Em um cenário inusitado, Volta Redonda, a maior e mais rica cidade do Médio Paraíba fluminense, ainda não registrou nenhuma pesquisa eleitoral para as eleições municipais de 2024. Apesar de já contar com sete candidatos confirmados para a corrida à prefeitura, nenhuma sondagem foi oficialmente cadastrada no sistema PesqEle da Justiça Eleitoral. Esse dado contrasta com cidades vizinhas de menor porte, que já registraram múltiplas pesquisas.
Dada sua importância política e econômica, era esperado que Volta Redonda fosse palco de intensas sondagens para mapear as preferências eleitorais. No entanto, até o momento, eleitores e analistas permanecem sem informações detalhadas sobre o cenário eleitoral local.
Comparativamente, Resende lidera a região com sete pesquisas registradas, seguida por Itatiaia com quatro, e Barra Mansa com uma. Cidades menores, como Pinheiral e Piraí, mesmo com economias e populações mais modestas, já registraram duas pesquisas cada. Outros municípios da região, como Barra do Piraí, Porto Real, Quatis, Rio Claro, Rio das Flores e Valença, também não registraram pesquisas até o momento.
Candidatos à Prefeitura
A disputa em Volta Redonda conta com figuras conhecidas e novatos no cenário político: Arimathea (PSB), Jamaica (PCO), Maicon Quintanilha (PSTU), Mauro Campos (NOVO), Neto (PP), Professor Habibe (PT) e Samuca Silva (PSDB). A ausência de pesquisas dificulta a análise do desempenho de cada candidato entre o eleitorado, aumentando a incerteza sobre os rumos do pleito.
Essa falta de pesquisas eleitorais na cidade pode levantar questões sobre o interesse dos institutos de pesquisa em sondar as intenções de voto ou sobre uma possível estratégia dos candidatos para evitar a divulgação de dados que possam influenciar o andamento das campanhas. Em uma cidade do porte de Volta Redonda, onde as discussões políticas são frequentemente acaloradas, o silêncio nas pesquisas é um fato que desperta atenção.
Pedro Paulo Bichara Vidal, conselheiro e coordenador socioambiental do Movimento Ética na Política (MEP), acredita que a ausência de registros pode refletir um contexto eleitoral mais comedido ou até mesmo dificuldades econômicas enfrentadas pelos institutos de pesquisa locais. “Enquanto as campanhas avançam, eleitores e candidatos permanecem à espera de dados que possam trazer maior clareza ao cenário eleitoral.”
Iniciativas do MEP
Vale lembrar que, em 2022, o MEP realizou uma sondagem eleitoral. Contudo, por recomendação da Justiça Eleitoral, os resultados não foram divulgados. “O MEP segue com a intenção de realizar uma pesquisa em 2024, mas tem enfrentado dificuldades para encontrar um estatístico registrado no Conre, condição necessária para validar o registro junto ao TSE”, explica José Maria da Silva (Zezinho), coordenador executivo do MEP.
Visões de Especialistas
Segundo o profissional de marketing Higor Santos, a ausência de sondagens eleitorais publicadas até o momento cria um cenário interessante e desafiador para os principais candidatos. Cada um desenvolve suas estratégias sem a pressão imediata de números. Para ele, figuras como o atual prefeito Neto, que busca a reeleição, podem se beneficiar dessa ausência.
“Sem os dados de pesquisas publicados, Neto pode continuar moldando sua imagem com base em suas conquistas passadas, sem o risco de que números negativos influenciem a percepção do eleitorado”, afirma Higor.
Por outro lado, o especialista em marketing político vê uma oportunidade para outros candidatos. “O Professor Habibe adota uma abordagem voltada para a renovação e justiça social. A falta de pesquisas eleitorais públicas também pode ser uma oportunidade de construir uma narrativa mais direta e engajadora, sem a pressão de competir com a popularidade de Neto”, observa. Em sua visão, ambos os lados devem desenvolver estratégias que priorizem a conexão direta com o eleitorado e a flexibilidade de adaptação rápida.
Adelson Vidal, historiador, destaca o impacto negativo da ausência de pesquisas para o eleitorado. “Volta Redonda viveu nos últimos anos um processo de esvaziamento político, promovido pelo atual prefeito. As pesquisas eleitorais, que poderiam servir como termômetro da realidade, não são cogitadas, pois a apatia política não provoca esse tipo de ação, nem por parte do governo, nem por parte da população”, explica Vidal.
Ele também alerta sobre os riscos dessa situação. “A ausência de pesquisas deixa o eleitor votar ‘no escuro’. Conhecendo a situação, ou tendo alguma noção do jogo de forças político, ele poderia tomar decisões estratégicas que não são cogitadas quando você não sabe o que realmente está em jogo”.
Para Vidal, a indefinição gerada pela falta de dados claros acaba afetando negativamente a mobilização política. “A militância sofre impactos distintos. Uns podem estar animados em situações ruins, outros podem estar desanimados, mas em quadros não tão ruins. Fica tudo indefinido, ninguém sabe o que está acontecendo. A meu ver, isso não é bom para ninguém.”