Moradores do Jardim Amália 1, em Volta Redonda, estão revoltados e se mobilizam para impedir a execução de um projeto que vai gerar, segundo eles, sérios impactos negativos socioambientais, cuja estrutura do bairro, um dos mais tradicionais da cidade, não suportará. Uma empresa do ramo imobiliário está anunciando a venda de unidades imobiliárias para a construção de um empreendimento de nove andares, na pacata Rua Corifeu Marques.

Batizado de Link Flats, como aparece em outdoors e nas redes sociais, o plano é erguer dezenas de apartamentos de pouco mais de 22 metros quadrados, sem vagas de carros para todos. De acordo com o arquiteto Marcelo Bougleux, um dos apoiadores do movimento, como a legislação não permite imóveis só com quitinetes, os responsáveis por esses tipos de edifícios conseguem aprovação na prefeitura como hotel ou unidade habitacional transitória, o que é permitido por lei.

“É uma tática nefasta para as localidades onde essas chamadas Torres de Babel são inseridas. Essa prática escamoteada faz com que a obrigatoriedade por uma vaga de garagem por unidade, por exemplo, se torne desnecessária, e passe a valer apenas para 30% para um projeto desses. E, o mais grave, sendo “hotel”, não pode ser comercializado da forma que está sendo feita, a toque de caixa, com divulgação maciça nas redes sociais”, alerta Bougleux. Outros dois empreendimentos, supostamente nos mesmos moldes, estariam em andamento no município.

 Abaixo-assinado

Os moradores do Jardim Amália 1 vão entregar um abaixo-assinado, contendo pelo menos 200 assinaturas, ao prefeito Neto (DEM), à direção da Câmara de Vereadores e procuradores do Ministério Público Estadual e até ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), pedindo o embargo imediato do projeto. Os argumentos dos moradores se respaldam ainda nas leis municipais 1414/77 e 1412/77, que tratam do assunto. “Mas confiamos muito na sensibilidade do prefeito (que mora a menos de 200 metros do local). Ele, mais do que ninguém, sabe que o bairro não tem a mínima estrutura para receber mais tantos novos moradores”, argumenta Márcio Ricardo Freitas, 58 anos, que mora na localidade, onde, na frente do terreno, já se vê propaganda gigante do edifício.

Morador há 50 anos no bairro, Josimar Peixoto, de 62 anos, alega que não teria tido sequer estudo de impacto ambiental para a construção prestes a sair do papel. “Como podem construir um imóvel disfarçado como hotel, como está registrado na Prefeitura, vender como flat e sem garagem para todos? Isso é gato por lebre. As ruas da região não suportarão novas vagas de estacionamentos, entre outros transtornos. As poucas que existem, mal atendem os moradores. Além disso, os encanamentos de água e esgotos são velhos, e vivem vazando, quando há movimento maior de veículos nas estreitas vias”, lamentou Josimar.

Dulcinéia dos Santos, 46 anos, que também reside na região, lembra que a vizinhança teme ainda que as unidades sejam alocadas por repúblicas de estudantes. “O bairro, com predominância aparente de idosos, já tem um histórico traumático de badernas envolvendo repúblicas, com vários registros na polícia nos últimos anos, à exemplo de uma que havia na subida da Rua Almirante Barroso”, destacou.

Versão

Questionada pela Folha do Aço se a Prefeitura tomou conhecimento da reclamação dos moradores, a secretaria municipal de Comunicação Social afirmou, de forma lacônica, que “sim” e que o caso “está em análise”. Sobre o registro da obra, a Secom garantiu que consta como “Residencial Transitório” e que “o projeto apresentado tem vagas de garagem, conforme previsto em lei”.

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