Foram quase dois anos de uso obrigatório da máscara de proteção contra a Covid-19 no mundo todo. No Brasil, pelo menos 17 estados já dispensaram o acessório em ambientes abertos e fechados. A recomendação, porém, continua válida para pessoas imunossuprimidas, com comorbidades de alto risco, não vacinadas ou com sintomas gripais.
Entretanto, mesmo diante da flexibilização do uso de máscaras, especialistas acreditam que a pandemia de Covid-19 deixará a proteção facial como um legado para muitas pessoas, que seguem utilizando o acessório, mesmo com o fim da exigência. Rosani Torres é uma dessas pessoas. Ainda desacreditada sobre o fim da pandemia, a dona de casa continua mantendo o hábito de sair com o acessório no rosto e outro na bolsa, para uma eventual necessidade de troca.
“Virou costume, mas acho que cuidado nunca é demais. Eu vou continuar usando e me protegendo até me sentir segura outra vez e ter a certeza de que acabou mesmo”, relata Rosani, que não é um caso isolado.
Para o pneumologista e professor do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Gilmar Zonzin, a atitude dela ainda é a mais adequada. “Continuamos com o vírus circulando. Então, para a pessoa de grupo de risco, mais vulnerável, seria interessante manter o uso de máscara, não em domicílio, mas talvez em reuniões pequenas, quando for para uma aglomeração ou um local de maior risco como, por exemplo, uma celebração ou culto religioso. Isso seria algo coerente, em termos de preocupação com a existência no nosso meio do vírus da SARS-CoV-2. A medida vai funcionar para reduzir essa transmissibilidade potencial do vírus que ainda existe, além de reduzir risco de mutações que poderiam surgir da transmissão acelerada”, explicou.
O médico ainda alerta. “A gente não pode se esquecer que não tem um domínio, um controle, sobre a progressão da pandemia da Covid-19. Temos dados que sugerem fortemente que o conjunto vacinas mais imunidade natural adquirida pelas pessoas que se infectaram estejam mitigando a pandemia e levando a gente para o estágio de endemia”, relata o pneumologista, ressaltando que o uso da máscara durante o pico da pandemia ajudou a segurar a incidência de outras doenças respiratórias.
E, se depender de parte da população, o especialista pode se tranquilizar. Mesmo após duas semanas do fim da exigência em Volta Redonda, ainda é comum ver nos shoppings, mercados e ruas da cidade a maioria das pessoas com o acessório no rosto. “Tenho medo de sair sem e levar bronca”, diz uma jovem já desacostumada a sair com o rosto ‘descoberto’.
Em Barra Mansa não é diferente. O município desobrigou o uso do acessório em 10 de março, mas, até hoje, o número de jovens, adultos e, principalmente, idosos nas ruas com máscaras é notoriamente maior que o de pessoas sem o acessório.
Mudança de hábito
Para a psicóloga Rubianara Cabral, o hábito adotado como prevenção à doença se mostrou tão eficiente, que muitos ainda defendem a manutenção da medida, mesmo na fase pós-pandemia.
“A pandemia nos trouxe várias mudanças, entre elas a obrigatoriedade do uso de máscaras. E agora, nesse novo momento de pós-vacina e com controle maior nas contaminações, ainda percebemos o receio por parte de algumas pessoas diante dessa nova realidade. A doença, embora não tenha grande poder de letalidade, tem grande poder de contaminação. Então, em todos os estágios da pandemia até o momento da vacina, tivemos que lidar com o desconhecido, com vacinas sendo desenvolvidas em estudos de urgência para atender toda a população do mundo, com as restrições, com situações de pessoas perdendo seus familiares. Por isso, percebe-se muita gente usando máscara e isso pode sim estar ligado ao medo, à insegurança. É uma adaptação a esse novo momento”, explica a psicóloga.
Ainda de acordo com Rubianara, ao longo da pandemia, pessoas que já tinham pré-disposição ou já estavam com doenças psiquiátricas instaladas como depressão ou ansiedade, acabaram tendo crises ou percebendo os sintomas acentuados. “Essas pessoas acabam desenvolvendo um medo maior, optando pela reclusão, tendo dificuldade para sair e acabam não conseguindo elaborar ou entender esse novo momento que estamos vivendo pós-pandemia, de voltar à vida normal. É um processo”.
Flexibilização
No começo de março, por meio de decreto, o Governo do Estado decidiu permitir que os municípios flexibilizassem, ou não, o uso de máscara com base nos índices epidemiológicos de cada região. Desde então, 21 prefeituras fluminenses liberaram o uso do acessório em áreas abertas e fechadas: Angra dos Reis, Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paraty, Paty do Alferes, Paulo de Frontin, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Três Rios, Valença, Vassouras e Volta Redonda.
Cabe ressaltar, no entanto, que há algumas exceções específicas em cada município, assim como em Barra Mansa e Volta Redonda, conforme o quadro a seguir:
Após a liberação, índices apresentam estabilidade
Em Barra Mansa, de acordo com a secretaria de Comunicação da Prefeitura, não houve variação nos índices de contaminação após a liberação do uso de máscaras. Segundo a secretaria de Saúde do município, os números continuam baixos. Há apenas dois casos suspeitos hospitalizados e nenhuma internação confirmada por Covid neste momento.
Com relação a Volta Redonda, a Folha do Aço não teve retorno da secretaria de Comunicação Social sobre variações nos números desde que se tornou facultativo o uso das máscaras. Porém, conforme o Boletim Epidemiológico da secretaria Municipal de Saúde, a taxa de ocupação em leitos clínicos da rede pública está em 0% e 5% em Unidades de Terapia Intensiva. Já na rede privada, há 5% de ocupação dos leitos clínicos e 3% em UTI’s.
O Brasil voltou a ficar com a média móvel de mortes por Covid-19 abaixo de 300. Só na última quarta-feira (dia 23), foram registrados 294 novos registros de óbitos pela doença no país. De acordo com o Ministério da Saúde, 75% da população brasileira está totalmente vacinada. Portanto, ainda há milhões de pessoas sem o esquema vacinal completo no país.