Desde os primeiros relatos do surgimento da Covid-19, a politização das questões sanitárias relativas ao enfrentamento da pandemia ganhou espaço no debate entre autoridades de diferentes
países. O que deveria ser uma busca incessante pela saúde da população, sem ideologia partidária, transformou-se em uma disputa que prioriza o individual e ignora o bem-estar do coletivo.

A guerra de egos chegou a Volta Redonda. A secretaria de Saúde do município suspendeu o convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para tratamento de casos leves da Covid. Pelo acordo, firmado em junho do ano passado, pacientes que apresentassem os primeiros sintomas do novo coronavírus, deveriam procurar as unidades de saúde.

Eles seriam medicados com Nitazoxanida, substância utilizada no tratamento da febre amarela, por exemplo, para impedir a rápida evolução da doença. Até 26 de dezembro de 2020, Volta Redonda tinha 604 pacientes que utilizaram o tratamento com este medicamento para tentar reduzir a quantidade de internações.

Desse número, apenas duas pessoas foram internadas com sintomas leves, e liberadas sem mais complicações da doença. Dois pacientes morreram, sendo que um iniciou o tratamento apenas no quinto dia de sintomas e o outro não fez o uso conforme a orientação, tomando apenas três doses.

Com o início da atual administração municipal, empossada em 1º de janeiro, novos os dados não foram apresentados pela prefeitura de Volta Redonda à equipe da UFRJ. A informação foi confirmada pelo infectologista Edimilson Migowski. “Recebi no dia 26 de dezembro o último relatório da secretaria municipal de Saúde. Não tenho mais
conhecimento da utilização do protocolo no município, o que é muito triste, pois os resultados eram maravilhosos”, relata o médico em contato exclusivo com a Folha do Aço.

Segundo Migowski, a conduta clínica praticada a partir do convênio previa a utilização da Nitazoxanida até o terceiro dia de sintomas, em pacientes com mais de 40 anos e comorbidade. “Inclusive estive em Volta Redonda no dia 15 de janeiro para conversar com a atual secretária de Saúde, que não pôde me receber. Fui atendido pela
chefe de gabinete, que me informou que não havia mais interesse do município em continuar o convênio com a UFRJ, o que é uma pena em função dos resultados que estavam sendo apresentados. Mas ainda vou encaminhar ofício para a prefeitura”, explicou.

Fato é que o número de óbitos no município registrou um crescimento
alarmante. Até o dia 29 de janeiro, 390 pessoas morreram em função da doença. O boletim do dia 29 de dezembro, 30 dias atrás, mostra que o número era de 288.

Protocolo

O município de Volta Redonda iniciou o tratamento precoce em julho de 2020, com a assinatura do convênio com a UFRJ. A conduta clínica adotada previa a indicação da Nitazoxanida para os pacientes acima de 40 anos e com comorbidades. Os pacientes poderiam se dirigir a um dos Centros de Triagem e, por meio da assinatura de um termo de aceitação, receber o medicamento.

Na ocasião da apresentação do convênio, o infectologista Edimilson Migowski, apresentou detalhes do tratamento. “O medicamento é seguro e eficaz também no tratamento de outras doenças, como dengue, zika e chikungunya. E ao fazer o tratamento precoce, a gente consegue evitar que a doença evolua e, assim, impedimos também a ocupação dos leitos”, frisou.

O infectologista explicou ainda alguns mecanismos de ação do medicamento, como reduzir a produção de interleucina 6, que provoca a “tempestade” inflamatória; e reduzir o metabolismo mitocondrial e, consequentemente, a capacidade das células replicarem os componentes dos vírus; entre outros.

Procurada, a secretaria de Comunicação da prefeitura de Volta Redonda não retornou até o fechamento desta matéria

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