No começo deste ano, com a disseminação da variante P.1 e a queda vertiginosa no isolamento social, fatores que provocaram um drástico aumento nos índices de mortes e contágios por Covid-19 em todo o país, estados e municípios entraram em uma verdadeira batalha, ainda mais intensa do que em 2020, contra o vírus. Em meio a um número de óbitos crescente e a formação de filas de espera em busca de socorro adequado, governantes de todo o país abriram, de forma desenfreada, novos leitos de UTI e enfermaria.
À primeira vista, a medida, que começou a ser adotada ainda no fim de 2020, parece ser uma chance de salvar vidas. Mas, de acordo com especialistas, já extrapolou seu limite. O médico intensivista Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo e coordenador do Projeto UTIs brasileiras da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), acredita que a abertura de novos leitos de terapia intensiva ocorreu de forma improvisada em todo país, o que não diminui o número de vítimas fatais da doença.
A mortalidade de pacientes em UTIs corrobora com a fala do médico: a cada 10 pacientes intubados, oito não sobrevivem. Os dados assustadores ainda são preliminares, de acordo com estudos.
Outro fator determinante, ainda de acordo com o especialista, é que a abertura de novos leitos traz a falsa sensação de segurança e normalidade para a população, fazendo com que os governantes não adotem medidas mais rígidas para atenuar a curva de casos. “Descobriu-se que quando há mais leitos, a taxa de ocupação cai. Isso é claro, se há mais leitos, mesmo quando há aumento do número de casos, de internações, de óbitos, a taxa de ocupação cai por um cálculo matemático. Logo, diz-se para a população que é possível continuar a vida normal”, adverte Ederlon Rezende.
Os fatos descritos pelo intensivista mostram o problema enfrentado em todo o Brasil. Contudo, Volta Redonda, nos primeiros meses deste ano, vem exemplificando bem as estatísticas descritas pelo especialista em UTIs. Somados os hospitais São João Batista, Munir Rafful e Regional, a Cidade do Aço terminou 2020 com 49 leitos de UTI públicos, 298 óbitos e 12.704 infectados. Os dados são do Ministério da Saúde e do Painel de Monitoramento do governo estadual.
De lá para cá, o prefeito Neto (DEM), que mesmo antes de assumir já se vangloriava da possibilidade de abrir 10 novos leitos de UTI em parceria com empresários da cidade, aumentou em três vezes a rede de terapia intensiva na cidade, segundo a secretaria de Comunicação Social. Mas, assim como as unidades, o vírus também cresceu: até quinta-feira (dia 15), Volta Redonda já tinha 679 óbitos, 381 ocorridos só neste ano, e 24.020 casos confirmados da Covid-19.
Números contestados
Cabe ressaltar que no começo do mandato, Neto e a secretaria municipal de Saúde afirmaram que o Município só contava com cinco leitos para tratar pacientes com quadro mais grave da doença, o que não corresponde aos dados de dezembro fornecidos pelo Ministério da Saúde, apenas um mês antes dele assumir o Palácio 17 de Julho. Além do fato de que novas UTIs sem aumento no isolamento e a adoção de outras medidas não combatem a doença de forma eficaz, outro ponto é aparentemente ignorado por Neto: a falta de médicos em todo o sistema público de saúde.
Recentemente, a prefeitura abriu processo seletivo, em caráter emergencial, para a contratação de profissionais que deverão atuar na Atenção Primária à Saúde, dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e da Família (UBSF), que contam com estrutura, em grande parte, sucateada, atendendo e orientando pacientes com casos suspeitos e confirmados da Covid-19.
Até o momento, a administração municipal não divulgou o total de vagas e se essas já foram preenchidas por médicos interessados em trabalhar na saúde de Volta Redonda. Na época de divulgação do processo, o Palácio 17 de Julho afirmou que os profissionais selecionados começariam a trabalhar, tão logo seus currículos fossem analisados e aprovados.