Neopentecostalismo
O neopentecostalismo evangélico é fruto das décadas de 70 e 80 do século XX. As igrejas neopentecostais têm forte apelo emotivo, aversão ao ecumenismo e pouco apreço pela vida intelectual. Sua liturgia é espetaculosa, recheada de curas, manifestações demoníacas e profecias. Os sermões são de autoajuda, com distorções grosseiras dos textos bíblicos, tirados do contexto para servirem ao propósito das lideranças religiosas. Este grupo é o que mais cresce no Brasil, segundo pesquisas.
Um elemento importante para se entender tal evolução no número de fieis está relacionado à sua própria doutrina religiosa, a chamada Teologia da Prosperidade. Com raiz norte-americana, e tendo como principal divulgador o pastor protestante Kenneth Hagin, a TP chama o religioso a ser fiel no seu comportamento e nas suas obrigações financeiras, ganhando em troca benefícios materiais, de um emprego melhor até o carro do ano.
Ao contrário das formas ascéticas de vida cristã, a teologia da prosperidade prega a felicidade e o êxito financeiro aqui e agora. Em tempos de crise, como apontam estudos de Marcelo Neri, o neopentecostalismo e sua doutrina de sucesso econômico crescem. A falta de expectativas diante do quadro social precário, empurra as pessoas para soluções mágicas e rápidas, prometidas por lideranças carismáticas conectadas nas redes sociais e com grande apelo midiático.
A ação deste grupo já virou força política. A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, é o principal exemplo da força eleitoral e política destes grupos. A IURD conta com um poderoso canal de televisão, rádios e até partido político. Elege deputados, vereadores, e até prefeito de uma cidade importante como o Rio de Janeiro. Somando-se a outras bancadas religiosas, o neopentecostalismo forma grupos fortes no Congresso, influencia opiniões em torno de pautas conservadoras e até reacionárias no campo dos costumes, como a oposição ao aborto, ao planejamento familiar e aos direitos civis da comunidade LGBT.
Na eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República, os neopentecostais foram importantes, e seguem influenciando. No novo governo, conseguiram impedir a nomeação de um progressista moderado ao MEC. A força desse grupo religioso só cresce. Avança principalmente nas periferias, contando com a desconfiança do povo em relação às instituições constituídas.
Enquanto essas igrejas sabem falar com o povo sofrido, com uma comunicação especializada e fundada em técnicas de psicologia, partidos e movimentos sociais se distanciam dos setores subalternos por precariedade comunicativa. O triunfo do reacionarismo em 2018 tem tudo a ver com isso.
*Adelson Vidal Alves é historiador