Enquanto os metalúrgicos e engenheiros da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aguardam com certa consternação por dias melhores no que diz respeito à valorização salarial nas unidades de Volta Redonda e Porto Real, a direção da empresa segue investindo forte no mercado. Na quarta-feira (dia 24), o grupo liderado pelo empresário Benjamin Steinbruch anunciou a aquisição na totalidade das ações da fabricante de embalagens para alimentos, a paranaense Metalgráfica Iguaçu.
A operação, ainda a ser aprovada pelos acionistas, vai tornar a Iguaçu subsidiária integral da CSN. Com o negócio, a siderúrgica absorve uma dívida financeira de R$ 80 milhões. Já os acionistas da Metalgráfica, em contrapartida, receberão ações da CSN.
“A combinação das operações de ambas as sociedades visa ao progresso e aperfeiçoamento do mercado brasileiro de embalagens metálicas e segue a tendência de inúmeras operações de consolidação do setor ocorridas no mundo”, destaca o comunicado assinado pelo diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Marcelo Cunha Ribeiro.
Empresa
A Metalgráfica completa 70 anos neste sábado (dia 27) e possui aproximadamente 300 funcionários em suas unidades em Ponta Grossa (PR) e Goiânia (GO). A empresa produz latas de aço para o mercado nacional e internacional de embalagens metálicas para alimentos. A operação é um passo estratégico para ampliar a capacidade de produção da divisão de embalagens da CSN.
“A tecnologia utilizada pela Iguaçu é mais moderna do que a utilizada pela CSN, melhorando a competitividade do negócio e fortalecendo a cadeia nacional, especialmente em relação às embalagens sucedâneas”, destaca o comunicado.
De acordo com reportagem do Valor Econômico, a fabricante de embalagens comprada pela CSN, teve problemas de fornecimento no terceiro trimestre por falta de matéria-prima. O impacto refletiu na receita operacional de vendas da Iguaçu, que caiu 76% (48% nos nove meses), para R$ 6,4 milhões.
Os aumentos no preço da folha de flandres em 2021 totalizaram 65,85% no ano, diz a Iguaçu, que “buscou reajustar seus preços de venda com vistas à adequação de suas margens operacionais, em processo que avança pelo exercício de 2021”. O resultado operacional foi um prejuízo de R$ 4,6 milhões no trimestre, mas ainda um lucro acumulado de R$ 4,2 milhões no ano até setembro.
Outros investimentos
O ano de 2021 vem sendo marcado por altos investimentos da CSN. Em setembro, por exemplo, o grupo adquiriu a produtora de cimentos franco-suíça LafargeHolcim. O valor de empresa calculado na transação foi de R$ 5,3 bilhões. A aquisição visa a expansão da CSN Cimentos, que já havia adquirido a brasileira Elizabeth há três meses, que atua na região Nordeste, em especial na Paraíba e em Pernambuco. O negócio foi avaliado em R$ 1,08 bilhão, com pagamento em caixa, aporte de capital e assunção de dívidas.
Diálogo
Apesar de se mostrar agressiva no mercado, a postura é bem mais conservadora quando se trata da relação com os funcionários. O Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda (Senge-VR) alega que encaminhou diversos ofícios ao departamento de Recursos Humanos solicitando a abertura de negociação sobre metas e critérios para a PPR de 2023. Até o momento sem nenhuma resposta.
Em boletim recentemente, a entidade sindical alertou para a falta de diálogo com a empresa sobre a discussão de um acordo. “Os engenheiros e engenheiras da CSN já chegaram a receber cinco salários de PPR em apenas um ano, os últimos acordos foram de dois salários, mas com a pandemia a empresa trocou por uma bonificação que, junto com o acordo coletivo, acabou sendo aprovada pelos trabalhadores, mesmo com a orientação do Sindicato para que fosse recusada”, lembrou Jogaib.
Outra movimentação do Senge-VR foi na tentativa de reabrir negociação da cláusula financeira do último acordo coletivo, que tem validade de dois anos. Segundo a entidade, a revisão dos índices seria necessária em função dos resultados apresentados pela CSN, mesmo diante da pandemia.
A CSN apresentou lucro líquido no terceiro trimestre deste ano de R$ 1,325 bilhão, um aumento de 5% na comparação com o mesmo período de 2020. Em relação ao segundo trimestre, houve uma queda de 76% em razão da piora do desempenho operacional, especialmente no segmento de mineração, além do impacto das despesas financeiras e da maior provisão para imposto de renda no período, resultado de diferenças temporárias.
No acumulado do ano, o lucro líquido atingiu R$ 12,5 bilhões frente a um lucro líquido de apenas R$ 396 milhões registrado no mesmo período de 2020.