Diferente do esperado pelo mercado, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) optou por não dar início ao processo de abafamento do alto-forno 2 na última sexta-feira (dia 16). Engana-se, porém, que acha que a decisão foi engavetada pela direção da empresa – leia-se o presidente-executivo do grupo, Benjamin Steinbruch.
De acordo com a agência de notícias Reuters, a demanda fraca por aço e acúmulo de estoques fizeram a CSN preparar planos para um abafamento do AF-2 da Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda. A afirmação foi dada por executivos da companhia na sexta-feira (dia 15), ressaltando que a empresa acumulou inventário suficiente para uma parada até o final do ano.
“Do ponto de vista de produção, faz todo o sentido a parada”, disse Benjamin Steinbruch em teleconferência com analistas. “Faz sentido porque vai permitir vender mais minério de ferro, usar menos pelota, teremos menos dependência de coque externo e considerando o nível de estoques que temos”, acrescentou o executivo.
O empresário, porém, afirmou que a empresa está considerando “questões sociais” da medida e seus impactos em meio à pandemia de Covid-19, que tem pressionado a população com desemprego. O número especulado de demissões somente na CSN seria de duas mil pessoas, incluindo todas as unidades do grupo.
A alternativa à manutenção da atividade do alto-forno 2 seria busca de mercados de exportação, disse o executivo. “Aí faria sentido continuar a trabalhar com todas as linhas de equipamentos e esperar uma recuperação (da demanda) mais para o fim do ano e entrar embalado no ano que vem”, disse Steinbruch.
Mas embora a demanda esteja fraca, com quedas nas vendas de veículos, e redução na procura por itens como eletrodomésticos, a CSN deve elevar seus preços em 10% a 12% em junho no Brasil, diante do que considera como insustentável o nível atual de valores da liga no país, após a expressiva desvalorização do real contra o dólar neste ano.
“Não tem como escapar disso. Vamos corrigir em junho e vamos ver quem compra. Não tem como não corrigir”, disse o diretor comercial da CSN, Luis Fernando Martinez, na teleconferência. Segundo ele, o aço importado no Brasil tem atualmente um preço 12% a 15% menor que a liga produzida no país. Esta diferença é chamada de “prêmio” no setor.
Por outro lado, a desvalorização do câmbio torna o aço da companhia mais competitivo no exterior, e Martinez afirmou que a CSN já está com toda sua cota para os Estados Unidos neste ano, de 300 mil toneladas, comprada. Por conta disso, a empresa está buscando clientes no Canadá, México e América Latina.
Ainda de acordo com a agência Reuters, a expectativa da CSN é que o custo de produção de aço da empresa poderá cair com uma eventual parada do AF-2, uma vez que o alto-forno 3 passou por uma grande reforma no ano passado o que reduziu seu custo operacional.
A CSN fechou o primeiro trimestre com prejuízo de 1,3 bilhão de reais, impactada pelo efeito do câmbio e queda na produção de minério de ferro ocasionada por fortes chuvas em Minas Gerais e atrasos em concessões de licenças de operação.
Apesar da queda na demanda por aço e da desvalorização do real, a CSN manteve meta de reduzir sua dívida em cerca de 10 bilhões de reais até o fim de 2021, para abaixo de 23 bilhões de reais, e a expectativa de que sua alavancagem cairá das atuais 4,78 vezes para 3 vezes o Ebitda no período.
Segundo o diretor de relações com investidores da CSN, Marcelo Ribeiro, a conta das projeções para 2021 segue incluindo 1 bilhão de dólares em vendas de ativos e o restante se refere à geração de caixa da empresa.
Steinbruch afirmou que a área de mineração conseguiu licenças adicionais de operação em maio e com o fim do período de chuvas a produção da unidade responsável por 67% do Ebitda ajustado da CSN deve subir a partir do segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano.