Prefeitura prepara reforma e ampliação do crematório do Cemitério do Retiro, enquanto problemas ambientais seguem sem solução

Quem aguardava uma solução definitiva para os problemas do Cemitério Municipal Bom Jardim Isidório Ribeiro, conhecido como Cemitério do Retiro, terá que esperar ainda mais. Apesar das críticas e dos alertas de especialistas sobre os riscos ambientais e sanitários do local, a prefeitura de Volta Redonda, por ora, concentra seus esforços apenas em obras de reforma e ampliação do crematório, sem previsão para medidas que enfrentem os graves problemas estruturais e ambientais do cemitério.

O crematório, que é uma instalação onde os corpos são incinerados, tem como objetivo oferecer uma alternativa ao sepultamento, com a expectativa de realizar até quatro cremações diárias. Em Volta Redonda, a média é de 12 sepultamentos por dia, sendo que nem todos são destinados ao Cemitério do Retiro.

A empresa Marcos Otavio Campos Engenharia foi a vencedora da concorrência eletrônica e será responsável pela obra no único cemitério público da cidade. A homologação do contrato foi publicada em 13 de março, e o valor da intervenção será de R$ 545 mil. O prazo de execução é de seis meses, contados a partir da emissão da Ordem de Serviço pelo município, após o cumprimento das exigências legais e contratuais.

Situação crítica exposta por especialistas

Em janeiro deste ano, a Folha do Aço publicou uma reportagem denunciando o estado alarmante do Cemitério do Retiro, destacando riscos à saúde pública e ao meio ambiente. A perita judicial Gisele Penido, especialista em áreas contaminadas, visitou o local e apontou problemas graves.

“A situação mostra claramente os riscos a que estamos expostos devido a esse problema ambiental. É preocupante, é inaceitável! Nosso meio ambiente e nossa saúde merecem atenção e cuidado imediato”, declarou Gisele em um vídeo divulgado pela empresa Eckoslife Soluções Ambientais.

Entre as principais irregularidades identificadas, estão sepulturas abertas e a presença de vegetação contaminante, resultado do crescimento de plantas em solo impregnado por necrochorume – um líquido altamente tóxico proveniente da decomposição dos corpos. Essa substância pode causar doenças graves, como hepatite, cólera, leptospirose, infecções gastrointestinais e dermatites.

Outro problema crítico é o risco de infiltração do necrochorume nos lençóis freáticos, contaminando fontes de água utilizadas pela população. “Se alguém estiver consumindo água de um poço clandestino na região, essa família pode estar correndo sérios riscos à saúde”, alertou a especialista. Além disso, o acúmulo de água parada em vasos e túmulos mal conservados favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.

Descaso da gestão pública

Os problemas no Cemitério do Retiro não são recentes. Segundo Gisele Penido, a situação se agravou no último ano, evidenciando a negligência da administração municipal. “Um ano se passou e nada mudou. Na verdade, piorou. Isso mostra que a gestão pública não se importa muito”, criticou a especialista.

Diante do cenário preocupante, Gisele defendeu uma intervenção urgente do Ministério Público para obrigar a Prefeitura a adotar medidas efetivas, como a descontaminação do solo e o tratamento adequado do necrochorume. “Quando uma família não tem condições financeiras de manter uma sepultura, o poder público precisa intervir. Esse é um dever do Estado”, enfatizou.

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