Baixa cobertura vacinal acende alerta em Volta Redonda

Em 2023, menos de 20% da população brasileira vivia em municípios que cumpriram a meta de vacinação contra poliomielite. Na década de 2001 a 2010, esse índice variava entre 60% e 75%. Já a cobertura da vacina BCG caiu significativamente a partir de 2019: apenas três estados atingiram a meta, enquanto onze registraram índices abaixo de 80%.

O município de Volta Redonda segue a tendência nacional de queda na vacinação infantil e acende um alerta para o risco de reintrodução de doenças já controladas. Dados de 2025 mostram que o município está longe de alcançar as metas do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para a maioria das vacinas aplicadas em crianças de até 1 ano de idade

Embora a vacinação ao nascer apresente bons índices, como a BCG (98,63%) e a Hepatite B nas primeiras 24 horas de vida (96,35%), os números caem drasticamente nos meses seguintes. A cobertura da vacina contra febre amarela é de apenas 63,40%. A tríplice viral (2ª dose), fundamental para prevenir sarampo, caxumba e rubéola, chega a 60,09%.

Já a vacina contra varicela alcança apenas 59,75%, e a imunização infantil contra a Covid-19 é praticamente inexistente: apenas 0,46% das crianças foram vacinadas. Segundo a pediatra Amanda Ramos Neves, esse cenário é resultado de múltiplos fatores.

“A hesitação vacinal vem crescendo nos últimos anos, influenciada por notícias falsas, medo e falta de confiança nos sistemas de saúde. A pandemia de Covid-19 agravou ainda mais a situação, criando um ambiente de desinformação e insegurança”, explica.

Anuário VacinaBR

A realidade de Volta Redonda reflete o que aponta o Anuário VacinaBR 2025, elaborado pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o UNICEF. O estudo mostra que a queda na cobertura vacinal infantil é contínua desde 2015 e que nenhuma vacina do calendário infantil atingiu a meta nacional de 95% em todos os estados brasileiros em 2023. Em alguns casos, o abandono vacinal, quando pais iniciam o esquema de vacinação, mas não completam as doses, ultrapassa 50%.

“Vacinas como a tríplice viral e a pentavalente exigem mais de uma dose para oferecer proteção completa. Quando a segunda dose não é aplicada, a criança permanece vulnerável”, alerta Amanda. “Essa baixa cobertura abre caminho para a volta de doenças já controladas, como sarampo e poliomielite, além de aumentar a desigualdade social e os riscos à saúde coletiva.”

O Anuário também aponta disparidades entre municípios: menos de um terço das cidades brasileiras atingiu a meta de cobertura vacinal para os quatro principais imunizantes aplicados em crianças menores de 1 ano.

Para reverter esse quadro, a pediatra defende informação de qualidade, campanhas educativas e ampliação do acesso. “Levar as vacinas até a população, em locais como escolas, igrejas e espaços públicos, com horários flexíveis, pode fazer toda a diferença. Precisamos também de engajamento comunitário e políticas públicas firmes e baseadas em evidências”, sugere.

No cenário local, a pediatra reforça a urgência. “Vacinar é um ato de amor, de responsabilidade e de proteção coletiva. Se houver dúvidas, procure o serviço de saúde e regularize a caderneta. Precisamos garantir que todas as nossas crianças estejam protegidas.”

Nota da redação: A secretaria municipal de Comunicação (Secom) da prefeitura de Volta Redonda foi procurada pela reportagem da Folha do Aço na tarde de quinta-feira (dia 31), para se pronunciar sobre essa situação, mas não retornou até o fechamento desta edição.

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