A primeira semana de dezembro foi marcada pelo luto e apreensão na Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda. E não era para menos. Além da morte do operário João Vitor Cancio, de 23 anos, atingido durante o içamento para a substituição de uma Ponte-Rolante, outra questão causou receio na fábrica da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). É que de surpresa a empresa começou a promover uma onda de demissões.

No total, mais de 100 pessoas foram comunicadas da dispensa nas unidades de Volta Redonda, de Porto Real (Galvasud) e de Arcos (MG). Os cortes atingiram profissionais com décadas de dedicação à empresa, entre gerentes, analistas, pessoal da área administrativa e do chão de fábrica.
A Folha do Aço apurou que o clima é de total incerteza. O receio é de que novas demissões ocorram antes da virada do ano e se estendam pelos primeiros dias de 2022. Para Silvio Campos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, as demissões estão na contramão do atual cenário da empresa.

“Uma situação absurda. Não há justificativa para a demissão desses trabalhadores da empresa. A CSN está anunciando investimentos, como na quinta-feira (dia 9), em que a imprensa divulgou que a empresa avalia investir US$ 3 bilhões no exterior. Fora a apuração de lucros extraordinários diante do cenário da pandemia, sem nenhum benefício para os trabalhadores, que amargaram um acordo coletivo sem reajuste por dois anos”, cita o sindicalista.
Silvio informou que uma reunião de emergência foi solicitada com a direção da CSN para esclarecer as medidas adotadas. Ele, no entanto, lembra que, com a Reforma Trabalhista, deixou-se de exigir que a homologação fosse realizada no Sindicato o que, com isso, não permite que a entidade saiba o número exato de demissões feitas pela empresa. Procurada pela Folha do Aço para comentar as demissões, a assessoria de comunicação da CSN não retornou o contato.

Surpresa
A surpresa geral com as demissões tem como base os números recentes obtidos pela CSN, mesmo em plena pandemia da Covid-19. No final de novembro, por exemplo, o grupo adquiriu a totalidade das ações da fabricante de embalagens para alimentos Metalgráfica Iguaçu, de Ponta Grossa (PR).
E não para por aí. No CSN Day, evento promovido na quarta-feira (dia 8), o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch anunciou que a companhia terá investimentos de US$ 3 bilhões para novos projetos e expansão fora do Brasil no próximo ano.
O montante inclui uma pequena usina de aços longos e um novo projeto de planos nos Estados Unidos. Também contempla a duplicação da fábrica de Portugal, além da produção para o setor de construção na Alemanha.

“Temos uma companhia que é modelo de austeridade. Brigamos por cada tostão”, afirmou Steinbruch, reforçando a tese que muitos funcionários da empresa já conheciam.
O sinal de que o chefão do grupo não está para brincadeira fica evidenciado também em outros dois pontos. Primeiro, quando ele projeta que a CSN “terá agressividade ímpar” para ganhar mercado interno em 2022. O segundo é quando ele verbaliza em sua fala que “a empresa está buscando mais eficiência com menos pessoas”.
Steinbruch disse ainda que, embora pouco percebida, a companhia passa também por uma quarta revolução industrial. O empresário citou a modernização dos processos, eletrificação da frota e investimentos em automação da CSN, que avalia a criação de uma diretora de tecnologia.

Acidente
A semana de tensão na CSN não ficou resumida às demissões. O funcionário de uma prestadora de serviço morreu no final da tarde de terça-feira (dia 7), em acidente no interior da Usina. Outras duas pessoas ficaram feridas e precisaram ser atendidas em um hospital particular.
Uma ponte-rolante (denominada de PR-313) cedeu quando funcionários da empreiteira Mamuth realizavam uma atividade para a substituição e içamento da mesma. O equipamento, que atendia o Laminador de Tiras a Frio 3 (LTF#3), instalado próximo à GDL (altura do bairro Conforto), partiu, atingindo em cheio o teto de um guindaste em que estava João Vitor Cancio.
A vítima fatal, de 23 anos, residia na Vila Pirituba, em São Paulo. Os feridos foram identificados como José Roberto da Silva, 64 anos, e José Resende de Jesus, de 52. Ambos também eram naturais de São Paulo.

Em nota, a CSN lamentou o falecimento do colaborador e garantiu que prestará toda assistência a sua família do colaborador. “As causas e circunstâncias do acidente estão sendo apuradas”, diz o comunicado. O caso é apurado pela Polícia Civil e o Ministério Público do Trabalho, que já notificou a empresa.

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