A poucos meses de concluir seu quinto mandato, o prefeito Neto (PP) de Volta Redonda autorizou a publicação de um edital de licitação para a construção de uma nova estrutura voltada para a Escola Municipal de Hipismo (EMH). O projeto, que pode custar aos cofres públicos até R$ 18,2 milhões, prevê a criação de um Clube Hípico na Ilha São João, com prazo de conclusão de 10 meses. A licitação está marcada para o dia 14 de agosto, às 9h.
Desde a fundação da EMH em 2003, a cidade tem visto um aumento no interesse pelo hipismo, um esporte tradicionalmente associado às elites. Atualmente, cerca de 60 crianças e adolescentes, com idades entre 8 e 16 anos, treinam regularmente na escola. O entusiasmo do prefeito Neto com o progresso desses jovens atletas parece ser um dos motivadores para a expansão das instalações.
No entanto, a decisão de alocar uma quantia tão expressiva de recursos públicos para um esporte de acesso ainda limitado gera preocupações. A justificativa oficial aponta para a promoção do bem-estar dos usuários, a melhoria da infraestrutura atual e a necessidade de adaptação às exigências do programa de hipismo. No entanto, o edital do processo licitatório (nº 2597/2024) não detalha claramente o escopo da obra, exigindo que as empresas interessadas obtenham o documento completo na sede do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPU), responsável pelo planejamento e cálculos financeiros.
A proposta inclui baias de 14,89 m², pisos de porcelanato 80×80 tanto nas áreas internas quanto externas, além de instalações administrativas e banheiros adaptados. Apesar da qualidade esperada da nova infraestrutura, o valor investido e o momento de execução levantam dúvidas quanto à prioridade desse gasto, especialmente diante de outras demandas urgentes da comunidade.
Vereadores questionam valor do investimento
O vereador Rodrigo Furtado (PL) manifestou sua oposição à construção de um Clube Hípico municipal. “Não sou favorável a essa obra. Trata-se de um esporte elitizado e de alto custo de manutenção para os cofres públicos. Existem necessidades mais urgentes, como na área da saúde, onde temos obras paradas devido à falta de pagamento às empreiteiras, como é o caso da UPA Santo Agostinho e do Cais Conforto, que estão com as obras interrompidas há dois anos. A população do bairro está sem acesso à saúde de forma mais próxima, necessitando de deslocamento por ônibus e aplicativos para consultas, o que é um absurdo”, afirmou Furtado.
O parlamentar citou questões que deveriam ser tratadas como prioridade pelo governo nessa reta final de mandato. “Não é só na área da saúde que enfrentamos problemas. A mobilidade urbana está um caos. Em casos como na Rua 33, empresários precisaram demitir funcionários devido aos transtornos. Após muita reclamação, foi colocado um asfalto provisório de baixa qualidade para reduzir o pó e o trânsito desviado, mas será inevitável gastar novamente para uma solução definitiva. E quem pagará por isso? Nós, contribuintes.”
Furtado criticou a falta de consulta à Câmara sobre grandes obras em Volta Redonda. “Por que tantas obras de grande impacto são discutidas apenas dentro do gabinete, sem consulta à Câmara? Por exemplo, a entrada do 28º Batalhão de Polícia terá que ser trocada porque uma das entradas do viaduto foi feita em um local de trânsito das viaturas. O viaduto no Aero Clube foi projetado com a altura errada, inviabilizando a passagem de carros de grande porte. Quem arcará com o custo desses erros de projeto? Novamente, nós, contribuintes.”
Ele sugeriu que mudanças de grande impacto no município sejam discutidas com os vereadores e representantes da sociedade “para garantir que atendam melhor aos anseios dos munícipes”.
Por sua vez, o vereador Raone Ferreira (PSB) reconhece o crescimento do hipismo em Volta Redonda e destaca a importância da equoterapia, um tratamento indicado para diversas patologias, como síndromes, paralisia cerebral, transtornos do espectro autista e transtorno global do desenvolvimento. Todavia, ele questiona o valor que será empregado na construção do clube hípico.
“Não entro no mérito do clube hípico em si. Volta Redonda já desenvolveu certa tradição no esporte e no atendimento a pessoas autistas e aos alunos da rede pública. Investimento em esporte deve ir além do que é popular, e o poder público precisa também apoiar novas modalidades. O acesso a diferentes esportes deve ser louvável e não criticável. Meu questionamento é sobre o tamanho da estrutura do local, que conta com 80 baias. Esses R$ 18 milhões representam um investimento muito alto”, ressalta Raone.
O vereador também levanta dúvidas sobre a capacidade do poder público de manter o local: “Será que a prefeitura terá condições de sustentar essa infraestrutura? Há demanda suficiente para justificar essa obra? Será que o espaço será entregue à iniciativa privada? Temos inúmeras obras na cidade inacabadas, escolas com reformas intermináveis e outras sem nenhum suporte”, questiona.
“Eu realmente me preocupo com a manutenção da cidade. Construir uma obra é um investimento único, mas mantê-la é o verdadeiro desafio. O governo já demonstrou abandono em relação a inúmeras quadras, ginásios e outros equipamentos públicos. Não dá para confiar”, completa o vereador.
Além disso, Raone defende que a prefeitura cumpra as emendas feitas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e valorize o orçamento participativo, permitindo que a população indique quais investimentos e obras são prioritários para a cidade.
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