O uso de celulares em sala de aula provoca frequente discussão no cenário educacional. Recentemente, a cidade do Rio de Janeiro regulamentou a proibição por meio de um decreto publicado em Diário Oficial, seguindo a orientação do Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco, que aponta para os possíveis impactos negativos dos dispositivos na aprendizagem.
Conforme a nova medida no Rio, os celulares só serão permitidos para fins pedagógicos e devem permanecer no modo silencioso dentro das mochilas e bolsas dos alunos durante as aulas regulares. O governo municipal acredita que essa medida evita distrações e interrupções, mantendo o foco no aprendizado.
Em Volta Redonda, que tem aproximadamente 32 mil estudantes matriculados na rede pública do município, a abordagem é mais flexível. A cidade já possui legislação que proíbe o uso de celulares em sala de aula, mas reconhece que a tecnologia desempenhou um papel importante durante o período pandêmico, quando os celulares se tornaram aliados nas aulas online.
“A secretaria municipal de Educação, principalmente neste momento em que as escolas estão sendo equipadas com Chromebook, notebooks e aparelhos de televisão, justamente para oportunizar um processo de ensino-aprendizagem mais sólido, dinâmico e eficaz, entende que não seria o momento apropriado para a proibição do uso de celular em sala de aula”, diz a nota enviada à Folha do Aço.
A premissa em Volta Redonda é permitir o uso pedagógico dos celulares conforme a solicitação do professor, enriquecendo o processo educacional com as possibilidades oferecidas pela tecnologia. A administração municipal acredita que disciplinar o uso dos celulares, assim como outras ferramentas educacionais, é essencial para proporcionar uma experiência de aprendizagem mais sólida e dinâmica.
“Assim como ocorre com todas as ferramentas que podem ser úteis ao reforço do ensino, como a calculadora, por exemplo”, acrescenta a SME.
Psicopedagoga comenta benefícios da restrição
A discussão sobre o uso de celulares em sala de aula continua evoluindo, com diferentes abordagens e argumentos. Enquanto algumas cidades optam por uma proibição mais rígida, outras, como Volta Redonda, buscam equilibrar a tecnologia com o processo educacional.
Especialista no assunto, a psicopedagoga Leondina Zanut (na foto ao lado) é categórica ao enfatizar a importância de se proibir o uso desses dispositivos durante o aprendizado. Como profissional dedicada ao desenvolvimento dos alunos, a especialista expressa com firmeza sua posição contrária ao uso de celulares em sala de aula, enfatizando que tais dispositivos eletrônicos devem ser empregados apenas por pacientes que requerem ajustes no aprendizado ou atendimento especializado.
“Como profissional, sou rigorosamente contra o uso de celular em sala de aula. O primeiro comprometimento é a falta de atenção, a criança perde o aprendizado para entrar no campo de abstração. E isso já gera um grande prejuízo acadêmico”, enfatiza. “Quando falamos em aprendizado queremos dizer que um aparelho eletrônico interrompe conexões importantes de sinapses que interligam áreas importantes do cérebro, como frontal, audição e visão. Todos esses lóbulos cerebrais estão comprometidos a partir do momento em que o aluno utiliza led do celular, para de ouvir o professor para dar atenção à luz de um aparelho eletrônico que é bem chamativo para o cérebro”.
A profissional ainda enumera outros conflitos causados pelo uso indiscriminado de celulares nas escolas. “Mensagens entre os próprios colegas em sala de aula fazendo com que a turma toda se disperse, filmagens indevidas, uso de imagem de colega de forma inapropriada ou ofensiva, gravação de fala do professor com uso de forma completamente deturpada e divulgada em redes sociais, etc”.
Leondina lembra de um episódio recente em que visitou uma escola e constatou um alto percentual de alunos isolados, absortos em seus celulares durante o recreio.
“Justamente na hora do recreio, quando é comum ver as crianças na gritaria e correria, mais de 60% delas estavam sozinhas, com celulares nas mãos e sem interação social necessária para a idade. Ou seja, até nisso há perda. O aluno, ao invés de estar batendo papo, conversando, curtindo suas ideias, está em tela, em redes sociais ou jogando. Fiquei feliz com a sanção desta lei, já tinha passado da hora de ser rigorosamente proibido o uso de celular em sala de aula”, concluiu.