Há alguns anos, o movimento antivacinas ou antivax conquista cada vez mais espaço nos debates. Apenas como exemplo, antes referência em imunização, o Brasil perdeu o título de país livre do sarampo em 2019 com a queda da cobertura vacinal em 20% e a volta da doença.
Recentemente, a Unicef fez um alerta: em apenas três anos, a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1) no país caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49%, em 2021. Além da Tríplice Viral, a cobertura da vacinação contra a poliomielite reduziu de 84,2% (em 2019) para 67,7% (em 2021). Significa que três em cada dez crianças no país não receberam vacinas necessárias para protegê-las de doenças potencialmente fatais.
A situação não é diferente com a imunização contra a Covid-19, que já vitimou quase 700 mil pessoas no Brasil. No estado do Rio de Janeiro, 60% das crianças com idade entre 5 e 11 anos tomaram a primeira dose e 38% se imunizaram com a segunda dose. A diferença é de mais de 300 mil crianças.
A boa notícia é que Volta Redonda e Barra Mansa parecem caminhar na contramão, e 75% das crianças já se vacinaram com pelo menos uma dose. Em campanha de multivacinação, a prefeitura do município comandado por Rodrigo Drable (PROS) informou que, entre as crianças de 3 a 11 anos, a secretaria municipal de Saúde vacinou 10.907 contra o coronavírus. O número representa 75% de cobertura vacinal deste público contra a doença.
Na Cidade do Aço, o Palácio 17 de Julho informa o mesmo percentual. “A secretaria municipal de Saúde informa que a vacinação contra a Covid-19 nas crianças acima de 5 anos atingiu 75% e em menores de 5 anos, 17% até o momento”, afirma o governo.
Os dois municípios do Sul Fluminense não informaram se a cobertura refere-se apenas a primeira dose. No entanto, segundo o site do governo do Estado, até o dia 14 de agosto, 68% (14.972) das crianças de 5 a 11 anos receberam uma dose e 43% (9.480) a segunda dose de um dos imunizantes oferecidos para a faixa etária, registrando uma diferença de mais de 5 mil crianças.
Em Barra Mansa, ainda conforme o Estado, 10.227 crianças estão com a primeira dose e 7.310 completaram o esquema vacinal com a segunda imunização, num percentual de 65% e 46%, respectivamente. A diferença entre o informado pelas prefeituras e o apresentado no portal do governo estadual pode estar relacionada às atualizações feitas pelas secretarias de Saúde.
Receio
Apesar dos índices acima do obtido no Estado, ainda há muitos pais receosos com a vacina. Muitos deles impactados por notícias falsas ou alarmantes quanto às reações aos imunizantes.
“Eu não vacinei meu filho e ainda não pretendo. Apesar de ter vacinado, não me sinto segura com as informações que tenho. É tanta coisa que a gente lê. Além disso, a pediatra dele não me orientou para aplicar o imunizante. Já fui chamada de negacionista, mas tenho medo de dar alguma reação”, explicou uma moradora do Jardim Tiradentes, que pediu para não ser identificada.
No país, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, entre os dias 9 e 10 de agosto, apenas 11 mil crianças foram vacinadas com a primeira dose, totalizando 13,5 milhões (51,14%). A população nessa faixa etária é de 27 milhões.
Já a segunda dose foi aplicada em 12 mil, chegando a 8,7 milhões de imunizados (32,97%. Para crianças de 3 a 5 anos, a vacinação foi liberada em 13 de julho pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ainda não há um recorte estatístico.
Queda na cobertura vacinal acende alerta para pediatras
A pediatra Márcia Dorcelina Trindade Cardoso acredita que o isolamento social provocou o distanciamento entre os profissionais de saúde e as famílias, o que pode ter agravado a redução da cobertura vacinal, inclusive nos casos da imunização contra a Covid-19.
“A pandemia afastou as mães, as crianças e a população dos serviços de saúde, com receio da doença e os próprios serviços que voltaram sua atenção para o atendimento e cuidado do paciente com Covid. E, também, o pediatra que por muito tempo esteve próximo das crianças, mensalmente, orientando, abordando a caderneta da criança nos seus diversos aspectos, em relação à alimentação, ao desenvolvimento, mas também ressaltando a importância de vacinar regularmente’, explicou a médica.
Na análise da professora do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), o Brasil tem um dos programas de imunização mais completos do mundo e, mesmo assim, os índices de imunização vêm caindo.
“Ele contempla mais de 20 vacinas diferentes que protegem desde o bebê, ao nascer, até o nosso idoso. No nosso país, nós atingimos níveis muito bons, acima de 95%, a partir do ano 2000. Isso foi muito importante para a erradicação de algumas doenças. Nos últimos anos essa cobertura vem caindo e atualmente elas estão abaixo de 50%”, disse Márcia Dorcelina. “O que muito nos preocupa, pela saúde individual das nossas crianças e população e também pela saúde do coletivo. Então, quais são as possíveis causas?! A gente precisa investigar o impacto das fake news, de diferentes abordagens e preocupações para a população”, concluiu.