso gera receio e insegurança e, naturalmente, acaba por causar esse tipo de postura com a virose”, afirma o médico e professor do UniFOA. “Eu, particularmente, não me considero em condições de afirmar que estamos protegidos, que tudo passou e que a gente não tem mais motivos para se preocupar. O que eu consigo ver é que estamos em condições infinitamente melhores que antes, graças também à cobertura vacinal. Mas não há nada consolidado de forma taxativa”, explica.

De acordo com Zonzin, é importante que os mais vulneráveis, como idosos e pessoas com doenças crônicas graves, ainda tenham certo grau de zelo. “É pertinente, pois nosso inimigo ainda nos é desconhecido em parte. Aprendemos muito nesses anos, mas não tudo. Muitas pessoas sofreram, inclusive perdendo entes queridos. Uma coisa é a questão regulatória, onde os governos estabelecem que em alguns ambientes o uso de máscara é obrigatório por um potencial de risco estimado maior. Em outros casos, os governos deixam a critério, e aí entra a opção de foro íntimo da população”, compara.

Ainda conforme o pneumologista, nesse posicionamento, as peças são muito variáveis a cada pessoa. “É um momento um pouco cinzento. Cinza claro, mas ainda cinzento. Essas indefinições e as informações que a gente recebe de outros países tornam as atitudes uma escolha pessoal, que deve ser respeitada e que se justifique nesse contexto de ausência de certeza absoluta, que é o que a gente vive até hoje”, conclui.

Vacinação

Segundo o especialista, o grau de confiança na vacina não lhe parece ser a causa principal para a decisão de grande parte da população em manter ou dispensar os cuidados. “Até porque nós, médicos, sinalizamos que a vacina tem uma efetividade que não é 100% e que o grande objetivo da imunização não é evitar que você tenha chance de contrair o vírus, mas sim evitar que você tenha formas graves da doença, com complicações e morte. A vacina é imprescindível, mas ela não é, assim como nenhuma outra, um elemento miraculoso que te livra de qualquer tipo de possibilidade”, pontua.

De acordo com o vacinômetro do Ministério da Saúde, mais de 471 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 já foram aplicadas no país, desde o início da campanha. Há 172 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o que corresponde a 80,9% da população.

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