Uma tragédia abalou essa semana o Clube Hípico Sul Fluminense, sediado na Ilha São João, em Volta Redonda, após a morte de vários cavalos atribuída à ingestão de ração contaminada. O produto, da marca Forrage Horse, fabricado pela empresa Nutratta Nutrição Animal, estaria contaminado com monensina, uma substância altamente tóxica para equinos.
A monensina é um antibiótico ionóforo normalmente utilizado em rações para aves e ruminantes, mas letal para cavalos. A suspeita é de que tenha ocorrido contaminação cruzada durante a fabricação ou erro na linha de envase da empresa.
Cerca de 52 cavalos estavam alojados no Clube Hípico, a maioria de propriedade particular e voltada para competições esportivas. Muitos não resistiram e os que sobreviveram ainda enfrentam graves consequências clínicas. Entre os casos mais emblemáticos está o da égua da jovem atleta Rebeca, campeã nacional, que não resistiu.
Casos em outras cidades
Ocorrências semelhantes foram registradas em outras regiões do país. Em Indaiatuba (SP), a morte de 29 cavalos foi atribuída ao mesmo lote de ração. Mais de 120 animais adoeceram. No total, estima-se que cerca de 80 cavalos tenham morrido no Brasil em decorrência da contaminação.
O Ministério da Agricultura e Pecuária determinou cautelarmente o recolhimento de todos os lotes da ração Forrage Horse fabricados a partir de 8 de março de 2025. A decisão consta em ofício do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, que apontou “indícios da presença de contaminantes que podem prejudicar a saúde animal”.
Tratamentos caros e cenário de desespero
No Clube Hípico, a situação é descrita como crítica. “Todo dia perdemos um animal”, relatam atletas e tratadores. Os sintomas mais comuns incluem danos neurológicos, lesões hepáticas e intestinais, recusa alimentar e interrupção da evacuação. Os custos para tentar salvar os cavalos são altos. Em um dos casos, o tratamento de um único animal chegou a R$ 30 mil, sem sucesso.
Segundo a diretoria do clube, a ração da Nutratta era usada há anos, e a contaminação só foi percebida após os primeiros óbitos, registrados em 19 de maio. “Os cavalos começaram a recusar a alimentação. A partir daí, veio o colapso”, disse Christiane Carraro Gallucci, diretora da entidade e neta de um dos fundadores.
Ainda de acordo com ela, o distribuidor da marca recolheu os lotes de forma voluntária após as primeiras mortes em São Paulo. “Trocamos, mas nenhum cavalo comia mais”, lamentou.
Protetores de animais acompanham investigação
O vice-presidente da Sociedade Protetora dos Animais de Volta Redonda, Igor Reis, afirmou que a entidade recebeu vídeos e denúncias e notificou a Secretaria Municipal de Proteção e Defesa Animal. “A princípio achamos que o problema era local, mas descobrimos que é um caso de contaminação cruzada na produção da ração. É grave e precisa de ampla investigação. Estamos atentos para instruir a população e pressionar os órgãos competentes”, disse.
O caso gerou comoção entre profissionais do setor e na população em geral. O adestrador e ambientalista Wagner Ávila classificou o episódio como “genocídio”. “É covarde o que está acontecendo. Perder animais assim, de forma tão trágica, é uma dor imensurável”, afirmou.
O instrutor Gustavo Fazendinha gravou um vídeo pedindo ajuda: “A situação é crítica. O tratamento é caro e muitos não estão conseguindo mais pagar. Quem puder ajudar, qualquer valor é bem-vindo”.
Campanha de doações busca salvar animais sobreviventes
O Clube Hípico e os proprietários dos cavalos pedem apoio financeiro para custear os tratamentos dos animais que ainda resistem. As doações podem ser feitas via PIX, utilizando a chave 13.855.578/0001-71 (CNPJ), em nome de Christiane Carraro Gallucci. O telefone de contato é (24) 99869-6141.
Nota da redação
Procurada pela reportagem, a empresa Nutratta Nutrição Animal não se manifestou oficialmente até o fechamento desta matéria. Entre os questionamentos encaminhados, solicitou-se esclarecimento sobre as providências adotadas após a denúncia de contaminação por monensina, eventual suporte aos proprietários afetados e orientações aos distribuidores e consumidores sobre o recolhimento dos lotes suspeitos.
Foto: Foco Regional