O prefeito de Volta Redonda, Neto (PP), tentou reduzir a tensão política gerada após o forte bate-boca com a vereadora Gisele Klingler (PSB), ocorrido na quarta-feira (dia 8), durante reunião no Palácio 17 de Julho, sede do governo municipal. O episódio levou a parlamentar a registrar um boletim de ocorrência na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) por violência política de gênero e violência psicológica, depois de ter sido verbalmente agredida pelo prefeito durante a discussão sobre a redução dos salários dos médicos da Atenção Básica.
Na manhã de quinta-feira (dia 9), em entrevista ao programa Dário de Paula, Neto procurou se justificar e classificou o episódio como um “caso político”. O prefeito pediu desculpas públicas aos vereadores e, em especial, à vereadora Gisele.
“Eu quero aproveitar essa oportunidade, porque virou até um caso político. Ontem [quinta-feira] eu vi um ex-candidato a prefeito se pronunciando. Virou, de fato, uma questão política. A atuação dos vereadores é digna de aplausos. Quero pedir desculpas, em especial, à vereadora Gisele. No final, acabou sendo uma questão muito política. Eu não gostaria de estar diminuindo o salário do médico. Pelo contrário, a gente tem que valorizar muito”, declarou.
O ex-candidato mencionado por Neto é o empresário Mauro Campos, que concorreu à prefeitura de Volta Redonda em 2024 pelo Partido Novo, ficando em segundo lugar, com 20.386 votos.
Crise nas contas e corte nos salários dos médicos
O corte salarial que originou a polêmica foi defendido por Neto como uma medida de ajuste necessária para evitar o colapso financeiro do município. Segundo ele, o pagamento dos médicos da Atenção Básica cairá de R$ 20 mil para R$ 15 mil, ainda um dos maiores salários do Estado, de acordo com o prefeito.
“O meu salário é de R$ 17.200. Eu estou passando os médicos da Saúde Básica para R$ 15 mil. Pouquíssimos municípios pagam isso. Eu gostaria de continuar pagando R$ 20 mil, até porque o trabalho deles é de excelência. Mas a minha receita caiu muito. Infelizmente, a gente está com dificuldade”, afirmou.
Neto disse que a folha de pagamento e as despesas gerais da administração municipal cresceram de cerca de R$ 40 milhões para R$ 75 milhões por mês, o que forçou medidas de contenção. Ele acrescentou que a Prefeitura registrou déficit de R$ 38 milhões no mês passado, mesmo com repasses emergenciais de R$ 10 milhões provenientes do Decreto de Calamidade Pública na Saúde.
Repasses estaduais e dependência financeira
O prefeito voltou a mencionar a parceria com o governador Cláudio Castro (PP) e o deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ), de quem espera novo apoio financeiro. Segundo Neto, o estado de calamidade decretado há três meses termina no fim de outubro, e a Prefeitura pretende renovar o decreto, dependendo de um novo aporte estadual de cerca de R$ 40 milhões.
“Nós conseguimos com a ajuda do meu governador, Cláudio Castro, e do doutor Luizinho, R$ 40 milhões. Ontem eu mandei uma mensagem para a Câmara para tentar novamente mais R$ 40 milhões. É muito importante para Volta Redonda esse recurso. Se o governo do Estado assim entender, e a gente conta com essa ajuda, poderemos manter os serviços em funcionamento”, afirmou.
Neto admitiu que o Estado também enfrenta dificuldades para cumprir os repasses, citando como exemplo obras e unidades municipais com pendências financeiras. “Mesmo quando a gente não consegue o repasse, o poder público tem cumprido. Todas as licitações têm mais de 40 empresas, porque estamos pagando em dia”, disse.
“Não quero que vire uma questão política”
Durante a entrevista, o prefeito Neto insistiu na tese de que o episódio com a vereadora está sendo usado politicamente por adversários. Ele citou nominalmente o empresário Mauro Campos, seu ex-adversário na disputa municipal, e reiterou que pretende “esquecer o episódio”.
“O episódio é uma questão muito política. Estão querendo passar para outro lado. Eu sou uma pessoa muito respeitosa. Falam que [Gisele] é uma pessoa de bem, eu acredito. Vou esquecer o episódio. Não tenho nada contra ninguém. Oposição é oposição”, afirmou.
O prefeito também elogiou a atuação da Câmara e da secretária municipal de Saúde, Márcia Cury, que, segundo ele, tem buscado alternativas para evitar o corte.
“Eu economizo [com a redução de 25% no salário dos médicos da Atenção Básica] quase R$ 500 mil por mês. Gostaria muito de não precisar fazer o que estou fazendo. Aceito sugestões, estou disposto ao diálogo”, disse.
Calamidade na Saúde e temor de colapso
Neto afirmou que sua principal preocupação é evitar que Volta Redonda enfrente uma crise semelhante à ocorrida em gestões passadas, quando houve atraso de salários e acúmulo de dívidas com fornecedores.
“Não quero que aconteça comigo o que aconteceu com o ex-prefeito [Samuca Silva], de ficar três meses sem pagar salário. Não quero dever R$ 250 milhões para fornecedor, R$ 50 milhões para a Light, R$ 50 milhões de precatórios. Estou sendo precavido”, afirmou.
Atualmente, o município de Volta Redonda está sob estado de calamidade financeira na Saúde, cujo prazo de 120 dias encerra no fim deste mês. A Prefeitura espera estender o decreto, o que dependerá da liberação de novos recursos do governo estadual, estimados em R$ 40 milhões.