Referência em mais de quatro décadas de ensino vocacional voltado à música em Volta Redonda, o Conservatório Santa Cecília enfrenta sérias dificuldades financeiras. Fundada em 1976, pela professora Iara Resende, a instituição independente, que não conta com repasse do Poder Público, corre o risco de encerrar a prestação do serviço.

Colecionando apresentações em diversos locais da cidade, como Teatro Gacemss, Escritório Central, Cine Nove de Abril, Escola Técnica Pandiá Calógeras, Colégio Batista, Fundação CSN etc, o Conservatório sofre os efeitos da pandemia da Covid-19. Desde então, a redução no número de matrículas tem afetado o andamento do projeto.

“A nossa melhor fase foi de 1980 a meados do ano 2000. Tivemos profissionais de alto nível, sempre graduados e especializados na área de atuação. Estamos ligados ao Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro e somos a primeira escola da região a dar certificado em nível técnico. Preparamos alunos para as Forças Armadas e os vestibulares das faculdades de música pelo país afora. Também sempre tivemos uma parceria com o projeto Cidade da Música, da responsabilidade do professor Nicolau Martins de Oliveira”, lembra Iara.

Assessor da diretoria do Gacemss, Arthur de Carvalho Júnior lamenta o momento enfrentado pela instituição voltada ao ensino da música. “Sempre foi muito gratificante para o Gacemss abrir os seus teatros e receber nos seus palcos as apresentações dos alunos do Conservatório de Música Santa Cecília”, recorda. “Eles eram brilhantes, pareciam já grandes profissionais da música. Para nós é uma triste notícia a possibilidade de fechamento de uma instituição artística como o Conservatório”, completa.

Funcionamento

Durante 34 anos, o Conservatório de Música funcionou na Rua Sessenta, no bairro de mesmo nome. Atualmente, a instituição está localizada no número 22 da Rua 58, na Vila. Pela escola, segundo Iara Resende, já passaram aproximadamente quatro mil alunos nesses 46 anos.

“Em função da pandemia, perdemos muitos alunos e, consequentemente, isso nos gerou problemas financeiros. Atualmente, temos 30 alunos pagantes e 10 bolsistas estudando com quatro professores na área de musicalização, teoria, harmonia, piano, violão, bateria e teclado”, enumera a professora.

Idealizada por iniciativa da turma do 7º ano fundamental de Teoria Musical do Conservatório, uma rifa está sendo vendida e correrá no dia 30 de novembro, através de sorteio da Loteria Federal. A esperança é que o valor arrecadado ajude a cobrir algumas despesas. “O objetivo é tentar equilibrar nossas finanças, já que adquirimos muitas dívidas com a perda de 30 alunos nesses últimos meses”, afirmou Iara.

Reconhecimento por

personalidades da música

Uma das mais conceituadas profissionais do país, a pianista Sarah Higino ressalta que a música transforma a vida de milhares de pessoas. Ela acrescenta que o fechamento do Conservatório Santa Cecília seria uma grande perda para a cultura e educação musical da cidade.

“É notório [o prejuízo], já que pesquisas a cada ano comprovam a importância da música na vida das pessoas sendo elemento coadjuvante na formação intelectual das crianças e jovens”, pondera a maestrina. “O Conservatório Santa Cecília existe há décadas na nossa cidade e é responsável por uma parcela significativa de pessoas que desenvolveram seu potencial musical através dos ensinamentos tão bem ministrados pela professora Iara Resende”.

Da mesma forma, o maestro Nicolau Martins de Oliveira acrescenta que a dificuldade financeira que o país atravessa tem afetado não só o Conservatório, mas também outras áreas do trabalho. “Mesmo nas escolas dos governos estaduais e municipais, as dificuldades financeiras têm sido grandes. Hoje em dia, para as pessoas adquirirem um teclado, um piano e manterem uma aula paga, está sendo muito difícil. Mas a música é indispensável para todas as pessoas”, observa.

O maestro cita a valorização do segmento em outros continentes, como a Europa, por exemplo. “Em países como a Suíça, a criança primeiro é musicalizada para depois ser alfabetizada, pois a música dá um desenvolvimento mais completo do que toda e qualquer arte. Por isso, ter um Conservatório em uma cidade é a expressão de um desenvolvimento, não só na música, mas na cultura e na vida das pessoas”, explica.

