O povo brasileiro tem uma enorme capacidade de criar memes para ilustrar as mais diversas situações. O termo é conhecido e utilizado no “mundo da internet”, referindo-se ao fenômeno de “viralização” de uma informação, ou seja, qualquer vídeo, imagem, frase, ideia, música etc, que se espalhe entre vários usuários rapidamente, alcançando muita popularidade.
A facilidade para criar memes também não é diferente entre os Volta-redondenses. Antenado aos acontecimentos recentes, um grupo da Cidade do Aço mobilizou-se para realizar a “Passeata do Pó”. O nome pode causar estranheza, mas é bom esclarecer que em nada se assemelha, por exemplo, a um movimento para a legalização do consumo de substâncias entorpecentes – como a polêmica recém-realizada ‘Marcha da Maconha’.
Desta vez, o movimento – a princípio sem participação partidária – é para dar maior visibilidade à poluição do ar em Volta Redonda. A amplitude e força das redes sociais mais uma vez ficou evidenciada. A pressão por uma ação imediata das autoridades recebeu apoio popular, surgindo então a proposta da “Passeata do Pó”.
A manifestação está programada para domingo (dia 17), data do aniversário de 68 anos da cidade. A concentração acontecerá às 9 horas, na Praça Brasil, na Vila Santa Cecília. A organização sugere que os participantes compareçam vestidos de camisa na cor preta e levem em sacos plásticos o pó preto removido das residências.
Debates
Nos debates – seja ele virtual ou não -, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é considerada a principal causadora da liberação de fuligem sobre a cidade. A empresa, por sua vez, minimiza a sua responsabilidade no caso. “O que acontece é que, nesta época do ano, a região é acometida pelo fenômeno meteorológico de inversão térmica, que impede a circulação natural dos ventos. Isso aumenta a sensação de poluição do ar”, disse o diretor de Operações do Setor de Metalurgia da CSN, Fabian Franklin em reunião na terça-feira (dia 12) na prefeitura de Volta Redonda.
Ainda segundo Fabian, a empresa tem aprimorado a manutenção nos equipamentos de controle da poluição e tem até 2025 para reduzir em 40%, em relação a 2020, a emissão no ar de partículas popularmente chamadas de pó preto. Conforme a Folha do Aço noticiou em reportagem publicada na edição da semana passada (nº 560), a CSN também chegou a declarar que “não há condições críticas prejudiciais à saúde” dos volta-redondenses.
Cobrança
O crescimento da mobilização popular, em especial nas redes sociais, levou as autoridades do município a se mexerem. No final da tarde de terça-feira, o prefeito Neto recebeu representantes da CSN em seu gabinete. Segundo foi divulgado pela secretaria de Comunicação Social do Palácio 17 de Julho, o objetivo do encontro foi cobrar da empresa agilidade no cumprimento das ações previstas pelo Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado em 2018 com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Além disso, Neto agendou para o dia seguinte (quarta-feira), uma vistoria técnica com a equipe de Meio Ambiente da Prefeitura no interior da Usina Presidente Vargas. “Em todos estes anos como prefeito, não lembro de ter visto a situação como está e de ouvir tanta reclamação dos moradores”, falou o chefe do Executivo.
O prefeito questionou também sobre a manutenção dos equipamentos de controle da emissão de poluição atmosférica, principalmente, da sinterização. E só agora, depois de uma inércia encerrada após pressão externa, lembrou que a população está sendo muito afetada pelo pó preto lançado no ar pela empresa. “Sabemos que, pelo TAC, a CSN tem um prazo até agosto de 2024 para implantar as medidas eficazes de controle da poluição do ar, mas a população não aguenta mais. É preciso que algo seja feito com urgência”, disse Neto.
O TAC firmado com o Ministério Público Federal prevê investimentos na melhoria da qualidade do ar de Volta Redonda, com adequações na Usina, atendendo as normas ambientais vigentes. Para resolver a questão da emissão das partículas do pó preto que são lançadas na atmosfera pela siderúrgica e geram muitas reclamações dos moradores, está prevista a instalação de equipamentos modernos para impedir que elas sejam lançadas no ar.
Também participaram da reunião os secretários municipais de Meio Ambiente, Miguel Arcanjo, e de Transporte e Mobilidade Urbana, Paulo Barenco; o presidente do Saae-VR; os vereadores Sidney Dinho e Paulinho AP; além dos gerentes de Meio Ambiente, Aldo Santana, e Jurídico, Fernando Carlos, da CSN.
Pó preto para todo lado
A Folha do Aço noticiou na edição passada (nº 560) que a emissão de grande quantidade de partículas popularmente chamadas de pó preto não faz distinção do lado da cidade. Sofrem os bairros da margem esquerda e os da direita do Rio Paraíba do Sul, causando transtornos diários às famílias da Cidade do Aço.
Áreas distantes da fábrica da CSN, como os bairros às margens da Rodovia dos Metalúrgicos, também vêm registrando o acúmulo do pó preto. “Moro há muitos anos no Vista Verde e nunca vi tanto pó preto aqui. Entendo que não está chovendo, mas de um dia para o outro a gente já consegue observar o acúmulo. Não é possível que não haja nenhuma autoridade na cidade que esteja vendo isso”, disse Leni Menezes.
As redes sociais têm sido usadas para que a população manifeste o seu descontentamento com a situação, mas, segundo a CSN, os parâmetros de qualidade do ar comprovam que não há condições críticas prejudiciais à saúde e ao bem estar da população. “Todo dia tem muito pó preto nas janelas, nos móveis. Está terrível, acaba com nossa saúde”, escreveu Márcia Maria Restier.