Trinta e dois anos depois da privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Volta Redonda ainda convive com um impasse que atravessa décadas: o destino de áreas sociais, esportivas e de lazer que pertencem ao grupo controlado pelo empresário Benjamin Steinbruch. Desde 1993, quando assumiu a siderúrgica,
Steinbruch manteve sob sua tutela clubes sociais, campos de futebol, parques naturais, fazendas e terrenos diversos na cidade do Sul Fluminense.
A maioria desses espaços permanece fechada, sem perspectivas de reabertura, apesar de propostas de compra e de tentativas de negociação. O caso mais emblemático é o do complexo do Recreio do Trabalhador, na Vila Santa Cecília, cujo valor ultrapassa R$ 56 milhões em proposta feita pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Steinbruch recusou.
Ao longo dos anos, circularam informações de que a CSN estudava aproveitar essas áreas para novos empreendimentos, shopping centers, condomínios residenciais e outros projetos. Nada, porém, saiu do papel.
O paralelo com São Paulo
Curiosamente, um projeto semelhante foi apresentado por Steinbruch em outra frente: o Jockey Club de São Paulo. Entre 2017 e 2024, o empresário presidiu a instituição, fundada em 1875, e tentou viabilizar um plano para evitar a desapropriação do espaço pela Prefeitura paulistana, que figura como um dos principais credores.
A proposta previa a construção de apartamentos de alto padrão, lojas de luxo e a criação de um parque público na área de 586 mil m² da Marginal Pinheiros. O plano, contudo, dependia de aval da Câmara Municipal de São Paulo e nunca avançou.
Agora, o Jockey atravessa uma de suas maiores crises. Aos 150 anos, amarga perda de prestígio, menos de 300 sócios ativos e dívidas milionárias. Em agosto, a Prefeitura de São Paulo abriu investigação por suspeita de desvio de recursos destinados a obras de restauração. O passivo declarado é de R$ 19 milhões, mas o município cobra mais de R$ 800 milhões em IPTU atrasado, valor contestado pela entidade.
Na semana passada, o juiz Jomar Juarez Amorim, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, aceitou o pedido de recuperação judicial feito em março. A associação terá 60 dias para apresentar um plano que evite a falência. A consultoria AJ Ruiz, representada pela advogada Joice Ruiz, foi nomeada administradora judicial.
Recuperação inédita
O caso é relevante também no campo jurídico: apesar de ser uma associação sem fins lucrativos, o Jockey conseguiu ingressar no regime de recuperação judicial, tradicionalmente reservado a empresas. O magistrado entendeu que o clube exerce atividades econômicas empresariais, como locação de espaços para eventos e prestação de serviços, o que o torna “agente econômico gerador de riqueza”.
A decisão abre espaço para que, em última instância, o terreno seja vendido como uma unidade produtiva isolada (UPI), sem transferir dívidas ao comprador, desde que aprovado pelos credores.
As voltas do mundo
Seja em Volta Redonda ou na capital paulista, Steinbruch aparece como protagonista de histórias que se cruzam: projetos urbanísticos ambiciosos, resistência a negociações e patrimônio de alto valor parado no tempo. Em Volta Redonda, a cidade aguarda definição sobre áreas que poderiam ter uso social. Em São Paulo, o destino de um dos símbolos da elite paulistana dependerá de uma recuperação judicial inédita.
Enquanto isso, permanece a sensação de que o mundo dá voltas, e que os caminhos de Benjamin Steinbruch e seus projetos ainda podem surpreender.