Nicolau ainda observa outro ponto importante. “Quem faz música sempre tem uma visão maior à sua volta do que quem não faz, porque a música desenvolve os dois hemisférios. E, assim, a gente tem conhecimento e facilidade de enfrentar as ciências exatas e as abstratas. Portanto, o Conservatório é uma necessidade, já que nem todo mundo estuda nas escolas municipais para participar dos projetos que temos nelas. Eu conheço a Iara desde que ela começou e espero que as pessoas que gostam de música possam se dirigir até ela, pois ela é a profissional que nós sempre indicamos”, conclui.

A professora e pianista Rose Azevedo, que atuou por cerca de 10 anos no Conservatório Santa Cecília, lamenta o déficit financeiro que a escola vem enfrentando. “Um espaço cultural tão rico, uma instituição que merece e precisa ser valorizada. Espero que o poder público ajude de alguma forma e impeça o fechamento desta valiosíssima instituição, que sempre se comprometeu com a excelência de qualidade no ensino da música e que forma tantos alunos em nossa cidade”, comentou.

Alunos lamentam a situação

Chimeni Halfeld, de 36 anos, estudou por quatro anos no Conservatório de Música de Volta Redonda. Para ela, se houver fechamento, não só a cidade perde como também músicos de todo o Brasil.

“Conservatório de música é uma grande oportunidade para todos que querem e desejam estudar música, profissionalmente ou não. A escola é grande responsável por muitos dos profissionais formados em várias partes do país e do mundo, pois há pessoas que conheço que estudaram no Conservatório e que atuam na área musical por todo o Brasil e, também, em outros países. O Conservatório, para mim, ultrapassa somente uma escola, pois o tratamento para com os alunos se torna uma grande família, tanto por parte da professora Iara quanto dos demais professores, além do nível musical altíssimo”, revela Chimeni.

Aos 70 anos, Ivan Esaú dos Santos conta que estudou no Conservatório por muito tempo e, depois de aposentado, decidiu voltar a ter aulas. “Estudo piano, teoria musical, arranjo/orquestração e composição. Muita gente nesta cidade e em municípios vizinhos estudou e estuda nessa escola. Se fechar, vai deixar um enorme vácuo”, avalia.

Cláudia Sabença é mãe da jovem Cláudia Cristine Sabença, de 17 anos, que estuda no Conservatório Santa Cecília há cerca de três anos. Para ela, a entrada da filha na escola de música foi um grande marco e proporcionou um importante desenvolvimento para a adolescente em conteúdo prático e teórico.

“É como se fosse um projeto de vida para a minha filha, que tinha esse sonho de poder tocar piano. Volta Redonda tinha que reconhecer o valor e a importância do Conservatório de Música Santa Cecília, pois ela é imprescindível para a cidade. Ali dentro há sonhos de muitos estudantes. Jovens que se encontram, cada qual com seu instrumento, com seu projeto, com seu sonho de viver a música. A vida da minha filha mudou e hoje, aos 17 anos, ela soma valores que a gente não pode nem medir e nem pesar”, detalhou. “A música foi capaz de mudar muita coisa nas nossas vidas. Por isso eu só consigo expressar todo o meu amor, meu carinho e minha alegria por essa escola e gratidão pela Iara Resende, uma pessoa maravilhosa, prudente, expressiva e merecedora de todo o mérito. O Conservatório de Música Santa Cecília é muito importante e a prefeitura deveria valorizar o trabalho que é feito ali, pois essa escola representa muito para nós. Não podemos perder”, completa.

Como ajudar?

Para participar da rifa que visa a continuidade dos trabalhos do Conservatório Santa Cecília, basta acessar o link https://riffa.co/717b144a-3b89-11ed-be67-16bd606b25e7 e escolher um número. Os prêmios são R$ 500 para o 1º lugar; um violão para o 2º lugar; e uma cesta de chocolates para o 3º lugar. A rifa conta com o apoio da Paróquia São Sebastião do Retiro, representada pelo Pároco Antônio Carlos, o Padre Toninho, que também é aluno de piano, teoria e harmonia no Conservatório.

Foto ilustrativa

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