Adriano Gannam Castilho tem 42 anos e é médico psiquiatra. Nasceu em São Lourenço (MG), foi criado até a adolescência em Angra dos Reis e mora em Volta Redonda há 11 anos. “Cresci em Angra e em minha infância eu tive muito contato com a natureza, gostava de pescar, andar de bicicleta, criar bichos”. Seus pais também são médicos, está aí o motivo por ter escolhido a profissão. Mas, foi a psiquiatria que o escolheu e isso só aconteceu durante a residência. “Já na adolescência a caminho da vida adulta optei por fazer medicina para trabalhar com meu pai e meu irmão, que eram radiologistas. Quando fui fazer internato no Rio, ao passar pela radiologia descobri que não era aquilo que gostava e fiquei perdido, porque tinha feito medicina para isso. Então, já estava vivendo conflitos com a sexualidade e agora conflitos a nível profissional. Fui acometido por um episódio depressivo, precisei passar por tratamento. Durante as sessões de psicoterapia com a psiquiatra, me descobri na profissão, porque sempre gostei de ouvir e ajudar meus amigos. E aí estou, há 18 anos cuidando do outro através dessa área que tanto amo”, lembra ele com carinho de como tudo começou.
E por falar da sexualidade, Adriano Gannam lutou contra a sua, durante anos, chegando a acreditar que era uma questão ligada à educação. “Quando entrei na adolescência, comecei a ter mais clareza dos meus sentimentos, mas foi em 2003 que tive o meu primeiro romance homoafetivo. “Fui percebendo que era possível ser feliz e amar quem eu quisesse. Isso fez com que eu amadurecesse e intensificasse a relação com meus pais que antes eram bastantes resistentes quanto a questão de ter um filho gay”. Em 2011, Adriano conheceu Marlos, com quem se casou três anos depois para formarem a família Gannam Castilho.
Nos últimos anos, Adriano Gannam alimentou um outro desejo: sair mundo afora em busca de experiências, muito mais do que viagens para destinos comuns, a fim de descobrir mais sobre o comportamento humano, novas culturas, e por que não, novas paisagens. Já viajou por mais de 30 países. Apaixonado pela fotografia documental, que trabalha o registro artístico ou cultural de um momento, com seu olhar atencioso e comprometido, cada foto conta uma história. Em cada lugar, percebe como o ser humano é diverso e como a cultura influência a vida de cada um.
Hoje, o médico e fotógrafo mergulha de corpo e alma em sua paixão e verdadeira vocação: conhecer e aprofundar-se nas histórias de vida de cada um, seja quem for. Entre atendimentos, conversas, viagens e fotos, vai conhecendo a cultura e as histórias pessoais de cada um, permitindo-lhe viver situações inesperadas.
Agora, mais do que ir e retornar com novas experiências de outros países, Adriano Gannam leva novas oportunidades a crianças que nunca tiveram uma. Segundo ele, uma cena que nunca vai esquecer; ocorreu quando esteve em visita à Etiópia. Ao passar por uma comunidade carente, uma criança bateu no vidro do carro e, ao invés de pedir dinheiro ou comida, fez um sinal com as mãos pedindo caneta e papel para desenhar. “Foi quando caiu a minha ficha. Eu posso sim fazer algo por eles. Às vezes, nos preocupamos em fazer algo grandioso e deixamos de fazer por não termos essa condição. E aí, não fazemos nem o que temos condição de fazer. Foi quando decidi que, em cada viagem, levaria bolas para as crianças brincarem, lápis de cor e papel para estimular a criatividade. Eles precisam, eles merecem e eles não têm. E, hoje, meus pacientes e amigos me ajudam doando os materiais para que eu possa levar. Eu sei que é pouco, mas sei que estou deixando um pouco de mim e de todos que ajudam. Entendo que o bem é a corrente mais forte e volto sabendo que deixei alguém com motivos para sorrir. Volto de cada viagem sabendo que trouxe um pouco da cultura deles dentro de mim e deixei um pouco do que acredito em cada um deles”, explica o médico psiquiatra.
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