Uma negociação com quatro partes envolvidas agitou Volta Redonda nos últimos dias. O governo do estado abriu diálogo com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para assumir o Escritório Central e o complexo do Recreio do Trabalhador, ambos na Vila Santa Cecília. O primeiro passaria a ser administrado pela Prefeitura e o outro em uma parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc). O custo total do acordo ultrapassaria a R$ 116 milhões.
Uma das propostas cogitadas pelo governador Cláudio Castro (PL) para abater o valor final da transação é a utilização de dívidas da empresa junto ao Estado. O assunto foi debatido em reunião realizada na quarta-feira (dia 4), no Hotel Bela Vista, em Volta Redonda.
“Agora é diferente: não é o Município que vai comprar, será o Estado”, afirmou o prefeito Neto (PP), fazendo uma comparação entre o modelo atual de negócios proposto e o apresentado anteriormente pelo seu desafeto político, o ex-prefeito Samuca Silva.
Havia a expectativa de um encontro do governador com o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, o que acabou não acontecendo, mesmo com Castro cumprindo agenda por três dias seguidos em Volta Redonda e demais cidades da região. Para compensar o “desencontro”, eles conversaram por telefone.
O bate-papo foi intermediado por dois pesos pesados da política nacional: o ex-ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e o ex-governador de Goiás Marconi Perillo. Ambos atualmente trabalham na empresa.
Universidade pública de Medicina
Parte interessada no negócio, o prefeito Neto está disposto a abdicar da receita anual da arrecadação do valor referente ao IPTU do Escritório Central, calculado em aproximadamente R$ 500 mil. O chefe do Executivo projeta a construção de três lances de estacionamento, com 350 vagas.
A ideia é utilizar estrutura metálica para acelerar o processo e evitar danos à estrutura do imóvel de 16 andares. O modelo foi apresentado à direção da CSN na reunião da última quarta-feira. A previsão é que o primeiro andar receba um shopping e nas demais uma universidade pública e órgãos públicos. “O meu sonho é ter uma universidade pública de medicina em Volta Redonda”, disse. “Vai ser um gol de placa”, completou.
Na época em que o governo Samuca noticiou a intenção de compra, a pedido da Folha do Aço, um empresário do setor imobiliário analisou que um prédio com a estrutura do Escritório Central poderia custar mais de R$ 110 milhões. O projeto do ex-gestor era transformar o edifício em um Centro Estratégico Municipal, reunindo departamentos da Prefeitura, órgãos públicos e empresas interessadas em se instalar em Volta Redonda, além de um centro de tecnologia e incubadora de empresas.
Inaugurado em abril de 1966 durante as comemorações do Jubileu de Prata da empresa, o espaço possui dois auditórios, escadas rolantes, cinco elevadores, cozinha, banheiros, cantina, refeitório, ar condicionado central, garagem subterrânea e até um heliporto. Em outros períodos, mais de cinco mil funcionários da CSN trabalhavam naquele imóvel.
Proposta do Sesc
Na semana passada, o site Foco Regional revelou que no último mês de maio, o Sesc encaminhou ofício com uma proposta de compra do Recreio do Trabalhador, no valor de R$ 56 milhões. O documento foi assinado por Antonio Florencio de Queiroz Junior, da administração regional da entidade.
Uma das mais tradicionais áreas de esporte e lazer de Volta Redonda, o Recreio foi fechado ao público de forma definitiva no dia 12 de junho de 2020. Mantenedora do espaço, a Fundação CSN, na época, justificou que a decisão foi tomada em razão da pandemia.
Antes disso, em 16 de março daquele mesmo ano, quando decretos dos governos estadual e municipal restringiram a aglomeração de pessoas, as catracas do complexo foram fechadas aos associados. A direção CSN, inclusive, já demonstrava desconforto com o fato de o clube vir perdendo sócios, tendo seu quadro reduzido em 85% nos últimos anos, o que inviabiliza a arrecadação e recursos para a sua manutenção. Esse contexto foi agravado com a pandemia, quando aumentou significativamente a saída de sócios e cursistas.
Com o encerramento das atividades do Recreio, todos os funcionários foram dispensados, incluindo, educadores físicos, vigilantes e outros profissionais. Inaugurado em 1954, o Recreio do Trabalhador contava com uma estrutura composta por um ginásio poliesportivo, quadras de tênis, campo de futebol, pista de atletismo e um complexo de piscinas, hoje em total estado de abandono.
Foto: arquivo
Sempre uma ajudinha estatal para socorrer empresário amigo. Mais um sumidouro de dinheiro público para encher o bolso de políticos as costas dos pagadores de impostos..