Com a presença de um forte aparato das forças de segurança pública, cerca de 850 famílias da “Ocupação pela Paz” foram retiradas da área de 60 hectares que ocupavam no assentamento entre os bairros Jardim Belmonte e Santa Rosa, na região limítrofe entre Volta Redonda e Barra Mansa. A intervenção aconteceu nas primeiras horas da manhã de quinta-feira (dia 27).

A reintegração de posse foi determinada pela juíza da 3ª Vara Cível de Barra Mansa, Flávia de Melo Balieiro Diniz, a partir do pedido da empresa Mape Incorporações e Empreendimentos, atual proprietária do imóvel que um dia abrigou a fábrica da Cimento Tupi. O movimento que luta para conseguir moradias dignas para pessoas desabrigadas foi pego de surpresa com a operação.

Apesar de ter ocorrido sem confrontos, a ação mobilizou a Tropa de Choque da PM, além de policiais de diversos batalhões e de delegacias da região. “Foi utilizado um efetivo de 150 policiais militares. O 28º BPM foi apoiado pelo 33º BPM (Angra dos Reis), 10º BPM (Barra do Piraí) e 37º BPM (Resende)”, afirmou a tenente-coronel Andréia Campos, responsável pelo batalhão da Cidade do Aço.

O Defensor Público do Segundo Núcleo de Tutela Coletiva Regional, João Hélvecio de Carvalho, acompanhou todos os passos da desocupação. Para o órgão, que protocolou diversos recursos para impedir a retirada das famílias, “a reintegração de posse durante o período de estado de calamidade e de estado de emergência em saúde pública ocasionados pela pandemia de Covid-19 viola os atos normativos emitidos em todas as esferas federativas e vai na contramão das práticas recomendadas pelos órgãos públicos (nacionais e internacionais) com a finalidade de evitar ou retardar ao máximo o contágio da população e o colapso do já combalido Sistema Único de Saúde”.

Grande parte das famílias da “Ocupação pela Paz” se tornaram ainda mais economicamente vulneráveis após o começo da pandemia da Covid-19. Muitas dessas pessoas perderam os empregos e com isso a capacidade financeira de arcar com despesas como aluguel. De acordo com estimativas de lideranças do movimento, o assentamento contava com pouco mais de três mil pessoas.

Revolta e tristeza

O clima no assentamento era de tristeza e revolta. Enquanto alguns barracos na parte alta da ocupação eram retirados, famílias choravam e removiam seus poucos pertences, como cobertores e colchões. Um caminhão de frete ajudava na árdua tarefa de retirar bens do local, que desde janeiro deste ano servia de abrigo.

“Não tenho para onde ir. É um sonho ter um abrigo para minha família”, disse uma moradora. Seguindo orientação da Defensoria Pública, a prefeitura de Volta Redonda enviou servidores da secretaria de Ação Comunitária (Smac) para cadastrar as famílias desabrigadas.

A administração municipal informou que a partir de agora, as famílias desalojadas, que sejam de Volta Redonda, podem procurar os Centros de Referência à Assistência Social (Cras) das regiões próximas. “No Cras, poderão fazer inscrições para serem beneficiadas com programas sociais diversos e a inscrição no cadastro imobiliário municipal”, reforça o comunicado.

Famílias montam acampamento na porta do Palácio 17 de Julho

Assim como no dia 20 de maio, às famílias da ocupação protestaram em frente à sede da prefeitura de Volta Redonda na tarde de quinta-feira. No entendimento do movimento, o prefeito Neto (DEM) deveria cumprir uma das promessas feitas ainda no seu quarto mandato (2012 – 2016) e fornecer moradia digna aos desabrigados.

Munidos de cartazes, apitos e faixas, os manifestantes tentaram ser recebidos pelo chefe do Palácio 17 de Julho, mas não tiveram sucesso. Como forma de sensibilizar o governo, lideranças do movimento definiram pela montagem de um acampamento na Praça Sávio Gama. A ideia é manter as barracas na porta da sede da administração municipal por pelo menos uma semana.

Toda a manifestação foi acompanhada por agentes da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Até o fechamento desta edição não havia sido registrado nenhum confronto.

Na tentativa de entrar em contato com o prefeito Neto, famílias se instalaram em frente ao Palácio 17 de Julho.

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